São Paulo, sábado, 29 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Instrumento traduz tristeza do tango

Sonoridade oscilante do bandoneon identifica-se com a melancolia e o refinamento do gênero nascido no Rio da Prata

Bandoneon não deve ser confundido com o acordeão; o primeiro tem um conjunto de botões para cada mão, em vez de teclado cromático

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BUENOS AIRES

O alemão Carl Friedrich Uhlig (1789-1874) concebeu o primeiro bandoneon por volta de 1830, para substituir o órgão nos ofícios religiosos, funerais e procissões. Mais tarde, o professor de música e luthier Heinrich Band (1805-1888), natural de Krefeld, Alemanha, modificou o instrumento original e passou a fabricá-lo para fins comerciais.
O nome bandoneon vem do sobrenome Band e de Band-Union, empresa responsável pela comercialização dos primeiros exemplares. Sua época de ouro teve início em 1864, quando Alfred Arnold começou a fabricar os melhores instrumentos. De lá saíram os célebres "A.A.", conhecidos na Argentina como "Doble A". Seu filho, Arno Arnold, fundou em 1950 a Arno Arnold Bandonion Fabrik, na Alemanha.
Hoje, o bandoneon é fabricado em pequena escala na Alemanha, Itália e Bélgica, mas a produção atual ainda não atingiu a qualidade da antiga, para especialistas.
O instrumento chegou à Argentina por volta de 1870, trazido por imigrantes alemães. No começo do século 20, o país já era o principal importador e chegou a adquirir cerca de 60 mil unidades até 1950.
Às margens do Prata, sua sonoridade ambígua e escorregadia se identificou com a tristeza melódica do tango. Assim como o trompete combina com a marcha e a cerimônia. Ao emitir sua voz oscilante, o bandoneon se casa perfeitamente com o tango, a música nascida nos prostíbulos de Buenos Aires que é uma mistura refinada de sensualidade, erotismo e melancolia. O instrumento também é utilizado na música folclórica de várias regiões da Argentina, como o chamamé, a chacarera e a zamba.
Assim como o acordeão e a concertina, o bandoneon é composto de placas de linguetas metálicas, chamadas vozes, ligadas por um fole. Neste instrumento, é a sensibilidade do braço que transmite a formação da frase musical.
É executado ao abrir e fechar o fole, fazendo com que o ar passe pelas linguetas correspondentes aos botões que estejam sendo apertados pelos dedos de ambas as mãos. Não deve ser confundido com o acordeão. Ao contrário deste, não dispõe de um teclado cromático, mas de um conjunto de botões para cada mão.
Cada botão produz notas diferentes à medida que o fole é aberto ou fechado. O bandoneon abrange as cinco oitavas do teclado do órgão, de maneira que toda a música escrita para cravo e grande parte das obras para órgão pode ser interpretada pelo instrumento. As fugas de Bach, por exemplo, fazem parte do método de estudo. (ADRIANA MARCOLINI)


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: "Parece um ser humano", diz Federico
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.