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Instrumento traduz tristeza do tango
Sonoridade oscilante do bandoneon identifica-se com a melancolia e o refinamento do gênero nascido no
Rio da Prata
Bandoneon não deve ser confundido com o acordeão; o primeiro tem um conjunto de botões para cada mão,
em vez de teclado cromático
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BUENOS AIRES
O alemão Carl Friedrich
Uhlig (1789-1874) concebeu o
primeiro bandoneon por volta
de 1830, para substituir o órgão
nos ofícios religiosos, funerais e
procissões. Mais tarde, o professor de música e luthier Heinrich Band (1805-1888), natural de Krefeld, Alemanha, modificou o instrumento original
e passou a fabricá-lo para fins
comerciais.
O nome bandoneon vem do
sobrenome Band e de Band-Union, empresa responsável
pela comercialização dos primeiros exemplares. Sua época
de ouro teve início em 1864,
quando Alfred Arnold começou
a fabricar os melhores instrumentos. De lá saíram os célebres "A.A.", conhecidos na Argentina como "Doble A". Seu filho, Arno Arnold, fundou em
1950 a Arno Arnold Bandonion
Fabrik, na Alemanha.
Hoje, o bandoneon é fabricado em pequena escala na Alemanha, Itália e Bélgica, mas a
produção atual ainda não atingiu a qualidade da antiga, para
especialistas.
O instrumento chegou à Argentina por volta de 1870, trazido por imigrantes alemães. No
começo do século 20, o país já
era o principal importador e
chegou a adquirir cerca de 60
mil unidades até 1950.
Às margens do Prata, sua sonoridade ambígua e escorregadia se identificou com a tristeza
melódica do tango. Assim como
o trompete combina com a
marcha e a cerimônia. Ao emitir sua voz oscilante, o bandoneon se casa perfeitamente
com o tango, a música nascida
nos prostíbulos de Buenos Aires que é uma mistura refinada
de sensualidade, erotismo e
melancolia. O instrumento
também é utilizado na música
folclórica de várias regiões da
Argentina, como o chamamé, a
chacarera e a zamba.
Assim como o acordeão e a
concertina, o bandoneon é
composto de placas de linguetas metálicas, chamadas vozes,
ligadas por um fole. Neste instrumento, é a sensibilidade do
braço que transmite a formação da frase musical.
É executado ao abrir e fechar
o fole, fazendo com que o ar
passe pelas linguetas correspondentes aos botões que estejam sendo apertados pelos dedos de ambas as mãos. Não deve ser confundido com o acordeão. Ao contrário deste, não
dispõe de um teclado cromático, mas de um conjunto de botões para cada mão.
Cada botão produz notas diferentes à medida que o fole é
aberto ou fechado. O bandoneon abrange as cinco oitavas
do teclado do órgão, de maneira
que toda a música escrita para
cravo e grande parte das obras
para órgão pode ser interpretada pelo instrumento. As fugas
de Bach, por exemplo, fazem
parte do método de estudo.
(ADRIANA MARCOLINI)
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