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"Parece um ser humano", diz Federico
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM
BUENOS AIRES
O maior bandoneonista vivo
da Argentina chama-se Leopoldo Federico e tem 82 anos. Sua
trajetória artística inclui passagens pelas mais importantes
orquestras de tango do país, como as do pianista Osmar Maderna, Mariano Mores, Hector
Stamponi e Carlos Di Sarli, entre outros. Em 1958 fundou a
sua própria, que está em atividade até hoje.
Leopoldo Federico participou do documentário "Café dos
Maestros", dirigido por Miguel
Kohan, e tocará em outubro,
com o resto do grupo, no teatro
Bourbon Pompeia, em São
Paulo.
(AM)
FOLHA - Como o sr. descreveria o
som do bandoneon?
LEOPOLDO FEDERICO - O bandoneon respira e é um instrumento dotado de um grande mistério. Quando alguém abre esse
fole, parece que está sentindo
um coração bater. O mesmo
instrumento soa de maneira
distinta de acordo com quem o
toca. O meu vai soar diferente
se for tocado por outro músico,
porque ele responde à sensibilidade de quem toca. O bandoneon não é feito de carne e osso
mas parece um ser humano.
FOLHA - Sua forma de interpretar
mudou ao longo do tempo?
FEDERICO - Sim. Pode ser que isso tenha acontecido por causa
da idade, da maturidade. Escuto gravações minhas quando
comecei e observo que agora
toco de uma maneira muito
mais tranquila, sem arrebates.
Quando era jovem, tocava rápido, me movimentava muito.
Agora, naturalmente, toco mais
devagar e quero mais expressar
que demonstrar.
FOLHA - Como foi a experiência de
tocar com Piazzolla?
FEDERICO - Toquei nos últimos
tempos da primeira orquestra
dele, foi uma agrupação formada em 1946. Mais tarde, quando
Astor Piazzolla voltou do exterior, me convidou para participar do Octeto Buenos Aires,
que ele formou. Creio que este
tenha sido um dos momentos
musicais mais lindos que vivi.
FOLHA - Dos grandes bandoneonistas do passado, quais são os que
mais o marcaram?
FEDERICO - Seria injusto não
mencionar todos, mas já que
preciso escolher, seriam Pedro
Laurenz, Aníbal Troilo (el Pichuco) e Piazzolla. Roberto de
Filippo, que tocava com Piazzolla, também era maravilhoso.
FOLHA - Quais foram seus principais professores?
FEDERICO - Aprendi harmonia
com Felix Lipesker e Paquito
Requena. Este foi o último professor que tive e foi quem conseguiu meu primeiro trabalho
profissional, em 1944. Ele me
recomendou a uma orquestra
que tocava em um cabaré. Foi
assim que comecei. Naquela
época, nos anos 1940, as orquestras tocavam ao vivo, no
rádio. Todos os finais de semana havia bailes com orquestras.
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