São Paulo, sábado, 29 de agosto de 2009

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"Parece um ser humano", diz Federico

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BUENOS AIRES

O maior bandoneonista vivo da Argentina chama-se Leopoldo Federico e tem 82 anos. Sua trajetória artística inclui passagens pelas mais importantes orquestras de tango do país, como as do pianista Osmar Maderna, Mariano Mores, Hector Stamponi e Carlos Di Sarli, entre outros. Em 1958 fundou a sua própria, que está em atividade até hoje. Leopoldo Federico participou do documentário "Café dos Maestros", dirigido por Miguel Kohan, e tocará em outubro, com o resto do grupo, no teatro Bourbon Pompeia, em São Paulo. (AM)

FOLHA - Como o sr. descreveria o som do bandoneon?
LEOPOLDO FEDERICO
- O bandoneon respira e é um instrumento dotado de um grande mistério. Quando alguém abre esse fole, parece que está sentindo um coração bater. O mesmo instrumento soa de maneira distinta de acordo com quem o toca. O meu vai soar diferente se for tocado por outro músico, porque ele responde à sensibilidade de quem toca. O bandoneon não é feito de carne e osso mas parece um ser humano.

FOLHA - Sua forma de interpretar mudou ao longo do tempo?
FEDERICO
- Sim. Pode ser que isso tenha acontecido por causa da idade, da maturidade. Escuto gravações minhas quando comecei e observo que agora toco de uma maneira muito mais tranquila, sem arrebates. Quando era jovem, tocava rápido, me movimentava muito. Agora, naturalmente, toco mais devagar e quero mais expressar que demonstrar.

FOLHA - Como foi a experiência de tocar com Piazzolla?
FEDERICO
- Toquei nos últimos tempos da primeira orquestra dele, foi uma agrupação formada em 1946. Mais tarde, quando Astor Piazzolla voltou do exterior, me convidou para participar do Octeto Buenos Aires, que ele formou. Creio que este tenha sido um dos momentos musicais mais lindos que vivi.

FOLHA - Dos grandes bandoneonistas do passado, quais são os que mais o marcaram?
FEDERICO
- Seria injusto não mencionar todos, mas já que preciso escolher, seriam Pedro Laurenz, Aníbal Troilo (el Pichuco) e Piazzolla. Roberto de Filippo, que tocava com Piazzolla, também era maravilhoso.

FOLHA - Quais foram seus principais professores?
FEDERICO
- Aprendi harmonia com Felix Lipesker e Paquito Requena. Este foi o último professor que tive e foi quem conseguiu meu primeiro trabalho profissional, em 1944. Ele me recomendou a uma orquestra que tocava em um cabaré. Foi assim que comecei. Naquela época, nos anos 1940, as orquestras tocavam ao vivo, no rádio. Todos os finais de semana havia bailes com orquestras.


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