São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2006

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MAM-SP mostra seu acervo na Oca

Exposição, com três curadores, ocupa quatro andares do prédio e, dividida em núcleos, revê história recente da arte brasileira

Tadeu Chiarelli, Cauê Alves e Felipe Chaimovich assinam a curadoria; Daniela Thomas e Felipe Tassara fizeram o planejamento espacial


Divulgação
Obra de Carlos Zílio, que estará na mostra do MAM na Oca, no Ibirapuera


GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O MAM-SP andou alguns metros pelo parque Ibirapuera e foi parar na Oca. A partir da próxima segunda, cerca de 700 obras ocupam os quatro andares do prédio arredondado de Niemeyer na mostra "MAM na Oca: Arte Brasileira do Acervo do Museu de Arte Moderna de S.Paulo", com ênfase na produção dos últimos 60 anos.
Os trabalhos não estão ordenados cronologicamente, não aparecem agrupados por período, artista ou mídia. A curadoria tripla -Tadeu Chiarelli, Cauê Alves e Felipe Chaimovich- optou por criar núcleos de interpretação: um "território de sombras" (subsolo), um diálogo entre arte e cidade (térreo) e um espaço para reflexão sobre a palavra e a linguagem (primeiro andar). O segundo andar ficou reservado para as "apostas" do MAM -artistas menos conhecidos do público.
Com projeto espacial de Daniela Thomas e Felipe Tassara, a idéia é que os núcleos dialoguem com a própria história do museu e com a trajetória de seu acervo. Fundado em 1948 com a coleção particular de Ciccillo Matarazzo, o MAM viu esta reunião de obras -especialmente quadros modernistas- ser doada em 1963 para o Museu de Arte Contemporânea da USP. A nova coleção só começaria em 1968, desta vez com ênfase na produção contemporânea. Hoje, com 38 anos, esta "nova" coleção é formada por mais de 4.500 trabalhos.

Luz e sombras
"Procuramos criar diálogos horizontais e verticais", explica Chiarelli, que se dedicou especialmente à montagem do subsolo. O conjunto reúne artistas e obras que de algum modo fazem referência ao outro, ao ausente. Uma foto de Vicente de Mello remete a Mondrian, uma obra de Nelson Leirner faz referência ao concretismo, uma sala abriga obras que "falam" aos materiais artísticos -lápis, cavaletes, molduras.
O andar reúne ainda artistas que Chiarelli denomina "imaginários singulares": lá estão três fotomontagens de Guignard, recentemente doadas ao acervo, próximas a um vídeo de Tunga. Em outra sala, gravuras de Goeldi e Grassmann conversam entre si; Farnese de Andrade (1926-1996) é exposto junto com expoentes dos anos 90. "Foi essa geração quem melhor o compreendeu", explica. Sombras de Regina Silveira projetadas nas paredes e um muro de 20 metros com lambe-lambes de Lenora de Barros ("Procuro-me") completam o tom de experimentação.

A cidade e a palavra
Cauê Alves se concentrou no planejamento do térreo, buscando revelar as relações intrínsecas entre arte e cidade. "A idéia foi recuperar o projeto de modernização brasileira e mostrar suas contradições e ambigüidades", explica o curador.
A referência ao urbano aparece com força na pintura de Tomie Ohtake, Arcangelo Ianelli e Marco Giannotti. Perto, uma parede de fotografias reúne Thomaz Farkas, Geraldo de Barros e German Lorca; entre as fotos deste último, imagens da construção de Brasília.
"É interessante que essa mostra ocorra na Oca, já que este processo modernizador passava por Niemeyer", diz Alves. O enfoque do primeiro andar é sobre a linguagem e a palavra -ou a ausência delas. Além de salas individuais de Mira Schendel, Arthur Luiz Piza e Leonilson, um conjunto emblemático de obras refere-se ao silêncio e à censura do período militar. Lá estão trabalhos, entre outros, de Antonio Manuel e Rubens Gerchman. "Eles falam de uma linguagem truncada", afirma Chaimovich.
Após vários meses de trabalho conjunto, os três curadores garantem ter apreciado a parceria. Em tom jocoso, referem-se a uma entidade indígena, o "mamnaóca" que teria vindo das profundezas do prédio assombrar suas vidas. Com ou sem fantasmas, o resultado impressiona pela dimensão.

MAM NA OCA: ARTE BRASILEIRA DO MUSEU DE ARTE MODERNA DE S.PAULO
Quando:
abertura dia 2/10, às 19h30 (convidados); de ter. a dom., das 10h às 18h; até 10/12
Onde: Oca (parque Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5549-2744)
Quanto: entrada franca


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