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Zeca Pagodinho lança CD "mais Zeca"
No novo "Uma Prova de Amor", sambista diz que queria voltar "um pouco mais para o povão", "ficar mais à vontade"
Além de autores cativos, como Monarco, Dudu Nobre, Almir Guineto e Arlindo Cruz, disco traz uma parceria com João Donato
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Zeca Pagodinho está há quase dois anos fazendo shows baseados no projeto "Acústico
MTV Zeca Pagodinho 2 - Gafieira". Cansou. Não da sonoridade, pois os arranjos de algumas faixas do novo CD, "Uma
Prova de Amor", têm ecos do
disco anterior. Já em outros aspectos, quanta diferença...
"Eu queria voltar um pouco
mais para o povão, ficar mais à
vontade. O "Gafieira" exigiu
muito: em afinação, roupa, terno, combinar sapato com não
sei o quê. O Zeca Pagodinho é
mais [gesticula como se pegasse qualquer roupa]. Este disco
está mais Zeca Pagodinho", diz.
A indumentária informal das
fotos da capa e do encarte indica isso, e as músicas confirmam. Se parte dos sambas de
"Gafieira" tinha entrado no repertório após uma pesquisa, a
seleção para o disco novo foi do
jeito que Zeca gosta: ouvindo
dos próprios compositores no
seu sítio em Xerém, na Baixada
Fluminense. É um processo informal que ficou conhecido como "jaqueirão do Zeca", por
causa da árvore do quintal.
"Não é "vai lá mostrar [os
sambas]", é "vai lá", "chega lá e
canta". Não tem pressa. Começa de manhã, a gente faz uma
comida, fica até tarde. O cara
tocando lá, eu aqui com a neném [sua filha de quatro anos].
De repente, escuto algo. Opa!"
Foi desse jeito "opa", segundo ele, que apareceu "Eta Povo
pra Lutar" (Brasil/Badá/Magaça/Bernine), a faixa mais social
do disco, com loas ao "povo
guerreiro" e críticas a uma
"gente" que "não aprende a lição". Mas querer arrancar de
Zeca uma explicação para a letra é forçar uma formalidade
que não lhe agrada.
"É melhor perguntar para
eles [os compositores]. Mas essa lição eu conheço de cor. E
meus filhos também", encerra.
Autores cativos nos discos de
Zeca estão aí de novo: Nelson
Rufino/Toninho Geraes ("Uma
Prova de Amor"), Monarco/
Mauro Diniz ("Não Há Mais
Jeito"), Zé Roberto ("Normas
da Casa"), Trio Calafrio ("Sincopado Ensaboado"), Serginho
Meriti/Claudinho Guimarães
("Sujeito Pacato"), Dudu Nobre/Almir Guineto/Fred Camacho ("Pra Ninguém Mais
Chorar") e Arlindo Cruz, com
quem assina duas parcerias.
Uma surpresa é João Donato,
que o chamou para gravar
"Sambou... Sambou". A faixa
vai para um CD do pianista,
mas já entrou como bônus no
de Zeca. A outra novidade é
Jorge Ben Jor, que lê a oração
de são Jorge em "Ogum" (Claudemir/Marquinhos PQD).
Embora seja quase uma unanimidade nacional, ele diz que
ainda não fica à vontade em
qualquer show. E o porquê talvez tenha uma relação indireta
com o tema de "Eta Povo pra
Lutar" e sua preferência por pé
no chão em vez de bico fino.
"Gosto de fazer show, mas
quando é para o povão. Essas
coisas da elite ainda amedrontam um pouco. Tem lugares em
que demora para os caras esquentarem. E meu show é interagindo com a platéia. Se chego
a um lugar em que está todo
mundo broxado, isso vai passar
para mim também", diz.
A quatro meses de completar
50 anos vividos com vários baixos em meio aos altos, Zeca ainda se emociona ao constatar
que sua vida deu certo: "Eu fui,
mas um monte de gente ficou:
amigos, parentes, até gente que
eu não conheço. Rola sempre
um "tá faltando [alguém]'".
UMA PROVA DE AMOR
Artista: Zeca Pagodinho
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 26, em média
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