São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2010

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Osesp debate escolha de novo regente

Reunião, que deve ocorrer dentro de 2 semanas, definirá a sucessão do maestro da orquestra a partir de 2012

Yan Pascal Tortelier ocupa o cargo desde 2009, quando John Neschling foi demitido em processo traumático

MORRIS KACHANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O dilema é grande. O prazo, apertado. Dentro de duas semanas, será realizada uma reunião entre a cúpula da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e dois músicos representando a orquestra.
O tema em pauta é a definição do novo regente titular a partir de 2012, quando expira o contrato do maestro francês Yan Pascal Tortelier, válido até o final de 2011.
As agendas dos maestros são programadas com dois ou mais anos de antecedência. Por isso, Tortelier pode ficar por mais um ano.
Os consultores internacionais Henry Fogel e Timothy Walker elaboraram uma lista guardada a sete chaves, com os nomes prioritários para assumir a Osesp.
O escolhido certamente sairá da relação dos maestros convidados que têm se apresentado com a orquestra, todos tidos como candidatos naturais.
Vários demonstram interesse, mas há outros que virão. A questão é esperar ou não. "Já temos ótimas possibilidades, mas não podemos nos precipitar. São coisas que levam tempo, assim como escrever um livro ou ouvir uma sinfonia", afirma Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras e membro do Conselho da Fundação Osesp, à frente do comitê de busca.
O momento da carreira e a disponibilidade dos candidatos são critérios fundamentais. Assim como a empatia com o projeto da orquestra. As fichas de avaliação dos maestros preenchidas pelos músicos também contam no processo.

TORTELIER
A permanência de Tortelier por mais um ano é um cenário que divide opiniões. É que a relação do maestro com os músicos passa por um momento de desgaste.
Em uma reunião dos chefes de naipe da orquestra com Tortelier realizada durante sua última estadia em São Paulo, em agosto, os músicos reivindicaram maior envolvimento do maestro nos ensaios.
Uma discussão entre Tortelier e bolsistas da Orquestra do Festival de Inverno de Campos do Jordão, em julho, também repercutiu entre os músicos.
"É como se a orquestra tivesse trocado o marido pelo amante", resume a violoncelista Maria Luísa Cameron, que comanda a Associação dos Músicos Profissionais da Osesp -o amante, no caso, sendo o maestro Tortelier e o marido, seu antecessor, John Neschling. "Aí o amante se torna marido e tudo que era qualidade vira defeito."
Neschling foi demitido em janeiro de 2009, em um processo traumático.
"Ninguém tinha ideia de como lidar com a situação dali em diante, a orquestra nunca havia passado por isso. Nem os músicos, muito menos o conselho", lembra Schwarcz. Tortelier foi chamado às pressas.

AVALIAÇÃO
Uma pesquisa do Ibope sobre a avaliação do público obtida pela Folha aponta uma queda ligeira, de três pontos decimais, na troca do regente titular. Em 2008, Neschling ficou com 9,0. Tortelier em 2010 está com 8,7.
Sob Tortelier, muitos apontam, a sonoridade das cordas da Osesp melhorou. Entre os ouvintes a percepção é de que o maestro é irrepreensível regendo obras do repertório francês, mas esbarra no alemão.
Por ter regido a Osesp em apenas oito programas no ano passado e seis até agora em 2010 (serão 15 até o final do ano), Tortelier ainda não imprimiu uma identidade. "Sempre o vi como um regente convidado mais presente, nunca como um titular. É fundamental a presença de alguém que permaneça com a orquestra. Só assim é possível se construir uma sonoridade específica", afirma Mauricio Poletti, frequentador dos concertos desde 97.
Luiz Schwarcz enxerga a orquestra no seu melhor momento, apesar da indefinição. "É verdade que toda semana a orquestra elege seu novo maestro", brinca.
"Mas os desentendimentos fazem parte do dia-a-dia. O clima hoje é de tranquilidade e entusiasmo", completa.


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