São Paulo, terça, 29 de setembro de 1998

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Novo cinema novo


Macunaíma, 70, volta às telas brasileiras; o personagem é contemporâneo do diretor Nelson Pereira dos Santos e do produtor Luiz Carlos Barreto, que, ambos aos 70, analisam suas carreiras, projetos e a estética visula que viram nascer


DENISE MOTA
da Redação

Macunaíma está de volta. O personagem-síntese da cultura brasileira, criado há exatos 70 anos por Mario de Andrade -e que ganhou vida pela lente de Joaquim Pedro de Andrade-, volta às telas brasileiras restaurado, no Festival de Brasília -de 11 a 18 de outubro.
O filme "Macunaíma" (69) será exibido ainda no Festival de Biarritz, onde Pedro de Andrade terá uma noite de homenagens, em novembro. No mesmo mês, o MoMA também vai prestar, em festival, tributo ao cineasta.
A restauração de "Macunaíma" fez parte de um projeto de restauração, organizado pela filha do diretor, Alice de Andrade, 33, que inclui sete obras do cineasta e está orçado em R$ 200 mil.
"Macunaíma", cujas imagens estavam deterioradas no Brasil, tinha sua imagem conservada integralmente na França, onde o filme foi exibido na década de 70. O longa estava em poder do cineasta Claude Lelouch, no laboratório Eclair.
² Desconto
A recuperação do filme custou US$ 43 mil. "Tive sorte, porque o som estava perfeito no Brasil, e a imagem era ruim. Em Paris, achei a imagem perfeita", afirma Alice.
"Além disso, "Macunaíma' foi marcante para muitos franceses que trabalham com cinema, então consegui descontos de 35% no trabalho de laboratório e de 20% na legendagem para o francês."
Após "Macunaíma", o projeto de restauração passa por "O Padre e a Moça", que está sem som, "Garrincha, Alegria do Povo", "O Poeta do Castelo", "O Mestre dos Apipucos", sobre Gilberto Freyre, "Cama de Gato" e o média-metragem "Brasília".
"A obra inteira de meu pai tem problemas de preservação. Ele tem quatro longas e três curtas com negativos estragados. Este ano faz dez anos da morte dele, então decidi que era a hora de procurar patrocínio para recuperar sua obra", diz Alice, que mora em Paris há cinco anos, dirige e escreve trabalhos para cinema.
Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) deixou inacabados dois projetos de filmagem: "O Imponderável Bento" e "Casa Grande e Senzala & Cia.", adaptação livre da obra de Gilberto Freyre.
Em sua obra ainda constam quatro roteiros inéditos, adaptações das obras "Buriti", de Guimarães Rosa, e "Grande Sertão: Veredas", em que misturaria a trama a um conto de "Sagarana".
"Vida Mansa", inspirado em texto escrito por Clarice Lispector, e "Minas de Prata", baseado em obra de José de Alencar, também eram projetos do cineasta.



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