São Paulo, terça, 29 de setembro de 1998

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TELEVISÃO
Pornografia emplaca nos canais pagos

ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio

A partir de novembro, a Net, maior rede brasileira de TV paga, controlada pelas Organizações Globo, com 1,7 milhão de assinantes, incluirá em sua programação um canal de sexo explícito, o Sex Hot. Igual decisão foi tomada pela DirecTV, empresa de TV paga via satélite do grupo Abril. Na semana passada, ela anunciou o lançamento do canal Vênus, pelo sistema pay-per-view.
As TVs foram apimentando gradualmente a programação até chegarem à pornografia explícita dos filmes de motel. Tudo isso por solicitação dos assinantes, segundo afirmam as emissoras.
Os distribuidores internacionais dividem esse mercado em cinco níveis, que vão do erotismo apenas com simulação do ato sexual às aberrações e crimes sexuais.
O nível 1 é identificado como T&A ("tits" e "asses", ou tetas e bundas), e seu exemplo mais famoso é o canal Playboy, que, por sinal, passou a fazer parte do menu de programação da Net, a partir de segunda-feira da semana passada.
Segundo o diretor-geral da Globocabo, Moysés Pluciennik, os telefones da Net ficaram congestionados desde o lançamento. Em três dias, foram feitos 4.000 pedidos de assinatura. Até 10 de outubro, a assinatura é gratuita para os clientes do pacote Advanced. Os demais pagarão R$ 9,90 por mês.
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Sem a genitália
O segundo nível na escala pornô são os filmes com atos sexuais reais, mas as cenas são editadas. Ou seja, não há exibição da genitália. Um exemplo é o Adultvision produzido pelo grupo venezuelano Cisneros e pela Playboy Interprises, que já faz parte da programação da DirecTV.
Em geral, o assinante começa pelos filmes eróticos e, na medida em que se acostuma às cenas, vai sentido necessidade de algo mais forte. "Os filmes eróticos não satisfazem a expectativa do assinante. Ele quer mais", afirma Leila Loria, diretora-geral da DirecTV.
O "Sex Hot" e o "Vênus" já estão no terceiro nível do ranking pornô, e dificilmente as redes de TV paga, que dependem de concessões do governo, ultrapassariam esse nível. Ambos são formados por produção norte-americana e européia.
Os filmes mostram cenas de homossexualismo feminino, sexo oral, anal e em grupo, sem cortes. Para evitar que menores tenham acesso à programação erótica, os sinais são codificados, e cada usuário tem uma senha para desbloquear o canal.
No nível 4 da escala pornô estão aberrações, como o sexo com animais. Inclui também a pedofilia, que é crime.
No nível 5 estão filmes produzidos pela máfia japonesa a Yakuza e comercializados apenas no mercado negro. Segundo o diretor da GloboSat, Alberto Pecegueiro, que descrevou o ranking para a Folha, eles mostram cenas reais de estupro e de extirpação de membros.
Consumo Voraz
O brasileiro tem se mostrado um consumidor voraz de filmes de sexo explícito, o que, para a indústria da TV paga, significa uma fonte considerável de dinheiro.
Para assistir a duas horas de filme no canal Vênus, o assinante terá que desembolsar R$ 6,50. A DirecTV avalia que, apesar do preço alto (um filme comum custa R$ 3,50), a procura será grande. " Esse é o tipo do produto que os assinantes compram por impulso", diz Loria, da DirecTV.
As estatísticas mostram que o brasileiro não consegue controlar seu impulso.O assinante da DirecTV nos Estados Unidos assiste, em média, a 1,3 filmes pornô por mês, pelo sistema "pay per view". No Brasil, a média já chega a dois filmes por mês.
"Os norte-americanos nos vêem como os depravados da América Latina", completa a diretora da DirecTV. Segundo ela, os países vizinhos são menos liberais. No Chile e na Colômbia, por exemplo, as redes de TV a cabo se recusam a oferecer filmes pornô, pois consideram que iriam chocar seus assinantes.



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