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TEATRO/EUA
Peça traz um Cristo gay
MARCELO DIEGO
de Nova York
A polêmica teatral da temporada em Nova York foi aberta
na quinta-feira com a peça
"Corpus Christi". Ela descreve
a vida de Jesus Cristo como se
ele tivesse sido homossexual.
A peça foi escrita por Terrence McNally, que venceu o Prêmio Tony (maior premiação do
teatro americano) com espetáculos como "O Beijo da Mulher-Aranha" e "Master Class".
"Corpus Christi" conta a história de Jesus (na peça, chamado de Joshua) e é baseado nas
descrições bíblicas da vida
adulta do personagem.
Mas incita que a relação dele
com seus 12 apóstolos teria sido não só de amor espiritual,
mas também carnal. Na escolha do apóstolo Pedro, Jesus teria ficado "encantado com o
charme rude do pescador".
Na Bíblia, por exemplo, Judas
(um dos discípulos) entregou
Jesus aos soldados romanos
identificando-o com um beijo
na face. Na peça, a entrega é feita com um longo beijo labial.
Encenado no Manhattan
Theatre Center, fora do circuito da Broadway, o espetáculo
provocou a ira dos grupos religiosos da cidade.
No sábado à noite, cerca de
1.200 pessoas foram ao teatro
protestar. Carregando cartazes
com frases como "não aceitem
a blasfêmia" e "você chama isto
de arte?", os protestantes tentavam encerrar o espetáculo.
"É uma peça horrível. Um
ataque direto à religião. Arte
tem de ser boa, verdadeira, bonita. Esta peça não é nada disso", disse à Folha William Donohue, presidente da Liga Católica. Ele diz não ter assistido à
peça e que "nem precisaria".
A Liga Católica coletou assinaturas de 47 líderes de diferentes religiões, incluindo muçulmanos e judeus. Eles pretendem entregar um pedido
popular de retirada da peça para a prefeitura.
O prefeito, contudo, não tem
o poder de vetar uma apresentação artística na cidade, a menos que o teatro não apresente
condições de segurança.
O clima contribuiu para medidas extras de segurança. Para
entrar no teatro, é preciso passar por revista policial e até um
detector de metal. A medida seria para evitar atentados, segundo um dos seguranças.
A peça deveria ter sido montada em maio, mas os donos do
teatro, exatamente com medo
da reação do público, desistiram na semana da estréia.
Pressionados pelo sindicato
dos atores de Nova York, resolveram voltar atrás.
Agora, dizem que não vão
aceitar pressão e que a peça segue. Na verdade, as apresentações de quinta a domingo marcaram a pré-estréia da temporada, que começa efetivamente
no dia 13 de outubro.
A polêmica parece ter atraído
a atenção do público. Segundo
o jornal "The New York Times", todos os ingressos para
os 299 lugares do teatro já estão
esgotados para as dez primeiras semanas. Serão seis apresentações semanais.
Os religiosos prometem protestar a cada apresentação.
"Como bons cristãos, rezaremos também pelos atores. Usamos a velha frase: "Perdoai-vos,
pois eles não sabem o que fazem'", diz Donohue.
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