São Paulo, terça, 29 de setembro de 1998

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TEATRO/EUA
Peça traz um Cristo gay

MARCELO DIEGO
de Nova York

A polêmica teatral da temporada em Nova York foi aberta na quinta-feira com a peça "Corpus Christi". Ela descreve a vida de Jesus Cristo como se ele tivesse sido homossexual.
A peça foi escrita por Terrence McNally, que venceu o Prêmio Tony (maior premiação do teatro americano) com espetáculos como "O Beijo da Mulher-Aranha" e "Master Class".
"Corpus Christi" conta a história de Jesus (na peça, chamado de Joshua) e é baseado nas descrições bíblicas da vida adulta do personagem.
Mas incita que a relação dele com seus 12 apóstolos teria sido não só de amor espiritual, mas também carnal. Na escolha do apóstolo Pedro, Jesus teria ficado "encantado com o charme rude do pescador".
Na Bíblia, por exemplo, Judas (um dos discípulos) entregou Jesus aos soldados romanos identificando-o com um beijo na face. Na peça, a entrega é feita com um longo beijo labial.
Encenado no Manhattan Theatre Center, fora do circuito da Broadway, o espetáculo provocou a ira dos grupos religiosos da cidade.
No sábado à noite, cerca de 1.200 pessoas foram ao teatro protestar. Carregando cartazes com frases como "não aceitem a blasfêmia" e "você chama isto de arte?", os protestantes tentavam encerrar o espetáculo.
"É uma peça horrível. Um ataque direto à religião. Arte tem de ser boa, verdadeira, bonita. Esta peça não é nada disso", disse à Folha William Donohue, presidente da Liga Católica. Ele diz não ter assistido à peça e que "nem precisaria".
A Liga Católica coletou assinaturas de 47 líderes de diferentes religiões, incluindo muçulmanos e judeus. Eles pretendem entregar um pedido popular de retirada da peça para a prefeitura.
O prefeito, contudo, não tem o poder de vetar uma apresentação artística na cidade, a menos que o teatro não apresente condições de segurança.
O clima contribuiu para medidas extras de segurança. Para entrar no teatro, é preciso passar por revista policial e até um detector de metal. A medida seria para evitar atentados, segundo um dos seguranças.
A peça deveria ter sido montada em maio, mas os donos do teatro, exatamente com medo da reação do público, desistiram na semana da estréia.
Pressionados pelo sindicato dos atores de Nova York, resolveram voltar atrás.
Agora, dizem que não vão aceitar pressão e que a peça segue. Na verdade, as apresentações de quinta a domingo marcaram a pré-estréia da temporada, que começa efetivamente no dia 13 de outubro.
A polêmica parece ter atraído a atenção do público. Segundo o jornal "The New York Times", todos os ingressos para os 299 lugares do teatro já estão esgotados para as dez primeiras semanas. Serão seis apresentações semanais.
Os religiosos prometem protestar a cada apresentação. "Como bons cristãos, rezaremos também pelos atores. Usamos a velha frase: "Perdoai-vos, pois eles não sabem o que fazem'", diz Donohue.



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