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Salles vê histórias no morro
da Sucursal do Rio
O Chapéu Mangueira, cenário
de "O Primeiro Dia", não é o primeiro morro que cruza a câmera
de Walter Salles. Ele dirigiu uma
parte e editou a versão final de
"Notícias de uma Guerra Particular", documentário de João Salles
e Kátia Lund filmado em vários
morros do Rio.
No morro do Cantagalo (zona
sul do Rio de Janeiro), foi buscar o
compositor popular Adão Xalebaradã, que se tornou tema de um
documentário de 8 minutos.
"Adão ou Somos Todos Filhos da
Terra", que estréia nos cinemas
no dia 8 de novembro próximo,
dia de Zumbi dos Palmares.
Histórias
Salles diz que o morro tem histórias para contar.
Nem sempre de violência como
a de Josimar Ludovice dos Santos,
o rapaz abordado por policiais
militares durante as filmagens
(leia texto nesta página). "É o retrato do imobilismo desse país, do
preconceito contra alguém que
estava nos ajudando. A realidade
lá em cima é mais bruta do que se
pode supor no asfalto. De algum
modo, o filme fala dessa divisão
social."
Em "O Primeiro Dia", cruzam-se os destinos de personagens que
jamais se encontrariam: a professora de surdos Maria (Fernanda
Torres) e o fugitivo da penitenciária João (Luís Carlos Vasconcelos).
Entre eles, Francisco, pequeno
marginal do morro, vivido por
Matheus Nachtergaele.
Convite
O filme nasceu de um convite
feito pela rede de televisão francesa Arte.
A idéia era fazer com que dez jovens diretores mostrassem sua visão da virada do milênio. Walter
Salles e Daniela Thomas tomaram o morro como cenário para
contar a tradicional história de
João e Maria.
O diretor conta que foi recebido
com "muita generosidade" pelos
moradores do Chapéu Mangueira. Os figurantes moradores do
morro, segundo ele, até entendiam melhor as cenas que os figurantes comuns selecionados na
cidade.
Da ajuda que recebeu de moradores do morro, ele destaca, além
do trabalho de Gilmara -funcionária da Videofilmes-, o de Cida
Alves, "ajudante" de Mateus
Nachtergaele na criação dos diálogos do pequeno marginal Francisco.
"A língua do morro é muito
mais polifônica que a do asfalto.
Wittgenstein (filósofo alemão) já
dizia que os limites da língua são
os limites do meu mundo. Os limites da língua que você ouve no
morro são muito mais amplos",
afirma.
(FE)
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