São Paulo, Sexta-feira, 29 de Outubro de 1999
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Salles vê histórias no morro

da Sucursal do Rio

O Chapéu Mangueira, cenário de "O Primeiro Dia", não é o primeiro morro que cruza a câmera de Walter Salles. Ele dirigiu uma parte e editou a versão final de "Notícias de uma Guerra Particular", documentário de João Salles e Kátia Lund filmado em vários morros do Rio.
No morro do Cantagalo (zona sul do Rio de Janeiro), foi buscar o compositor popular Adão Xalebaradã, que se tornou tema de um documentário de 8 minutos. "Adão ou Somos Todos Filhos da Terra", que estréia nos cinemas no dia 8 de novembro próximo, dia de Zumbi dos Palmares.

Histórias
Salles diz que o morro tem histórias para contar.
Nem sempre de violência como a de Josimar Ludovice dos Santos, o rapaz abordado por policiais militares durante as filmagens (leia texto nesta página). "É o retrato do imobilismo desse país, do preconceito contra alguém que estava nos ajudando. A realidade lá em cima é mais bruta do que se pode supor no asfalto. De algum modo, o filme fala dessa divisão social."
Em "O Primeiro Dia", cruzam-se os destinos de personagens que jamais se encontrariam: a professora de surdos Maria (Fernanda Torres) e o fugitivo da penitenciária João (Luís Carlos Vasconcelos).
Entre eles, Francisco, pequeno marginal do morro, vivido por Matheus Nachtergaele.

Convite
O filme nasceu de um convite feito pela rede de televisão francesa Arte.
A idéia era fazer com que dez jovens diretores mostrassem sua visão da virada do milênio. Walter Salles e Daniela Thomas tomaram o morro como cenário para contar a tradicional história de João e Maria.
O diretor conta que foi recebido com "muita generosidade" pelos moradores do Chapéu Mangueira. Os figurantes moradores do morro, segundo ele, até entendiam melhor as cenas que os figurantes comuns selecionados na cidade.
Da ajuda que recebeu de moradores do morro, ele destaca, além do trabalho de Gilmara -funcionária da Videofilmes-, o de Cida Alves, "ajudante" de Mateus Nachtergaele na criação dos diálogos do pequeno marginal Francisco.
"A língua do morro é muito mais polifônica que a do asfalto. Wittgenstein (filósofo alemão) já dizia que os limites da língua são os limites do meu mundo. Os limites da língua que você ouve no morro são muito mais amplos", afirma. (FE)


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