SÉRGIO RIZZO
especial para a Folha

"Bem-Vindo, Mr. McDonald" é filme para os ouvidos, ou para quem aprendeu a grudá-los em um radinho de pilha desde cedo. Quem pertence a este clube embarca com facilidade nessa divertida homenagem à radionovela, gênero muito popular no Japão.
Miyako (Kyoka Suzuki) é uma jovem premiada em um concurso de roteiros promovido por uma emissora de Tóquio. Seu texto será interpretado por uma equipe de profissionais da casa. Convidada a acompanhar a gravação, a ingênua e tímida dona-de-casa é apresentada ao circo dos bastidores, onde poder, vaidade e dinheiro falam mais alto do que eventuais aspirações artísticas.
Miyako chega ao estúdio com um trabalho de amador, mas repleto de citações e referências cuidadosamente inseridas. À medida que a noite avança, ela entra em desespero: as modificações exigidas por elenco e equipe técnica transformam o texto em um Frankenstein que pouco lembra o original.
A principal vilã da história é Nokko (Keiko Toda), estrela da rádio. Seu primeiro pedido: alterar o nome da heroína, de "Ritsuko" para "Mary Jane". Aberta a porteira, passará a boiada. O humor do filme começa então a alimentar-se da tragicomédia de equívocos instalada no estúdio e nos corredores da emissora.
Baseado em peça escrita pelo diretor estreante Koki Mitani, "Bem-Vindo, Mr. McDonald" estabelece uma relação ambígua com o que parece criticar. Sobram farpas para os efeitos da produção em série na indústria cultural. Não haveria mais espaço para os "românticos" da criatividade e da improvisação em era de procedimentos padronizados.
O maior símbolo desse deslocamento talvez seja o antigo sonoplasta que, substituído pelo uso de efeitos sofisticados, trabalha agora como porteiro da emissora. Sua presença ali é estratégica, claro, para que o filme consiga ao final glorificar o trabalho em rádio. Feita a média entre o raciocínio apocalíptico e o integrado, sobra no fundo uma comédia simpática e movimentada em que a despretensão regula o passo.

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