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PERSONALIDADE
O escritor espanhol, que viveu mais de quarenta anos no exílio, era parceiro de Lorca, Dalí e Paz
Morte de Alberti cala uma geração
SYLVIA COLOMBO
Editora-assistente da Ilustrada
"Foi na Espanha que os homens
aprenderam que uma pessoa pode
estar certa e ainda assim ser vencida,
que a força pode derrotar o espírito."Albert Camus no ensaio "The
Last Great Cause"
Com a morte do poeta andaluz
Rafael Alberti, anteontem, aos 96,
na Espanha, vítima de uma parada cárdio-respiratória, a literatura
perdeu o último representante
significativo do grupo de intelectuais que, nas décadas de 30 e 40,
tiveram na luta política de esquerda o temário e a razão de sua obra.
A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) ficou conhecida como "a
guerra dos escritores" por ter mobilizado autores como o norte-americano Ernest Hemingway, o
mexicano Octavio Paz, os espanhóis Federico García Lorca, Miguel Hernandes, Antonio Machado e Rafael Alberti, os britânicos
W.H. Auden e George Orwell, o
francês André Malraux e o chileno Pablo Neruda, entre outros.
Os intelectuais apoiavam o governo republicano eleito de forma
democrática contra o exército de
direita liderado pelo general
Francisco Franco. À derrota dos
republicanos seguiu-se um período de ditadura fascista na Espanha, que perdurou até a morte do
general, em 1975.
Os escritores mobilizaram-se de
diversas formas. Muitos deles foram ao front, integrando as brigadas internacionais comunistas,
outros emigraram da Espanha e,
do exílio, participaram da intensa
publicação de livros, manifestos e
propaganda antifascista que se seguiu então.
Alguns deles foram mortos durante o o conflito, como García
Lorca, fuzilado em 1936.
Antes da guerra, os primeiros
trabalhos de Rafael Alberti namoraram com o surrealismo, numa
época em que tinha como companhia constante o pintor Salvador
Dalí e o cineasta Luis Buñuel.
Logo depois do golpe, em 1936,
o escritor deixou a Espanha. Seu
trabalho literário no exílio -passou pela França, Itália e Argentina- foi marcado pelo combate
àditadura franquista.
Em 1977, após a morte de Franco, o escritor retornou ao seu país,
sendo recebido com festa por militantes comunistas e escritores.
Alberti defendeu sua postura política até seus últimos anos. Com
sua morte, vai-se um dos últimos
testemunhos orais do período em
que a Espanha havia se transformado em um cenário dos conflitos ideológicos e intelectuais que
tomariam corpo na Europa nas
décadas que se seguiram.
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