São Paulo, Sexta-feira, 29 de Outubro de 1999
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PERSONALIDADE
O escritor espanhol, que viveu mais de quarenta anos no exílio, era parceiro de Lorca, Dalí e Paz
Morte de Alberti cala uma geração

SYLVIA COLOMBO
Editora-assistente da Ilustrada


 "Foi na Espanha que os homens aprenderam que uma pessoa pode estar certa e ainda assim ser vencida, que a força pode derrotar o espírito."Albert Camus no ensaio "The Last Great Cause"
Com a morte do poeta andaluz Rafael Alberti, anteontem, aos 96, na Espanha, vítima de uma parada cárdio-respiratória, a literatura perdeu o último representante significativo do grupo de intelectuais que, nas décadas de 30 e 40, tiveram na luta política de esquerda o temário e a razão de sua obra.
A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) ficou conhecida como "a guerra dos escritores" por ter mobilizado autores como o norte-americano Ernest Hemingway, o mexicano Octavio Paz, os espanhóis Federico García Lorca, Miguel Hernandes, Antonio Machado e Rafael Alberti, os britânicos W.H. Auden e George Orwell, o francês André Malraux e o chileno Pablo Neruda, entre outros.
Os intelectuais apoiavam o governo republicano eleito de forma democrática contra o exército de direita liderado pelo general Francisco Franco. À derrota dos republicanos seguiu-se um período de ditadura fascista na Espanha, que perdurou até a morte do general, em 1975.
Os escritores mobilizaram-se de diversas formas. Muitos deles foram ao front, integrando as brigadas internacionais comunistas, outros emigraram da Espanha e, do exílio, participaram da intensa publicação de livros, manifestos e propaganda antifascista que se seguiu então.
Alguns deles foram mortos durante o o conflito, como García Lorca, fuzilado em 1936.
Antes da guerra, os primeiros trabalhos de Rafael Alberti namoraram com o surrealismo, numa época em que tinha como companhia constante o pintor Salvador Dalí e o cineasta Luis Buñuel.
Logo depois do golpe, em 1936, o escritor deixou a Espanha. Seu trabalho literário no exílio -passou pela França, Itália e Argentina- foi marcado pelo combate àditadura franquista.
Em 1977, após a morte de Franco, o escritor retornou ao seu país, sendo recebido com festa por militantes comunistas e escritores. Alberti defendeu sua postura política até seus últimos anos. Com sua morte, vai-se um dos últimos testemunhos orais do período em que a Espanha havia se transformado em um cenário dos conflitos ideológicos e intelectuais que tomariam corpo na Europa nas décadas que se seguiram.


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