São Paulo, Sexta-feira, 29 de Outubro de 1999
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DISCO TITÃS
"Somos uma estatal gigante", diz Nando Reis

MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha

"Viram o novo sucesso dos Titãs? É pre-ci-so sobreviver...", era a brincadeira que se fazia em rodinhas de roqueiros mais ortodoxos. Ao gravar "É Preciso Saber Viver", de Roberto e Erasmo Carlos, a banda paulista ganhou combustível para continuar em órbita, ante uma carreira que parecia na iminência de reentrar na atmosfera.
Com 17 anos de existência (12 discos gravados), os Titãs apontam novamente os jatos propulsores na direção do sucesso comercial.
É preciso saber vender, dita um mercado fonográfico concorrido. Como disse o jogador Adriano (Figueirense), que "tomou" há dois dias um raio na cabeça jogando contra o São Paulo, "você passa dessa vida para outra num piscar (sic) de segundos".
"Desde "Sonífera Ilha", música que foi feita para estourar, brincam com a gente. Nós queremos ser galã de TV", diz Branco Mello, na entrevista realizada em São Paulo.
"Não existe o sujeito que faz música só para vender. Primeiro, fazemos música para o nosso entretenimento", afirma Nando Reis.
"Isso é independente da nossa vontade. Fazemos um produto de consumo. Todo mundo tem o direito de dizer o que quiser, mas, para nós, a prioridade é artística", conclui Sérgio Britto.
Os Titãs já experimentaram o rock ingênuo e o radical. Dessa vez, lançam um disco com baladas conhecidas e suaves, um álbum com as dez mais preferidas dos Titãs, "Titãs, As Dez Mais", dando prosseguimento à trilha de balanço de vida, que começou com "Acústico" (1997).

Mamonas
O carro chefe do novo CD é "Pelados em Santos", dos Mamonas Assassinas.
O clipe, de Washington Olivetto e Andres Bukowski, é uma sátira à mitológica propaganda do Bombril.
Participam o ator Carlinhos Moreno e duas modelos de seios de fora, clipe em que os componentes da banda aparecem vendendo de tudo, de cannabis chips, "que te deixa doidão", a doces de coco. E, por que não, vendendo os Titãs.
"A idéia de chamar o Washington foi para brincar com a fama de sermos uma banda comercial", diz Mello.
"Pensamos em cantar como se fizéssemos um comercial da música, que é a razão de um clipe existir", diz Reis.
Nas dez mais dos Titãs, têm os hits "Gostava Tanto de Você" (Tim Maia), "Um Certo Alguém" (Lulu Santos) e "Ciúme" (Roger). E tem, claro, uma de Roberto e Erasmo Carlos ("Querem Acabar Comigo") e uma da Legião Urbana ("Sete Cidades").
Aliás, uma curiosidade. Uma não, duas.
Está em "Querem Acabar Comigo": "Enquanto eu tiver você aqui, ninguém pode me destruir...". Está em "Sete Cidades": "Quando não estás aqui, sinto falta de mim mesmo...".
Ambas parecem refletir o espírito de uma banda que se formou no colégio, banda em que parceria e amizade se fundem, e negócios são negócios e amigos não à parte.
"Coincidentemente, as duas músicas foram escolhidas por mim. Mas eu nunca tinha feito essa análise. Escolhi porque são belas canções", diz Britto.
Segunda curiosidade. O disco acaba com a música "Aluga-se", de Raul Seixas e Cláudio Roberto, composta há tempos, mas profética como poucas, um divertido libelo dos tempos neoliberais.
"É engraçado. Acho que a música foi composta em 1975. Há tantos anos, essa música não fazia tanto sentido como hoje", é Britto quem responde.
Falado nisso, quem escolhe as músicas?
"Não escolhemos as músicas pensando se vai vender mais ou não. É uma somatória, por consenso. Temos a tendência ao impasse. Nós, dos Titãs, somos um mamute, uma estatal gigante", diz Reis.
"O processo seletivo das composições é sempre muito desgastante. A tendência é que se torne mais desgastante, pelo volume de composições. Cada um dos autores sempre pensa em como fazer para que os outros gostem de sua música", afirma Reis.
"Tudo é decido na discussão, na habilidade e na sedução, principalmente na sedução", diz Britto. "Estamos há 17 anos, na mesma gravadora. Nunca ninguém disse o que colocar ou não. Somos nós que decidimos. Gera um dispêndio de energia muito grande. É jogo duro", reclama Marcelo Fromer.
Quer dizer que, além de agradar ao público e à crítica, cada um tem que agradar aos outros titãs? "Principalmente!", completa Reis. Mas, então, é um estresse ser um titã. São em média 15 shows por mês.
Eles têm, ao todo, 16 boquinhas (filhos) para sustentar. "É um estresse, mas depois é recompensado", conta Paulo Miklos. "É cansativo, mas a gente se diverte muito", diz Fromer.
O disco, "Titãs, As Dez Mais", foi gravado em Seattle, EUA, produzido pelo grunge Jack Endino que já havia produzido "Titanomaquia" e "Domingo". Os arranjos dos metais da maioria das músicas são de Eumir Deodato.
"Estamos, agora, em julho, parando para cada um tocar o seu projeto", diz Miklos. Em julho? Julho já passou. Ah, julho do ano que vem? Agora, para vocês, é julho do ano que vem? "Pois é, nossa agenda anda meio cheia", ironiza Miklos. Meio?!

Projetos
Depois, cada titã parte para um projeto próprio. Fromer prepara a biografia do jogador Casagrande, Charles Gavin vai remixar discos do arquivo da gravadora Continental, como o dos Secos e Molhados, e os outros titãs preparam discos solos. Como é mole ser um titã.


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