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DISCO TITÃS
"Somos uma estatal gigante", diz Nando Reis
MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha
"Viram o novo sucesso dos Titãs? É pre-ci-so sobreviver...", era
a brincadeira que se fazia em rodinhas de roqueiros mais ortodoxos. Ao gravar "É Preciso Saber
Viver", de Roberto e Erasmo Carlos, a banda paulista ganhou combustível para continuar em órbita,
ante uma carreira que parecia na
iminência de reentrar na atmosfera.
Com 17 anos de existência (12
discos gravados), os Titãs apontam novamente os jatos propulsores na direção do sucesso comercial.
É preciso saber vender, dita um
mercado fonográfico concorrido.
Como disse o jogador Adriano
(Figueirense), que "tomou" há
dois dias um raio na cabeça jogando contra o São Paulo, "você
passa dessa vida para outra num
piscar (sic) de segundos".
"Desde "Sonífera Ilha", música
que foi feita para estourar, brincam com a gente. Nós queremos
ser galã de TV", diz Branco Mello,
na entrevista realizada em São
Paulo.
"Não existe o sujeito que faz
música só para vender. Primeiro,
fazemos música para o nosso entretenimento", afirma Nando
Reis.
"Isso é independente da nossa
vontade. Fazemos um produto de
consumo. Todo mundo tem o direito de dizer o que quiser, mas,
para nós, a prioridade é artística",
conclui Sérgio Britto.
Os Titãs já experimentaram o
rock ingênuo e o radical. Dessa
vez, lançam um disco com baladas conhecidas e suaves, um álbum com as dez mais preferidas
dos Titãs, "Titãs, As Dez Mais",
dando prosseguimento à trilha de
balanço de vida, que começou
com "Acústico" (1997).
Mamonas
O carro chefe do novo CD é "Pelados em Santos", dos Mamonas
Assassinas.
O clipe, de Washington Olivetto
e Andres Bukowski, é uma sátira à
mitológica propaganda do Bombril.
Participam o ator Carlinhos
Moreno e duas modelos de seios
de fora, clipe em que os componentes da banda aparecem vendendo de tudo, de cannabis chips,
"que te deixa doidão", a doces de
coco. E, por que não, vendendo os
Titãs.
"A idéia de chamar o Washington foi para brincar com a fama
de sermos uma banda comercial",
diz Mello.
"Pensamos em cantar como se
fizéssemos um comercial da música, que é a razão de um clipe
existir", diz Reis.
Nas dez mais dos Titãs, têm os
hits "Gostava Tanto de Você"
(Tim Maia), "Um Certo Alguém"
(Lulu Santos) e "Ciúme" (Roger).
E tem, claro, uma de Roberto e
Erasmo Carlos ("Querem Acabar
Comigo") e uma da Legião Urbana ("Sete Cidades").
Aliás, uma curiosidade. Uma
não, duas.
Está em "Querem Acabar Comigo": "Enquanto eu tiver você
aqui, ninguém pode me destruir...". Está em "Sete Cidades":
"Quando não estás aqui, sinto falta de mim mesmo...".
Ambas parecem refletir o espírito de uma banda que se formou
no colégio, banda em que parceria e amizade se fundem, e negócios são negócios e amigos não à
parte.
"Coincidentemente, as duas
músicas foram escolhidas por
mim. Mas eu nunca tinha feito essa análise. Escolhi porque são belas canções", diz Britto.
Segunda curiosidade. O disco
acaba com a música "Aluga-se",
de Raul Seixas e Cláudio Roberto,
composta há tempos, mas profética como poucas, um divertido libelo dos tempos neoliberais.
"É engraçado. Acho que a música foi composta em 1975. Há tantos anos, essa música não fazia
tanto sentido como hoje", é Britto
quem responde.
Falado nisso, quem escolhe as
músicas?
"Não escolhemos as músicas
pensando se vai vender mais ou
não. É uma somatória, por consenso. Temos a tendência ao impasse. Nós, dos Titãs, somos um
mamute, uma estatal gigante", diz
Reis.
"O processo seletivo das composições é sempre muito desgastante. A tendência é que se torne
mais desgastante, pelo volume de
composições. Cada um dos autores sempre pensa em como fazer
para que os outros gostem de sua
música", afirma Reis.
"Tudo é decido na discussão, na
habilidade e na sedução, principalmente na sedução", diz Britto.
"Estamos há 17 anos, na mesma
gravadora. Nunca ninguém disse
o que colocar ou não. Somos nós
que decidimos. Gera um dispêndio de energia muito grande. É jogo duro", reclama Marcelo Fromer.
Quer dizer que, além de agradar
ao público e à crítica, cada um tem
que agradar aos outros titãs?
"Principalmente!", completa
Reis. Mas, então, é um estresse ser
um titã. São em média 15 shows
por mês.
Eles têm, ao todo, 16 boquinhas
(filhos) para sustentar. "É um estresse, mas depois é recompensado", conta Paulo Miklos. "É cansativo, mas a gente se diverte muito", diz Fromer.
O disco, "Titãs, As Dez Mais",
foi gravado em Seattle, EUA, produzido pelo grunge Jack Endino
que já havia produzido "Titanomaquia" e "Domingo". Os arranjos dos metais da maioria das músicas são de Eumir Deodato.
"Estamos, agora, em julho, parando para cada um tocar o seu
projeto", diz Miklos. Em julho?
Julho já passou. Ah, julho do ano
que vem? Agora, para vocês, é julho do ano que vem? "Pois é, nossa agenda anda meio cheia", ironiza Miklos. Meio?!
Projetos
Depois, cada titã parte para um
projeto próprio. Fromer prepara
a biografia do jogador Casagrande, Charles Gavin vai remixar discos do arquivo da gravadora Continental, como o dos Secos e Molhados, e os outros titãs preparam
discos solos. Como é mole ser um
titã.
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