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26ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO
RETROSPECTIVA
Russo diz que seu trabalho não é "grande arte" e que os espectadores se submetem a um "ato de violência"
Sokúrov critica o cinema e os cineastas
NEUSA BARBOSA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Convidado de honra e homenageado com retrospectiva na 26ª
Mostra BR de Cinema, o cineasta
russo Aleksandr Sokúrov manifestou ontem uma surpreendente
decepção com sua própria arte.
"Nunca considerei o cinema uma
grande arte, e sim a música, a literatura, as artes plásticas. Meus
mestres estão nos museus e nas
galerias", disse, em entrevista coletiva, em São Paulo.
"Se Deus um dia decidir investigar por que as pessoas hoje estão
cada vez piores, serão os cineastas
os primeiros a ter que prestar
contas", prosseguiu, recusando,
porém, qualquer hipótese de
abandonar o cinema. Seu desencanto, disse, vem do que identifica
como "falta de espaço artístico"
ao redor do cinema.
Demonstrando preocupação
ética em relação à atitude do cineasta diante de seus espectadores, Sokúrov destacou conhecer
bem o preço que o público paga
para ver os filmes -e que isso
não se referia ao dinheiro e sim ao
"tempo que os espectadores gastam numa sessão e que nunca voltará às suas vidas".
Lamentou o que chamou de
"ato de violência" que o cineasta
exerce sobre os espectadores.
"Eles quase não têm escolhas. Imponho a eles meus personagens,
meus atores, música, e os manipulo pela montagem. E eles, por
alguma razão, têm que permanecer na sala. Não é justo."
Ao optar pelo plano-sequência
único de seu filme mais recente,
"Arca Russa", o diretor entende
que, de alguma forma, aliviou essa manipulação inerente ao trabalho. Ao colocar o público diante de um filme como esse, sem
cortes, ele considera que os espectadores poderão sentir mais o fluxo do tempo e colocar-se na pele
dos visitantes do Museu Hermitage, em São Petersburgo, o local
das filmagens.
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