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CRÍTICA
"Primogênito" antecipa fórmula do sucesso
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Anjos e Demônios" faz
mistura para fiel leitor nenhum botar defeito. A fórmula é
exatamente a mesma de "O Código Da Vinci": narrativa fluente,
confronto entre ciência e religião,
grupos esotéricos, aparatos de alta tecnologia, códigos secretos, pílulas de história da arte, muitas
informações supostamente verídicas e discussão etimológica.
Para comentar a obra, antes de
mais nada, é preciso deixar claro
que não se trata de "literatura". O
livro apenas compartilha um código, a escrita, usado também por
inúmeras outras formas de texto.
Ao contrário do que acontece
com os contos policiais de Jorge
Luis Borges ou com os romances
de Patricia Highsmith, para citar
dois autores muito diferentes entre si, a força do livro de Dan
Brown se sustenta quase exclusivamente no enigma.
Depois que você sabe quem são
os misteriosos culpados, não faz
sentido voltar a ele. Ao contrário
de um texto literário, uma obra
como esta não exige releitura,
mais do que isso, não se modifica
com a releitura: uma vez consumida, está terminada (ainda que
os leitores/espectadores estejam
cada vez mais comodistas, dispostos a sempre ler/ver mais do
mesmo, como pode ser facilmente comprovado pelas inúmeras
seqüências idênticas aos seus originais lançadas semanalmente).
É por tentar estabelecer comparações entre as duas formas que
um crítico como Geoffrey Hartman pôde escrever, em um artigo
há mais de 20 anos, que "o problema com o romance policial não é
que ele seja moral, e sim moralista, não é que ele seja popular, e
sim convencional, não é que lhe
falte realismo, e sim que ele apanhe o realismo mais recente e se
aproveite dele".
Dito isso, é preciso dizer também que o livro é divertido e é
mesmo difícil largá-lo antes de
terminá-lo. Ele dá de dez a zero
nas produções dos Sidneys Sheldons da vida, cujos livros tentam
ser "literários" e, às vezes até com
material parecido, só conseguem
fazer pastiches horríveis de romances ruins do século 19.
Ao contrário de "O Código Da
Vinci", em que os elementos daquela fórmula citada acima são
atirados para o leitor em quase todas as páginas do livro como se o
autor tivesse necessidade de explorar ao máximo uma receita
que deu certo, aqui eles comparecem com maior comedimento,
dando a Dan Brown mais tempo
para desenvolver a seqüência narrativa e os personagens. Isso faz
diferença principalmente no final,
em que -a despeito do salto de
helicóptero mais estapafúrdio da
história- as linhas da intriga são
mais bem amarradas.
Por fim, uma sugestão. Os fãs de
romances assim vão certamente
apreciar uma série como "Alias",
que lida com questões muito semelhantes. Para quem se interessar, a terceira temporada começa
a ser exibida na próxima quarta-feira, no canal Sony.
Adriano Schwartz é doutor em teoria literária pela USP e autor de "O Abismo Invertido - Pessoa, Borges e a Inquietude do Romance em "O Ano da Morte de Ricardo Reis'"(ed. Globo)
Anjos e Demônios
Autor: Dan Brown
Editora: Sextante
Quanto: R$ 39,90 (464 págs.)
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