São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2006

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Mônica Bergamo

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Um dos sommeliers mais respeitados do Brasil, Manoel Beato, lança um guia com vinhos bons e baratos, bons e caros -e com aqueles excepcionais e inacessíveis

Ana Ottoni/Folha Imagem
Manoel Beato: "Inventaram que restaurante fino não pode ter vinho de supermercado"


Sommelier do Fasano há 15 anos, Manoel Beato conhece algumas das maiores e melhores adegas particulares de São Paulo -e do mundo. Adegas como a do empresário Lírio Parisotto, da Videlolar, que tem 10 mil garrafas com verdadeiras jóias, como Pétrus, Mouton Rothschild e Romanée-Conti. Os clientes que ele atende todas as noites no Fasano, e que o celebram como um dos maiores especialistas do Brasil, estão entre os mais sofisticados do país e do mundo. São pessoas capazes de saborear um conhaque de R$ 900 a dose (a dose!) e um vinho de US$ 12 mil a garrafa.
 

Pois Beato, do cume da montanha, lançou seu olhar por todo o horizonte para reunir, numa publicação, mais de mil vinhos, de todas as nacionalidades, disponíveis no mercado brasileiro. A idéia foi da editora Larousse, que propôs a ele uma parceria para a confecção do "Guia de Vinhos Larousse".
 

Do Pão de Açúcar ao Carrefour, passando pelas mesas do Fasano, Beato provou de tudo um pouco para fazer a seleção dos vinhos que entrariam no guia. Ele deu notas de zero a 20 e colocou no guia apenas os que conseguiam, no mínimo, nota dez. O preço não importava: Beato selecionou garrafas de R$ 12 a milhões de reais, num ranking de um cifrão (abaixo de R$ 26) a seis cifrões (acima de R$ 200 até o infinito). O que contou mesmo foi a qualidade.
 

"Inventaram que restaurante fino não pode ter vinho de supermercado, e daí surgiu essa expressão "vinho de supermercado". E eu percebi que pessoas muito ricas, do mercado financeiro, compravam vinhos de R$ 25 para servir aos amigos, em casa. São vinhos muito bons, que eu tomaria", diz. Beato afirma que o guia não é dirigido a especialistas apenas, nem a bilionários, mas a qualquer um que queira fazer um jantarzinho às pressas e não sabe que vinho servir. "Tento desmistificar a noção de que o mundo do vinho é algo restrito a poucos, um clube altamente excludente e intimidador, uma elite de abastados sempre prontos a torcer seus preciosos narizes a quaisquer vinhos abaixo da excelência absoluta", diz. "Vários aspectos que tornam certos vinhos o "Santo Graal" dos degustadores são encontráveis também em outros, mais modestos e menos alardeados." A seguir, algumas das dicas do guia de Beato.

OS MELHORES

Entre os melhores do mundo disponíveis no Brasil está o Mouton Rothschild 2000; o Mouton Rothschild da direita é de 1945 e só pode ser comprado em leilões pelo mundo; uma garrafa pode chegar a US$ 10 mil

OS MELHORES ENTRE OS MELHORES

Os únicos vinhos que receberam nota máxima de Beato no guia são os franceses. O sommelier elegeu os Bordeaux 1982 como a grande safra do momento. "Eles começam a chegar a sua maturidade e plenitude", diz. Segundo ele, o Cheval Blanc "atingiu a nota máxima com louvor, sendo que o Trotanoy foi uma grata e grande surpresa". A lista traz os seguintes châteaux: Cheval Blanc, Trotanoy, Mouton Rothschild, Latour, Certan-de-May, Latife Rothschild, Léoville-Las Cases, Pétrus, além do Le Pin. "São os vinhos que as pessoas levam ao Fasano para saborear com trufas", diz.

 

Beato indicou produtores de destaque da Borgonha, que receberam nota máxima, ou 20. São eles: Domaine de la Romanée-Conti, Bernard Dugat-Py, Denis Mortet, des Comtes Lafon, Dominique Laurant, Dujac, Leflaive, Leroy e Pacalet.

"XINXIM, CHARDONNAY E CHUCHU!"

No guia, Beato dá dicas de harmonização dos vinhos com pratos que ele chama de "unanimidades nacionais", como baião de dois, pastel de pamito, entre outros. "A gastronomia brasileira permite uma verdadeira viagem de possibilidades com o vinho", diz o sommelier. "Se o hábito consagrado é tomar caipirinha com feijoada, por que não testar um bom tinto leve com viva acidez?", sugere. Ao lado, alguns dos pratos e vinhos indicados por Beato.

NOTAS ALTAS, PREÇOS TAMBÉM

No guia, há também os vinhos caros que não chegam à "perfeição" de uma nota 20, mas que também recebem notas altas. Na maioria dos casos, são vinhos produzidos na Europa. A Espanha, por exemplo, tem 81 garrafas na lista, das quais apenas o Vega Sicilia Unico 1999 e o Numanthia Thermes 2003 receberam nota 18 de Manoel Beato. Todos com preço acima de R$ 200.
 

Já a Itália, que aparece com 119 vinhos no guia, tem três garrafas com nota 18, como o Masseto Tenuta Dell'Ornellaia 1998. Segundo o sommelier, trata-se de um vinho "constante na qualidade, simplesmente uma obra-prima, incontestável".

OS MELHORES NACIONAIS

Beato selecionou 74 vinhos nacionais para o guia. A nota mais alta, entre eles, foi 14, concedida apenas a três vinhos: o Vila Francioni 2004, o Espumante Natural Brut Casa Valduga e o Desejo Salton 2004. Todos estão na faixa de R$ 46 a R$ 100. "Atualmente, os vinhos brasileiros têm exemplares que não perdem em nada para alguns estrangeiros de qualidade", escreveu Beato no guia. Mas a maioria dos vinhos brasileiros (40) citados por ele obteve apenas a nota 10. "O caminho para o Brasil está só começando", completa.

QUEM VÊ CIFRÃO NÃO VÊ CORAÇÃO

O guia mostra que nem todos os "vinhos de supermercado" são de qualidade duvidosa. Nas prateleiras, é possível encontrar, por exemplo, o Fortaleza do Seival Tannat 2005, nacional, da Miolo. Custa menos que R$ 26 e recebeu a nota 12. É a mesma dada pelo sommelier a um vinho dez vezes mais caro: o argentino Felipe Rutini 1999. "Eles são equivalentes, mas diferentes entre si", diz. "O Fortaleza é concentrado em sabor e cor. Pode acompanhar carnes vermelhas com molhos intensos. O Rutini é mais envelhecido, delicado e complexo. Acompanha aves ou carnes com especiarias do tipo açafrão."


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