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"Princesas" tira roupa de prostitutas
O consagrado diretor espanhol Fernando León de Aranoa retrata a vida das meretrizes de Madri, mas não fala de sexo
Cineasta tem o trabalho comparado ao do inglês Ken Loach, por centralizar nos dramas sociais sua principal preocupação temática
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Para contar a história de
duas prostitutas que vivem em Madri, o cineasta Fernando León de Aranoa, 38, freqüentou por alguns
meses a Casa de Campo, conhecida zona de meretrício da capital espanhola. E a inusitada
conclusão a que chegou foi
que... não deveria fazer um filme sobre sexo.
Assim, apesar de "Princesas"
retratar mulheres que vivem de
sexo pago, não há sequer uma
cena de sexo propriamente dito. "Quando via as prostitutas
conversando com os clientes,
encostadas na janela dos seus
carros, ficava desinteressado.
Era tudo encenação. Tive, então, vontade de contar o que
acontece no "backstage" desse
teatro", disse o cineasta em entrevista à Folha, por telefone,
de Madri, onde vive.
"Princesas", assim, é um filme sobre tudo o que as prostitutas fazem. Menos sexo. Se para muitos isso pode soar, como diz o provérbio, como uma
empada onde falta a azeitona,
aqueles que conhecem um
pouco a trajetória do diretor
saberão que o filme não terá
menos interesse por causa disso. Aranoa é um artesão ao modelar personagens, e uma das
coisas que faz melhor é tratar
da relação entre pessoas que
compõem um mesmo grupo e
que estão ligadas entre si ou
por determinado contexto ou
por alguma fatalidade.
Em "Princesas", Aranoa
amarra histórias de prostitutas
da mesma forma como retratou o universo masculino em
"Segundas-Feiras ao Sol" (vencedor do Goya de 2003 que
desbancou Pedro Almodóvar
na indicação da academia espanhola para o Oscar) -exaltando suas fragilidades.
""Segundas-Feiras" é um filme mais cínico, mas divide com
"Princesas" o princípio de fundamentar-se na intimidade de
pessoas que se desiludem com
a realidade e encontram na
convivência o suporte emocional para viver", diz.
A história de "Princesas" gira
em torno de duas mulheres,
Caye (Candela Peña) e Zulema
(Micaela Nevárez). A primeira
é espanhola e sua escolha pela
prostituição tem a ver com
uma fantasia, um desejo de fuga da vida burguesa a que sua
família a condena. A segunda é
uma imigrante dominicana,
que está ilegalmente na Espanha e que tem na prostituição a
única forma de ganhar seu pão.
Zulema enfrenta mil dificuldades com a polícia e com um
amante sádico que a espanca e
lhe faz falsas promessas de
conseguir "los papeles" que regularizariam sua situação.
"Uma abre a cabeça da outra.
Enquanto Zulema mostra a Caye que a vida pode ser dura, Caye lhe apresenta a importância
do aspecto emocional do que
ambas vivem nas ruas", diz.
Comparações
Aranoa é freqüentemente
comparado ao britânico Ken
Loach, por conta de seu interesse por dramas sociais. Entretanto, diferentemente do diretor de "The Wind that Shakes
the Barley" (que também está
na Mostra), o espanhol não empunha bandeiras nem toma
partido do ponto de vista ideológico. "Não é uma prioridade,
já que há muita gente fazendo
isso. E Ken Loach é um dos que
o executam da melhor forma."
"Segundas-Feiras", por
exemplo, se passava numa cidade portuária, onde um grupo
de operários de um estaleiro fechado reunia-se todos os dias
para beber e refletir sobre sua
desgraça comum. "Eu não esperava um sucesso tão grande
para um filme que é tão espanhol, tão voltado a uma questão
específica do meu país".
A "nova" Espanha, aquela
que surge pós-União Européia,
pós-Zapatero e pós-atentados
de 11 de Março e que se abre para refletir sobre seu passado
(vide a revisão histórica que faz
da Guerra Civil Espanhola) está latente nos detalhes de
"Princesas". E Aranoa foca
atentamente a história daqueles que estão perdendo e ficando para trás num país que acorda, revigorado.
PRINCESAS
Direção: Fernando León de Aranoa
Onde: hoje, às 17h20, no Reserva Cultural Sala 2; ter., às 19h, no Memorial da América Latina
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