São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2006

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Crítica/Tim em SP

Hancock faz show apenas correto; "Coadjuvantes" do jazz surpreendem

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Surpresas são freqüentes em festivais. Expectativas podem ser quebradas, mesmo quando esses eventos musicais não estabelecem competição entre os artistas. Foi o que se viu na estréia do Tim Festival em São Paulo, anteontem, no Auditório Ibirapuera.
Novidade no formato desse evento, a noite de pianistas de jazz parecia destinada a ter como clímax o show de Herbie Hancock, o maior astro do gênero nesta edição do festival, responsável pelo fato de os ingressos terem se esgotado em poucos dias.
Sem poder contar com a banda de sua recente turnê mundial, Hancock convocou músicos talentosos para acompanhá-lo. Com alguns ensaios a mais, Chris Potter (sax tenor), Matt Garrison (baixo) e Terri Lyne Carrington (bateria) certamente poderiam realizar um show empolgante, mas o que se ouviu foi só uma apresentação correta, sem brilho especial.
Hancock dividiu-se entre o piano acústico e os teclados durante todo o show. Para alegria dos fãs, tocou três de seus clássicos dos anos 60 ("Maiden Voyage", "Dolphin Dance" e "Cantaloupe Island"), que serviram de trilhas para longos improvisos, alguns excessivos.
Também relembrou a fase jazz-funk dos anos 70, fazendo muitos se mexerem nas poltronas ao ouvirem o hit "Chameleon", do popular álbum "Head Hunters".

Menos é mais
Surpresa mesmo, para grande parte do público, foi o trio do norte-americano Ahmad Jamal. Tocando composições próprias, além do sucesso "Poinciana", o veterano pianista excitou a platéia com um jazz personalíssimo, recheado de paradas súbitas, silêncios e oscilações de dinâmica.
Jamal reduz a música a um mínimo de elementos (deve vir daí a admiração que o trompetista Miles Davis, adepto do conceito "menos é mais", declarava ter por ele). E a precisão musical de James Cammack (baixo) e Idris Muhammad (bateria), que integram o Ahmad Jamal trio há anos, também reforça o impacto das composições do pianista.
Outra bela surpresa da noite foi Stefano Bollani. Acompanhado pelo eficiente quinteto I Visionari, o pianista italiano exibiu composições bem originais, como "La Sicilia" e "Visione nš 1", que misturam influências da música erudita contemporânea e do jazz, temperadas com boas doses de humor. A platéia também se divertiu bastante com as tentativas do italiano de falar e cantar em português, especialmente na picaresca "Quando la Morte Verrà a Prendermi".
Tocando com uma banda formada à última hora, mesmo contando com experientes feras do jazz, Herbie Hancock parece ter esquecido de uma lição básica. Um time entrosado é essencial.


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