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Crítica/Tim em SP
Hancock faz show apenas correto; "Coadjuvantes" do jazz surpreendem
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Surpresas são freqüentes em
festivais. Expectativas podem
ser quebradas, mesmo quando
esses eventos musicais não estabelecem competição entre os
artistas. Foi o que se viu na estréia do Tim Festival em São
Paulo, anteontem, no Auditório Ibirapuera.
Novidade no formato desse
evento, a noite de pianistas de
jazz parecia destinada a ter como clímax o show de Herbie
Hancock, o maior astro do gênero nesta edição do festival,
responsável pelo fato de os ingressos terem se esgotado em
poucos dias.
Sem poder contar com a banda de sua recente turnê mundial, Hancock convocou músicos talentosos para acompanhá-lo. Com alguns ensaios a
mais, Chris Potter (sax tenor),
Matt Garrison (baixo) e Terri
Lyne Carrington (bateria) certamente poderiam realizar um
show empolgante, mas o que se
ouviu foi só uma apresentação
correta, sem brilho especial.
Hancock dividiu-se entre o
piano acústico e os teclados durante todo o show. Para alegria
dos fãs, tocou três de seus clássicos dos anos 60 ("Maiden Voyage", "Dolphin Dance" e "Cantaloupe Island"), que serviram
de trilhas para longos improvisos, alguns excessivos.
Também relembrou a fase
jazz-funk dos anos 70, fazendo
muitos se mexerem nas poltronas ao ouvirem o hit "Chameleon", do popular álbum "Head
Hunters".
Menos é mais
Surpresa mesmo, para grande parte do público, foi o trio do
norte-americano Ahmad Jamal. Tocando composições
próprias, além do sucesso
"Poinciana", o veterano pianista excitou a platéia com um jazz
personalíssimo, recheado de
paradas súbitas, silêncios e oscilações de dinâmica.
Jamal reduz a música a um
mínimo de elementos (deve vir
daí a admiração que o trompetista Miles Davis, adepto do
conceito "menos é mais", declarava ter por ele). E a precisão
musical de James Cammack
(baixo) e Idris Muhammad (bateria), que integram o Ahmad
Jamal trio há anos, também reforça o impacto das composições do pianista.
Outra bela surpresa da noite
foi Stefano Bollani. Acompanhado pelo eficiente quinteto I
Visionari, o pianista italiano
exibiu composições bem originais, como "La Sicilia" e "Visione nš 1", que misturam influências da música erudita contemporânea e do jazz, temperadas
com boas doses de humor. A
platéia também se divertiu bastante com as tentativas do italiano de falar e cantar em português, especialmente na picaresca "Quando la Morte Verrà a
Prendermi".
Tocando com uma banda formada à última hora, mesmo
contando com experientes feras do jazz, Herbie Hancock parece ter esquecido de uma lição
básica. Um time entrosado é essencial.
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