São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2007

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31ª Mostra de SP

Kore-eda abraça tradição samurai

"Hana", do diretor de "Ninguém Pode Saber", tem estilo diferente de seus longas anteriores, com mais música e humor

Cineasta japonês anuncia projeto de filmar em SP conflito em comunidade japonesa no período da Segunda Guerra Mundial

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os apreciadores da discrição de "Ninguém Pode Saber" e "Depois da Vida", os dois filmes que fizeram do japonês Hirokazu Kore-eda um dos nomes cinematográficos de mais prestígio do país, podem ver com reservas seu mais recente longa, "Hana" (flor). Kore-eda abraça um dos gêneros mais tradicionais do cinema japonês, o filme de samurai, e usa com ênfase a trilha sonora e o humor. "Hana" tem mais duas sessões na Mostra de Cinema de São Paulo, e o diretor chegou anteontem à cidade para participar do júri do evento.
"Gostaria de fazer um filme de época diferente dos outros. No Japão, depois de "O Último Samurai" [2003, de Edward Zwick], houve um "boom" de filmes de samurai, mas sempre o vendo como destemido, invencível", conta ele à Folha, já em São Paulo. "Achei conveniente fazer diferente, um samurai humanista, que assume as próprias fraquezas." "Hana" tem como protagonista o samurai Soza (Junichi Okada), que vai para Edo (a antiga Tóquio) em busca de vingança contra o assassino de seu pai. Acaba morando em uma vila miserável e se integra à pobre comunidade, especialmente com uma viúva, Osae (Rie Miyazawa). Não tem inimigos nem guerras e passa os dias sendo professor de matemática e cuidando de pássaros.
"Ambientei o enredo em 1702 porque foi uma época em que não se precisava mais de samurais. Justamente naqueles anos do Período Edo houve um grande renascimento cultural no país, com essa cultura da guerra em decadência", diz o diretor. "Os samurais eram decorativos, nunca precisavam desembainhar a espada."
Apesar da música e do humor insistentes -"não queria que o público achasse que veria mais um filme chato do gênero", destaca-, ele enxerga elementos comuns entre "Hana" e seus outros filmes. "A vida depois de uma grande perda é central em meus filmes. Me interessa enfocar esse processo."
Kore-eda avalia que "Ninguém Pode Saber" o tornou conhecido em diversas partes do mundo, principalmente após o prêmio de melhor ator dado no Festival de Cannes, em 2004, a Yuya Yagira, na época com 14 anos. "Foi muito emocionante a vitória, mas, como diretor, acho que as cinco crianças mereciam ganhar o prêmio."

Filmagens em SP
O cineasta anunciou que pretende rodar em São Paulo um longa ambientado durante a Segunda Guerra Mundial na comunidade japonesa da cidade. O foco será o conflito estabelecido entre os "vitoristas" do grupo Shindo Renmei, que não aceitavam a derrota do Japão na guerra, contra o restante dos nipo-brasileiros. "Corações Sujos", livro de Fernando Morais (Companhia das Letras), é base de parte do roteiro.
"O imigrante que veio para cá perdeu a origem e, como nos meus outros filmes, só depois percebeu como isso era importante. A tragédia que decorre da oposição entre esses dois grupos no Brasil é desconhecida no Japão", conta ele, que deu o nome provisório do filme de "O Navio que Nunca Vem".
"Imagino uma cena de manifestação em São Paulo, com alguém com uma faixa dizendo que o navio já chegou. E ele nunca veio", diz o diretor, que está captando dinheiro, inclusive no Brasil, para conseguir realizar o longa, ainda sem data definitiva de rodagem.


HANA
Produção: Japão, 2006
Direção: Hirokazu Kore-eda
Com: Junichi Okada, Rie Miyazawa
Quando: hoje, às 22h10, no Cinesesc; amanhã, às 14h, no Unibanco Arteplex

Leia sobre o documentário "Pindorama - A Verdadeira História dos Sete Anões" folha.com.br/ilustradanocinema


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