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31ª Mostra de SP
Kore-eda abraça tradição samurai
"Hana", do diretor de "Ninguém Pode Saber", tem estilo diferente de seus longas anteriores, com mais música e humor
Cineasta japonês anuncia
projeto de filmar em SP
conflito em comunidade
japonesa no período da
Segunda Guerra Mundial
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os apreciadores da discrição
de "Ninguém Pode Saber" e
"Depois da Vida", os dois filmes
que fizeram do japonês Hirokazu Kore-eda um dos nomes cinematográficos de mais prestígio do país, podem ver com reservas seu mais recente longa,
"Hana" (flor). Kore-eda abraça
um dos gêneros mais tradicionais do cinema japonês, o filme
de samurai, e usa com ênfase a
trilha sonora e o humor. "Hana" tem mais duas sessões na
Mostra de Cinema de São Paulo, e o diretor chegou anteontem à cidade para participar do
júri do evento.
"Gostaria de fazer um filme
de época diferente dos outros.
No Japão, depois de "O Último
Samurai" [2003, de Edward
Zwick], houve um "boom" de filmes de samurai, mas sempre o
vendo como destemido, invencível", conta ele à Folha, já em
São Paulo. "Achei conveniente
fazer diferente, um samurai
humanista, que assume as próprias fraquezas."
"Hana" tem como protagonista o samurai Soza (Junichi
Okada), que vai para Edo (a antiga Tóquio) em busca de vingança contra o assassino de seu
pai. Acaba morando em uma
vila miserável e se integra à pobre comunidade, especialmente com uma viúva, Osae (Rie
Miyazawa). Não tem inimigos
nem guerras e passa os dias
sendo professor de matemática
e cuidando de pássaros.
"Ambientei o enredo em
1702 porque foi uma época em
que não se precisava mais de
samurais. Justamente naqueles anos do Período Edo houve
um grande renascimento cultural no país, com essa cultura
da guerra em decadência", diz o
diretor. "Os samurais eram decorativos, nunca precisavam
desembainhar a espada."
Apesar da música e do humor insistentes -"não queria
que o público achasse que veria
mais um filme chato do gênero", destaca-, ele enxerga elementos comuns entre "Hana" e
seus outros filmes. "A vida depois de uma grande perda é
central em meus filmes. Me interessa enfocar esse processo."
Kore-eda avalia que "Ninguém Pode Saber" o tornou conhecido em diversas partes do
mundo, principalmente após o
prêmio de melhor ator dado no
Festival de Cannes, em 2004, a
Yuya Yagira, na época com 14
anos. "Foi muito emocionante
a vitória, mas, como diretor,
acho que as cinco crianças mereciam ganhar o prêmio."
Filmagens em SP
O cineasta anunciou que pretende rodar em São Paulo um
longa ambientado durante a
Segunda Guerra Mundial na
comunidade japonesa da cidade. O foco será o conflito estabelecido entre os "vitoristas"
do grupo Shindo Renmei, que
não aceitavam a derrota do Japão na guerra, contra o restante
dos nipo-brasileiros. "Corações
Sujos", livro de Fernando Morais (Companhia das Letras), é
base de parte do roteiro.
"O imigrante que veio para cá
perdeu a origem e, como nos
meus outros filmes, só depois
percebeu como isso era importante. A tragédia que decorre da
oposição entre esses dois grupos no Brasil é desconhecida no
Japão", conta ele, que deu o nome provisório do filme de "O
Navio que Nunca Vem".
"Imagino uma cena de manifestação em São Paulo, com alguém com uma faixa dizendo
que o navio já chegou. E ele
nunca veio", diz o diretor, que
está captando dinheiro, inclusive no Brasil, para conseguir
realizar o longa, ainda sem data
definitiva de rodagem.
HANA
Produção: Japão, 2006
Direção: Hirokazu Kore-eda
Com: Junichi Okada, Rie Miyazawa
Quando: hoje, às 22h10, no Cinesesc; amanhã, às 14h, no Unibanco Arteplex
Leia sobre o documentário "Pindorama - A Verdadeira História dos Sete Anões"
folha.com.br/ilustradanocinema
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