São Paulo, quinta-feira, 29 de outubro de 2009

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Não gostei

Precisei de dois pacotes de sal de frutas

IVAN FINOTTI
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Foi como uma pessoa normal em termos gastronômicos -ou seja, alguém incapaz de diferenciar um caviar beluga de outro sevruga, e mais, que até há 48 horas nem sequer sabia que essa distinção existia- que tive a ousadia de comparecer ao Jantar das Gerações França-Brasil na noite de segunda, no chique hotel Hyatt, em São Paulo.
Nada impressionado de antemão -talvez apenas um pouquinho com o preço de R$ 5.000 cobrado dos convivas banqueiros-, iniciei a noite com champanhe Veuve Clicquot e com o coquetel servido no saguão.
Ali, ostra à moda de Nantes, flan de bacon com redução e tortinha crocante de caranguejo real estavam ótimos. Guioza de confit de pato, minivol-au-vent de aspargos e minipizza frita de margarita, esta última gordurosa demais, não valeram a pena.
Passando ao salão de jantar, começou a verdadeira maratona. As entradas: foram duas saladas (de frutos do mar e de aspargos com ervas selvagens), uma geleia de lagostim, um dadinho de foie gras líquido e um ravióli de batata e manteiga (nota dez!).
Importante dizer que o cardápio não era composto de sugestões, mas sim para comer inteiro. Cada prato era exclusivo de um dos 12 chefs franceses estrelados pelo guia "Michelin", ou de um dos 12 chefs franco-brasileiros também convidados. Cinco pratos de peixe: lula recheada, vieiras trufadas, lagosta assada, robalo normal e robalo defumado com caviar ("beluga", iluminou meu vizinho, o gourmet István Wessel).
Como as porções eram maiores do que deveriam (eram, digamos, equivalentes a dois danoninhos), a festa assumiu tons grotescos. Trata-se do ato de empanturrar-se, numa sequência da abarrotamento de comida, em que não é possível apreciar nada, apenas esperar pelo próximo. Lembrei-me do escatológico filme "A Comilança", de Marco Ferreri.
Uma ave: pato laqueado ao mel. Cordeiro: em nougatine de cèpes (como?). Uma carne: milanesa de costela ao molho de jabuticaba. Mais musse de sobremesa, e profiteroles, e café com chocolates, e grand crus Nespresso (café) e conhaque.
No meio de tudo isso, três vinhos brancos (um chablis, um montrachet e um riesling) e dois tintos bordeaux, além do licorado para sobremesa. Foi a primeira vez na minha vida que um sal de frutas foi insuficiente para passar a noite. Foram necessários dois pacotes.


O jornalista IVAN FINOTTI jantou a convite do Senac São Paulo e da revista "Prazeres da Mesa", organizadores do evento


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