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Não gostei
Precisei de dois pacotes de sal de frutas
IVAN FINOTTI
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA
Foi como uma pessoa
normal em termos gastronômicos -ou seja,
alguém incapaz de diferenciar
um caviar beluga de outro sevruga, e mais, que até há 48 horas nem sequer sabia que essa
distinção existia- que tive a
ousadia de comparecer ao Jantar das Gerações França-Brasil
na noite de segunda, no chique
hotel Hyatt, em São Paulo.
Nada impressionado de antemão -talvez apenas um pouquinho com o preço de R$
5.000 cobrado dos convivas
banqueiros-, iniciei a noite
com champanhe Veuve Clicquot e com o coquetel servido
no saguão.
Ali, ostra à moda de Nantes,
flan de bacon com redução e
tortinha crocante de caranguejo real estavam ótimos.
Guioza de confit de pato, minivol-au-vent de aspargos e minipizza frita de margarita, esta
última gordurosa demais, não
valeram a pena.
Passando ao salão de jantar,
começou a verdadeira maratona. As entradas: foram duas saladas (de frutos do mar e de aspargos com ervas selvagens),
uma geleia de lagostim, um dadinho de foie gras líquido e um
ravióli de batata e manteiga
(nota dez!).
Importante dizer que o cardápio não era composto de sugestões, mas sim para comer
inteiro. Cada prato era exclusivo de um dos 12 chefs franceses
estrelados pelo guia "Michelin", ou de um dos 12 chefs franco-brasileiros também convidados.
Cinco pratos de peixe: lula
recheada, vieiras trufadas, lagosta assada, robalo normal e
robalo defumado com caviar
("beluga", iluminou meu vizinho, o gourmet István Wessel).
Como as porções eram maiores do que deveriam (eram, digamos, equivalentes a dois danoninhos), a festa assumiu tons
grotescos. Trata-se do ato de
empanturrar-se, numa sequência da abarrotamento de comida, em que não é possível apreciar nada, apenas esperar pelo
próximo. Lembrei-me do escatológico filme "A Comilança",
de Marco Ferreri.
Uma ave: pato laqueado ao
mel. Cordeiro: em nougatine de
cèpes (como?). Uma carne: milanesa de costela ao molho de
jabuticaba. Mais musse de sobremesa, e profiteroles, e café
com chocolates, e grand crus
Nespresso (café) e conhaque.
No meio de tudo isso, três vinhos brancos (um chablis, um
montrachet e um riesling) e
dois tintos bordeaux, além do
licorado para sobremesa. Foi a
primeira vez na minha vida que
um sal de frutas foi insuficiente
para passar a noite. Foram necessários dois pacotes.
O jornalista IVAN FINOTTI jantou a convite do
Senac São Paulo e da revista "Prazeres da Mesa", organizadores do evento
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