São Paulo, sábado, 29 de outubro de 2011

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Escravas foram pioneiras da joalheria local

Livro "Joias de Crioula" aponta negras como criadoras de um estilo nascido no Brasil

VIVIAN WHITEMAN
EDITORA DE MODA

As escravas de origem africana trazidas ou nascidas no Brasil nos períodos colonial e do Império não só usavam acessórios sofisticados como deram os primeiros passos na criação de um estilo de joalheria que pode ser considerado tipicamente brasileiro.
"Os índios não trabalhavam com metalurgia. As portuguesas e brasileiras brancas importavam o estilo europeu. Já as escravas, a partir de um mix de estilos, inauguraram um novo capítulo no design de joias", afirma a pesquisadora e artista plástica Laura Cunha, autora do livro "Joias de Crioula".
Em parceria com o fotógrafo alemão Thomaz Milz, Laura Cunha pesquisou coleções particulares e acervos de museus e conseguiu reunir um registro surpreendente sobre os hábitos das escravas e negras alforriadas que viviam nas cidades, as "crioulas".
Muitas delas podiam ficar com o excedente que conseguissem vendendo produtos como frutas e doces de tabuleiro para seus senhores.
Como não tinham acesso a bancos, encomendavam aos ourives peças de ouro de baixo quilate, prata, coral, ossos, pedras locais e coco.
Assim, guardavam seu "pé-de-meia" nos colares, pulseiras, berloques e balangandãs. As joias exuberantes e coloridas contrastavam com as pérolas e diamantes usados pelas brancas.
"Essa espécie de poupança tinha muitas utilidades. Muitas dessas mulheres compraram sua própria liberdade e alforriaram parentes usando as joias como pagamento", conta a autora.
Já as escravas de casas ricas eram adornadas por seus próprios senhores.
Quando saíam para as ruas acompanhando suas senhoras ou crianças, eram exibidas em trajes finos e carregadas de joias.
"Nesses casos, a própria escrava era um objeto de ostentação do dono, um objeto de luxo a ser mostrado publicamente", completa.
Do ponto de vista da inovação de forma, o livro revela que as joias de crioula eram uma mistura de elementos africanos, europeus e árabes.
Crucifixos e figas aparecem ao lado de figuras representando frutas, bichos e elementos ligados aos orixás, como o tridente de Exu. As joias de crioula tinham uma forte carga religiosa e mística.
Outra inovação veio na forma de uso dessas joias. As crioulas privilegiavam o excesso, usando colares, pulseiras, anéis e brincos juntos. Acima do valor de cada peça, estava o impacto visual dado pela fartura do conjunto.

JOIAS DE CRIOULA
AUTOR Laura Cunha e Thomas Milz
EDITORA Terceiro Nome
QUANTO R$ 110 (204 págs.)


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