São Paulo, sábado, 29 de outubro de 2011 |
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CRÍTICA ROMANCE Bret Easton Ellis reencontra 'Abaixo de Zero' após 25 anos Autor californiano volta ao cenário de sua estreia em 'Suítes Imperiais' JOCA REINERS TERRON ESPECIAL PARA A FOLHA "Abaixo de Zero" (1985), romance de estreia de Bret Easton Ellis, retratou com fidelidade a bancarrota moral na qual estavam enfiados os jovens yuppies da Geração X. Numa prévia do que aconteceria nos neoliberais anos 1990, quatro semanas na vida dos recém-formados Clay, Julian e Blair davam o rumo do abismo. Em plenos anos Reagan, a mente doentia de Clay enveredava, gélida e calculista, por túneis de trens fantasmas e parques de diversões sem saída. Assim, a ensolarada Los Angeles era plasmada num livro sombrio, como se a imaginação de Franz Kafka estivesse à solta por Hollywood. Entre estupros de menores, "snuff movies" e viciados, a história de "Abaixo de Zero" escorria espinha dorsal abaixo feito uma dose de vodca: se calafrios eram inevitáveis, certa vertigem se impunha. Sexo, violência e drogas formavam o triunvirato hedonista que dava tom ao fracasso anticlimático da liberalidade surgida nos anos 1960. Escrito quando o autor tinha parcos 21 anos, o livro o arremessou à celebridade e a um destino idêntico ao de seus personagens milionários, que torravam fortunas em bacanais no tempo exato de uma cheirada na bandeja de prata mais próxima. Assim, tornou-se -além de autor cultuado- a marca de uma empresa niilista evidentemente sem futuro, e seu livro inaugural é um registro pavoroso da juventude norte-americana abastada de 1980. Como dizia a letra da canção do Timbuk 3, o futuro era tão brilhante que todos precisavam usar óculos escuros. E a cegueira advinda do período ainda causa repercussões -basta observar o que tem acontecido em Wall Street. De volta ao cenário inaugural em "Suítes Imperiais", Ellis flagra Clay e sua trupe 25 anos depois, na Los Angeles de Raymond Chandler e Dashiell Hammett, envolvidos com cinema, paranoicos, ainda mais sujos e cínicos. A sequência de "Abaixo de Zero" mostra paradoxos da existência hiperconectada e solitária de hoje, na qual a vida não passa de mera sombra refletida em telas de plasma. Dado o histórico de adaptações de sua obra, o novo romance pode ser lido como o roteiro de um filme noir. Estilisticamente um renovador desse gênero, ele apagam possibilidades de maniqueísmo, pois seu mundo só guarda lugar para culpados. JOCA REINERS TERRON é autor de "Do Fundo do Poço se Vê a Lua " (Cia. das Letras) SUÍTES IMPERIAIS AUTOR Bret Easton Ellis EDITORA Rocco TRADUÇÃO Ryta Vinagre QUANTO R$ 26,50 (176 págs.) AVALIAÇÃO ótimo Texto Anterior: Crítica/Romance: Novo livro de Edney Silvestre não convence Próximo Texto: "A Folha Dobrada" retrata limite entre amor e amizade Índice | Comunicar Erros |
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