São Paulo, sábado, 29 de outubro de 2011

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"A Folha Dobrada" retrata limite entre amor e amizade

Livro de William Maxwell conta a história da amizade entre dois garotos em 1945

NELSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

William Maxwell (1908-2000) foi um dos editores da revista "The New Yorker" e um ficcionista habilidoso nos matizes e nas sutilezas.
Em "A Folha Dobrada", há duas histórias: uma visível e outra secreta. A visível fala de amizade, a secreta, de amor. Talvez essa combinação fosse diferente se o romance não pertencesse ao ano de 1945, quando a homossexualidade ainda era ilegal nos EUA.
A história visível trata da amizade entre dois garotos, Lymie Peters e Spud Latham, do colégio à universidade, na Chicago dos anos 1920. Lymie é órfão e inseguro; Spud é forte e autoconfiante, mas não se dá bem com a família.
Os dois vivem -mal-adaptados- em mundos diferentes, até que se encontram, dando início à história secreta, perceptível só ao leitor.
O corpo é a principal instância do romance. Principalmente o corpo ágil e elegante de Spud, que causa admiração e inveja em seu amigo.

FRATERNIDADE
Não são poucos os momentos em que o contato físico substitui ou complementa a comunicação falada, na intimidade e na vida social. Os amigos se agarram, se empurram, se abraçam.
É o vocabulário do corpo. Durante uma partida de polo aquático, todos avançam em Lymie, que está com a bola, e o grupo afunda num emaranhado de pernas e braços.
Depois, durante a iniciação para ingressarem numa irmandade, o toque vira agressão sádica e o vocabulário do corpo revela termos brutos.
Esse é um dos momentos belos do romance. Maxwell sobrepõe dois ritos de puberdade: a iniciação dos jovens de Chicago e a dos nativos da Nova Guiné, nos quais tortura e humilhação fortalecem a camaradagem. "Todos unidos pelo cheiro do medo, que é o mesmo em toda parte."
A união melhora a intimidade. Spud, futuro boxeador, gosta de uma boa briga e é violento, exceto com Lymie. Mesmo quando este, irritado, tenta nocauteá-lo, usa a força só para acalmá-lo.
Uma afeição fraternal os liga. O autor é tão malandro que até as cenas mais insinuantes jamais descambam para o erotismo. Quando os dois dividem uma cama numa noite fria, o amor continua fraternal, mas a ambiguidade está aí, subterrânea.
É claro que no paraíso sempre há serpentes. Com a entrada em cena da garota Sally Forbes, a situação se complica radicalmente, apontando para um desenlace trágico.

A FOLHA DOBRADA
AUTOR William Maxwell
EDITORA Alfaguara
TRADUÇÃO Cássio de Arantes Leite
QUANTO R$ 39,90 (256 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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