São Paulo, sábado, 29 de outubro de 2011

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Filme "Las Acacias" supre falta de audazes

35ª MOSTRA DE SP Estreia de Pablo Giorgelli conta história de caminhoneiro que apanha passageira na estrada

INÁCIO ARAÚJO
CRÍTICO DA FOLHA

É fácil ao espectador notar porque "Las Acacias" pode ser entendido, desde já, como um dos melhores filmes desta Mostra. Nos primeiros 30 minutos de projeção, vemos um caminhoneiro de rosto fechado, que apanha uma mulher e um bebê.
Nada sabemos dos personagens ou de suas origens, exceto pelo que nos dizem seus rostos e corpos. Nem sabemos que ele se chama Rubén (Germán de Silva) e ela, Jacinta (Hebe Duarte).
No entanto, que formidável tensão existe na tela, justamente porque somos levados a perguntar: quem são eles, por que ele a leva?
Notamos que ela e sua filha, a bebê Anahí, incomodam o caminhoneiro. Os gestos de gentileza são mínimos.
Ele joga o cigarro fora quando ela sinaliza que aquilo pode fazer mal à filha. Ou lhe oferece o mate (um argentino que não partilha o mate é quase um pária).
Aos poucos, sabemos um pouco mais de ambos, como o presente de aniversário que Rubén leva para a irmã, ou que Jacinta, paraguaia, fala guarani. Pequenas coisas.
Mas, afinal, não será a nossa vida uma somatória de pequenas coisas? Por que não poderia a de personagens de cinema ser também assim?
A vida pode ser desinteressante, as obras de arte, não. E Pablo Giorgelli consegue esse feito raro, de extrair do trivial o excepcional. Porque existe uma evolução, é claro, uma relação que se esboça entre duas pessoas distantes.
Fazer com que uma pessoa olhe uma estranha é um mérito de poucos cineastas. E Giorgelli consegue isso já em seu primeiro filme, com o qual ganhou o prêmio Caméra d'Or em Cannes, neste ano.
Com este, ele ajuda a suprir a falta de um Kiarostami, de um Oliveira, os audazes ausentes na mostra. E confirma a abissal superioridade argentina no continente.

LAS ACACIAS
QUANDO hoje, às 20h, no Unibanco Arteplex (r. Frei Caneca, 569)
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo


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