São Paulo, quinta, 29 de outubro de 1998

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Daniela reedita seus temas de Carnaval

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Tudo de novo. Daniela Mercury apanhou um punhado de hinos baianos que tocaram à exaustão nos carnavais de 93, 94, 95, 96, 97, 98, recauchutou-os em versões ao vivo e os empacota, prontinhos e quentinhos, para o Carnaval de 99.
Eles estão em "Elétrica - Ao Vivo", que chega agora às lojas. Se os planos da cantora e os de sua gravadora, Sony, forem bem-sucedidos, fevereiro de 99 vai ser tomado por "O Canto da Cidade", "Swing da Cor"... Tudo de novo.
A MPB agradece? Não, é claro. Na origem, aquelas músicas já tinham muito pouco de interessantes; requentadas, são mais pobres ainda. Evidenciam que Daniela, de voz impressionantemente potente, se vê na necessidade, ainda assim, de se esgoelar para afetar essa tal "eletricidade" que prega em seu discurso musical/carnavalesco.
Canções como as citadas, de "aê aê aê", não favorecem qualidades de interpretação -são feitas para serem gritadas em cima de trio elétrico, só isso. "Elétrica" é, assim (como de resto toda a discografia da cantora), disco para a indústria carnavalesca, não pode pretender ir além disso.
O problema é que pretende. A capa simula a de "Ray of Light", de Madonna, como se uma estrela pop de grande alcance estivesse ali acondicionada. Não está. Se você não gosta da velha conhecida axé music, não há nada a fazer em "Erotica", ops, "Elétrica".
E mais: há canções inéditas, puxadas pela faixa-título, que ostenta a seguinte letra, composta pela própria Madonna, ops, Daniela: "Boitatá, Papai Noel/ London, London, London, London, London, Lundu/ do filho pródigo/ que códigos são meus?/ O código de micro/ o livre arbítrio, o livre eu/ o código de micro/ o livre arbítrio, o clone e Deus".
Já é em princípio um abuso à paciência do cidadão, mas dói mais ainda pensar que "Elétrica" é a Bahia cuspindo no leito poético aberto por Dorival Caymmi.
Daniela mostra querer se inserir numa tradição que vem de Maria Bethânia, de Gal Costa. Mas, a cada produto que apresenta, mostra que ainda precisa comer muito feijão-de-corda para passar de Gretchen no trio elétrico, de Hebe Camargo no trio elétrico. Anda faltando música na parada musical.
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Disco: Elétrica Artista: Daniela Mercury Lançamento: Sony Quanto: R$ 18, em média


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