|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Daniela reedita seus temas de Carnaval
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Tudo de novo. Daniela Mercury
apanhou um punhado de hinos
baianos que tocaram à exaustão
nos carnavais de 93, 94, 95, 96, 97,
98, recauchutou-os em versões ao
vivo e os empacota, prontinhos e
quentinhos, para o Carnaval de 99.
Eles estão em "Elétrica - Ao Vivo", que chega agora às lojas. Se os
planos da cantora e os de sua gravadora, Sony, forem bem-sucedidos, fevereiro de 99 vai ser tomado
por "O Canto da Cidade", "Swing
da Cor"... Tudo de novo.
A MPB agradece? Não, é claro.
Na origem, aquelas músicas já tinham muito pouco de interessantes; requentadas, são mais pobres
ainda. Evidenciam que Daniela, de
voz impressionantemente potente,
se vê na necessidade, ainda assim,
de se esgoelar para afetar essa tal
"eletricidade" que prega em seu
discurso musical/carnavalesco.
Canções como as citadas, de "aê
aê aê", não favorecem qualidades
de interpretação -são feitas para
serem gritadas em cima de trio elétrico, só isso. "Elétrica" é, assim
(como de resto toda a discografia
da cantora), disco para a indústria
carnavalesca, não pode pretender
ir além disso.
O problema é que pretende. A capa simula a de "Ray of Light", de
Madonna, como se uma estrela
pop de grande alcance estivesse ali
acondicionada. Não está. Se você
não gosta da velha conhecida axé
music, não há nada a fazer em
"Erotica", ops, "Elétrica".
E mais: há canções inéditas, puxadas pela faixa-título, que ostenta
a seguinte letra, composta pela
própria Madonna, ops, Daniela:
"Boitatá, Papai Noel/ London,
London, London, London, London, Lundu/ do filho pródigo/ que
códigos são meus?/ O código de
micro/ o livre arbítrio, o livre eu/ o
código de micro/ o livre arbítrio, o
clone e Deus".
Já é em princípio um abuso à paciência do cidadão, mas dói mais
ainda pensar que "Elétrica" é a Bahia cuspindo no leito poético aberto por Dorival Caymmi.
Daniela mostra querer se inserir
numa tradição que vem de Maria
Bethânia, de Gal Costa. Mas, a cada
produto que apresenta, mostra
que ainda precisa comer muito feijão-de-corda para passar de Gretchen no trio elétrico, de Hebe Camargo no trio elétrico. Anda faltando música na parada musical.
²
Disco: Elétrica
Artista: Daniela Mercury
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 18, em média
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|