São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2001

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Projeto une artesãos brasileiros e estudantes da Universidade de Eindhoven (Holanda)

Artefatos da solidariedade

Divulgação
Trabalho realizado por artesãos brasileiros e estudantes holandeses do projeto Design Solidário, em exposição a partir de amanhã no MAM de Higienópolis


Mostra no MAM Higienópolis reúne, a partir de amanhã, peças produzidas pelo grupo

GABRIELA MELLÃO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Da janela de um barraco da Associação Monte Azul avistam-se duas realidades. A do marceneiro Lourisvaldo Silva Ferreira, 20, e a do estudante holandês Jeroen Koolhaas, 24, aluno de um dos maiores centros de design da Europa, a Academia de Design de Eindhoven, na Holanda.
Há três semanas os garotos compartilham idéias, matérias-primas e, nas horas vagas, amigos. Dividem trabalho e vizinhança como os demais integrantes do projeto Design Solidário Brasil/ Holanda, programa sociocultural cujo resultado artístico pode ser admirado a partir de amanhã no MAM Higienópolis.
Até o próximo dia 6 de janeiro, o museu recepciona pedaços de madeira, couro e tecido, que foram transformados em produtos de design de alta qualidade, como bandejas, pratos, colheres, luminárias e pulseiras.
O ponto de encontro da inusitada mistura é o design, rumo a um conceito humanitário ainda pouco explorado: sua função social. Organizado pelo museu virtual de artes e artefatos A Casa, com o apoio do Sebrae-SP, o projeto converge estudantes holandeses e artesãos brasileiros da Associação Monte Azul, em São Paulo, e do grupo de Serrita, no sertão de Pernambuco.
Basta olhar os produtos criados para saber que a parceria foi especialmente bem sucedida. "Criamos novidades com raízes", diz um dos organizadores, o arquiteto Paul Meurs, um holandês envolvido em projetos sociais no Brasil há mais de 15 anos.
O programa ampliou as possibilidades dos artesãos brasileiros. Decretou o fim da criação padronizada que os perseguia diariamente. Fez com que os jovens notassem a diferença entre criadores e executores e se entusiasmassem com a primeira categoria. "Eles trabalham com paixão. Nos contagiam com a grande vontade de realizar", conta o indiano Vivek Kadhakrishnan, 24, estudante de design da academia.
Para o projeto ter continuidade, um intercâmbio nacional está em negociação.
A experiência teve caráter inédito também para os holandeses. Foi o primeiro exercício prático de seus quatro anos de curso na academia. "Eles bolam as idéias, mas não sabem produzi-las", diz Lourisvaldo. "Os brasileiros têm muito mais prática e precisão. Ensinaram várias técnicas aos estudantes", salienta o professor Herman Kuijer, 48.
O Design Solidário é um piloto para um novo departamento da academia de Eindhoven. Para Hella Jongerius, 38, coordenadora de disciplinas da escola, a intenção é iniciar um trabalho com idosos, desabrigados e outras minorias na Holanda e em países subdesenvolvidos. Na escola, Jongerius celebra a imperfeição dos objetos industrializados. No Brasil, os novos rumos do design. "A sociedade está saturada de formas e produtos. Já foi feito de tudo. É preciso progredir para uma criação que faça sentido para o mundo."


MOSTRA DESIGN SOLIDÁRIO BRASIL/HOLANDA. Onde: MAM Higienópolis (av. Higienópolis, 698, centro de São Paulo). Quando: de 30/11 a 6/01. De ter. a sáb., das 10h às 22h, e dom., das 14h às 20h. Informações: www.acasa.org.br.

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