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Ira! pula na
fogueira em "Entre Seus Rins"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
É hora de pular na fogueira. Depois de acumular energias lançando um CD de covers ("Isso É
Amor", 99) e outro de "nossos
maiores sucessos" ("MTV ao Vivo", 2000), a banda Ira! apresenta
"Entre Seus Rins", o primeiro
realmente inédito desde "Você
Não Sabe Quem Eu Sou" (97).
Os quatro integrantes se dizem
confortáveis com a fase de recuperação de popularidade iniciada
em 99, mas admitem indiretamente que nos CDs anteriores
economizaram fichas-bônus junto à gravadora (a hipercomercial
Abril Music), para agora mergulhar de volta na experimentação.
"Em alguns momentos, tivemos
discos mais pop. Esses dois últimos foram feitos pensando em
rádio. O de agora é um resgate de
conceitos", afirma o guitarrista
Edgard Scandurra, 39.
Autor solitário da maioria das
faixas do novo CD, ele fala do processo de voltar a compor: "Às vezes dá um branco, você fica anos
sem conseguir compor. O branco
pinta, você fica triste, aí de repente
vem uma avalanche. Me senti tão
feliz quando comecei a escrever, a
ver que podia criar uma fabriquinha de letras e músicas novas".
O vocalista Nasi, 39, concorda:
"Eu, particularmente, estou numa entressafra. Mas isso não me
incomoda. O que importa é termos boas composições para criar.
Não faz diferença de qual de nós
elas sejam".
Nesse pique é que entram duas
faixas extra-Ira!, "Naftalina" (da
banda mineira Radar Tantã, apadrinhada por Edgard) e "Homem
de Neanderthal" (de Frank Jorge,
herói do rock gaúcho). "Gostamos sempre de trabalhar com
compositores externos, mas que
façam parte do underground do
rock", justifica Scandurra.
Ainda que bem roqueiro, "Entre Seus Rins" retoma o vínculo
do Ira! com experiências eletrônicas, elemento trazido ao CD de 97
por Scandurra, com resultados
controversos entre os fãs fiéis da
banda ("90% do nosso público
não viu com bons olhos a mistura
de rock e música eletrônica", admite o guitarrista).
O disco começa com "O Bom e
Velho Rock'n'Roll", que, segundo
eles, é a faixa mais eletrônica de
"Entre Seus Rins". "Quem ouvir
vai pensar: "O que é? Uma música
do Made in Brazil, louvando o
rock?". Pode ser, mas bom e velho
é o Papai Noel. É uma música ácida e crítica ao rock, que pergunta
onde foi parar aquela música
transgressiva que foi ficando
cheia de regras, nos "entorpeceu e
encaretou'", filosofa Edgard.
"É a velha crise edipiana do Ira!
com o rock, que vem desde "Psicoacústica" (88)", brinca Nasi.
"Temos fãs mais xiitas, toda banda tem. É uma espécie de Taleban,
são os extremistas. Mas o Ira!
sempre soube peitar o público.
Aconteceu quando fizemos balada para público punk, quando assumimos sonoridade mod, quando usamos hip hop em 88."
"Mas hoje o presidente do nosso fã-clube já pergunta quando
vai ter rave", brinca Edgard.
A homogeneidade temática é
outro dado de "Entre Seus Rins",
embora não proposital. "As letras
falam sobre bem e mal, sobre pecado, são mais adultas", começa
Nasi. "É um disco mais maduro,
fala um pouco sobre os vícios do
homem, sobre a solidão, sobre
certa promiscuidade que a sociedade vive. Mas sem um caráter
moralista", completa Scandurra.
"Acho que há o resgate de um
dado mais crítico que a banda tinha em certo momento, antes de
ficar mais existencialista e passar
a falar mais de amor. Sempre que
falamos de amor foi de forma utópica, ingênua. Este fala de amor o
tempo todo, mas fala mais de sexo", continua, referindo-se também ao título do CD (extraído da
letra de "Je T'Aime Moi Non
Plus", de Serge Gainsbourg) e à
sua capa, que flagra o ato sexual
de um casal de girafas.
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