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São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2003

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LIVRO/LANÇAMENTO

Além de colecionar recordes, livro recebe críticas por ser "derivativo" e "não incentivar a boa leitura"

"Harry Potter" volta com inimigos ilustres

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Ele está de volta, com seus números astronômicos. Só de páginas, a edição brasileira de "Harry Potter e a Ordem da Fênix" que chega às livrarias tem 704. Com o lançamento deste quinto livro em junho na Inglaterra e nos Estados Unidos, J.K. Rowling bateu mais um daqueles recordes até então impensáveis: dias atrás, seu agente anunciou que as vendagens somadas dos cinco livros chegam à marca de 250 milhões de exemplares.
Nessa trajetória de cifras cada vez mais impressionantes, começada pelo lançamento de "Harry Potter e a Pedra Filosofal" em 1997, Rowling também atraiu inimigos em muito menor quantidade do que os fãs, mas, por sua vez, mais poderosos e influentes. Depois de conquistar a inimizade militante do escritor e crítico Harold Bloom, "A Ordem da Fênix" mereceu também uma longa e ácida crítica da escritora inglesa A.S. Byatt.
Em artigo ao "The New York Times", a escritora diz que, se Tolkien criou um mundo secundário na saga do "Senhor dos Anéis", o mundo de Rowling é "secundário do secundário", feito de "motivos inteligentemente entrelaçados derivados de todo tipo de literatura infantil".
O Lorde Voldemort de Rowling, entretanto, é Bloom, que, desde que escreveu um artigo para o "Wall Street Journal" em 2000, sobre "Harry Potter e a Pedra Filosofal", não perde a oportunidade de desancar a escritora. Bloom, que chegou a organizar uma coletânea de literatura juvenil, "Contos e Poemas para Crianças Extremamente Inteligentes de Todas as Idades", como reação ao fenômeno Potter, voltou recentemente à carga em um artigo para o "Los Angeles Times".
A propósito de uma homenagem concedida pela Fundação Nacional do Livro a Stephen King por sua contribuição à literatura dos EUA, Bloom sugere que, nessa toada, ano que vem a homenagem deve ir para a autora de romances água-com-açúcar Danielle Steel e o Nobel de Literatura, para J.K. Rowling.
E espinafra até mesmo aquilo que parece ser o grande feito do fenômeno Potter, ou seja, incentivar hábitos de leitura entre crianças: "Ler "Harry Potter" não leva nossas crianças a ler "O Livro da Jângal" ou "Just So Stories" de Kipling. Quando você lê Harry Potter, está, na verdade, sendo treinado para ler Stephen King".


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