|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Com CD a R$ 10, casal paraense Chimbinha e Joelma dissemina seu som brega por todo o país e surpreende mercado
Febre popular, Banda Calypso vende 5 mi
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Inimiga número um das grandes gravadoras e dos principais
artistas da música brasileira, a pirataria não é problema para
Chimbinha e Joelma, os novos astros do Pará. Ao contrário, os CDs
falsificados ajudaram o casal da
Banda Calypso a disseminar suas
letras bregas por todo o país.
Tudo impressiona na dupla-fenômeno, a começar pelo visual:
nele, a mecha loira no topete; nela,
o figurino formado por top, shortinho, bota de plataforma com
salto, tudo coberto por uma renda
preta com bordados dourados.
"Sou feia, mas estou na moda",
disse certa vez a funkeira Tati
Quebra-Barraco. Chimbinha e
Joelma também estão. Formada
há seis anos, a Banda Calypso já
vendeu 5 milhões de CDs e neste
ano estourou em todo o país. Lançou seis títulos inéditos, uma coletânea e um ao vivo. Dos dois
DVDs, foram vendidas cerca de
800 mil cópias (veja quadro).
O sucesso começou na região
Norte, conquistou o Nordeste
(show para 200 mil pessoas em
Gravatá/PE), Centro-Oeste e, neste ano, atingiu Sudeste e Sul.
Em São Paulo, antes restrita a
palcos da periferia, como o Patativa, em Santo Amaro, a Calypso
fez show em junho no Via Funchal, na Vila Olímpia, e, na última
sexta, esgotou a lotação do Olympia, na Lapa. Na platéia, adultos e
crianças usavam na cabeça faixas
onde se lia "eu amo Calypso".
A TV, obviamente, já descobriu
o fenômeno, que nos últimos meses aquece a guerra por audiência.
Em setembro, com a apresentação de Chimbinha e Joelma, Gugu
finalmente conseguiu vencer
Faustão. O "Domingo Legal"
(SBT) mostrou o casal por duas
horas e chegou a abrir vantagem
de dez pontos em relação ao "Domingão", da Globo. O pico foi de
27 pontos, ou seja, quase 1,5 milhão de domicílios sintonizados
na música brega, só na Grande SP.
Na média, Gugu/Calypso venceu
Fausto Silva por 23 a 20.
Lição tomada, "Faustão" correu
atrás dos paraenses e os colocou
no ar estrategicamente em 6 de
novembro, a fim de prejudicar a
Band, com a estréia de Raul Gil na
guerra do domingo. Além dos
hits, a overdose Calypso na Globo
incluiu reportagens sobre o sucesso e a ascensão do casal, que comprou casas em Belém, Recife e
num condomínio de luxo em Alphaville (SP). Com eles, o "Domingão" conseguiu manter a média no Ibope, apesar de Raul Gil,
enquanto Gugu perdeu oito pontos em relação à semana anterior.
Diante disso, a banda virou "ouro" para os programas populares,
que a disputam fervorosamente.
Na semana passada, Chimbinha
e Joelma gravaram um especial
para o "Boa Noite, Brasil", da
Band, a ser exibido no fim do ano.
Nos bastidores, onde concederam
entrevista à Folha, os dois eram
cumprimentados e parabenizados, tratados como celebridades.
Chimbinha foi rápido na conversa. Como conheceu o sucesso e
seus dividendos antes de chegar
aos principais veículos de comunicação, não gosta de dar entrevista. Mesmo desconfiado, respondeu a três perguntas-chaves:
1) "Por que você fez uma mecha
loira no seu topete?" E ele: "É porque, como calypso é um ritmo
[mescla de som caribenho e do
paraense carimbó], há muitas
bandas que se chamam de calypso. Quando começamos a aparecer na televisão, tive a idéia de fazer essa mecha para não confundir. Assim, agora todos sabem
qual é a Banda Calypso".
2) "Como consegue vender um
CD a R$ 10?". Chimbinha: "Nós
mesmo fabricamos e fica mais barato do que fazer com uma gravadora. Não pagamos produtor, diretor não sei do quê, arranjador.
Eu mesmo faço o arranjo, a direção, tudo. Não ganhamos muito
com o CD, mas ficamos conhecidos e temos lucro com o show".
3) "Com o CD barato, deixam
de ser vítimas da pirataria?" "Não,
mas não brigamos com os pirateiros. Estouramos por causa da pirataria, que nos levou a várias cidades onde não chegaríamos."
Como músico, Chimbinha é um
ótimo estrategista de marketing.
Texto Anterior: Música/Crítica: Três volumes reúnem o paraíso musical de Moacir Santos Próximo Texto: Calcinha Preta se torna fenômeno após pesquisa Índice
|