São Paulo, terça-feira, 29 de novembro de 2005

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MÚSICA

Com CD a R$ 10, casal paraense Chimbinha e Joelma dissemina seu som brega por todo o país e surpreende mercado

Febre popular, Banda Calypso vende 5 mi

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Inimiga número um das grandes gravadoras e dos principais artistas da música brasileira, a pirataria não é problema para Chimbinha e Joelma, os novos astros do Pará. Ao contrário, os CDs falsificados ajudaram o casal da Banda Calypso a disseminar suas letras bregas por todo o país.
Tudo impressiona na dupla-fenômeno, a começar pelo visual: nele, a mecha loira no topete; nela, o figurino formado por top, shortinho, bota de plataforma com salto, tudo coberto por uma renda preta com bordados dourados.
"Sou feia, mas estou na moda", disse certa vez a funkeira Tati Quebra-Barraco. Chimbinha e Joelma também estão. Formada há seis anos, a Banda Calypso já vendeu 5 milhões de CDs e neste ano estourou em todo o país. Lançou seis títulos inéditos, uma coletânea e um ao vivo. Dos dois DVDs, foram vendidas cerca de 800 mil cópias (veja quadro).
O sucesso começou na região Norte, conquistou o Nordeste (show para 200 mil pessoas em Gravatá/PE), Centro-Oeste e, neste ano, atingiu Sudeste e Sul.
Em São Paulo, antes restrita a palcos da periferia, como o Patativa, em Santo Amaro, a Calypso fez show em junho no Via Funchal, na Vila Olímpia, e, na última sexta, esgotou a lotação do Olympia, na Lapa. Na platéia, adultos e crianças usavam na cabeça faixas onde se lia "eu amo Calypso".
A TV, obviamente, já descobriu o fenômeno, que nos últimos meses aquece a guerra por audiência.
Em setembro, com a apresentação de Chimbinha e Joelma, Gugu finalmente conseguiu vencer Faustão. O "Domingo Legal" (SBT) mostrou o casal por duas horas e chegou a abrir vantagem de dez pontos em relação ao "Domingão", da Globo. O pico foi de 27 pontos, ou seja, quase 1,5 milhão de domicílios sintonizados na música brega, só na Grande SP. Na média, Gugu/Calypso venceu Fausto Silva por 23 a 20.
Lição tomada, "Faustão" correu atrás dos paraenses e os colocou no ar estrategicamente em 6 de novembro, a fim de prejudicar a Band, com a estréia de Raul Gil na guerra do domingo. Além dos hits, a overdose Calypso na Globo incluiu reportagens sobre o sucesso e a ascensão do casal, que comprou casas em Belém, Recife e num condomínio de luxo em Alphaville (SP). Com eles, o "Domingão" conseguiu manter a média no Ibope, apesar de Raul Gil, enquanto Gugu perdeu oito pontos em relação à semana anterior.
Diante disso, a banda virou "ouro" para os programas populares, que a disputam fervorosamente.
Na semana passada, Chimbinha e Joelma gravaram um especial para o "Boa Noite, Brasil", da Band, a ser exibido no fim do ano. Nos bastidores, onde concederam entrevista à Folha, os dois eram cumprimentados e parabenizados, tratados como celebridades.
Chimbinha foi rápido na conversa. Como conheceu o sucesso e seus dividendos antes de chegar aos principais veículos de comunicação, não gosta de dar entrevista. Mesmo desconfiado, respondeu a três perguntas-chaves:
1) "Por que você fez uma mecha loira no seu topete?" E ele: "É porque, como calypso é um ritmo [mescla de som caribenho e do paraense carimbó], há muitas bandas que se chamam de calypso. Quando começamos a aparecer na televisão, tive a idéia de fazer essa mecha para não confundir. Assim, agora todos sabem qual é a Banda Calypso".
2) "Como consegue vender um CD a R$ 10?". Chimbinha: "Nós mesmo fabricamos e fica mais barato do que fazer com uma gravadora. Não pagamos produtor, diretor não sei do quê, arranjador. Eu mesmo faço o arranjo, a direção, tudo. Não ganhamos muito com o CD, mas ficamos conhecidos e temos lucro com o show".
3) "Com o CD barato, deixam de ser vítimas da pirataria?" "Não, mas não brigamos com os pirateiros. Estouramos por causa da pirataria, que nos levou a várias cidades onde não chegaríamos."
Como músico, Chimbinha é um ótimo estrategista de marketing.


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