São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2006

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Tocando B.B. King sem parar

Rei do blues se despede dos fãs do Brasil tocando em São Paulo, Rio e Curitiba com a turnê "Farewell World Tour"

Repertório dos shows será decidido momentos antes de sua entrada no palco para garantir a inspiração da hora e evitar repetições


Keiny Andrade - 22.mar.2004/Folha Imagem
B.B. King durante apresentação no Via Funchal (2004)


CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O rei do blues vai pendurar a coroa. Depois de décadas fazendo cerca de 300 shows por ano, B.B. King, 81, anunciou que deixará os palcos. Os fãs de São Paulo ainda terão a chance de ver e ouvir o cantor e guitarrista, amanhã, no Bourbon Street, e de sábado a segunda, no Via Funchal. Depois só no aparelho de som (como diz aquele hit do Brylho, "tocando B.B. King sem parar").
Até a tarde de ontem ainda havia alguns ingressos disponíveis para os shows dos dias 2 e 3, além de cerca de mil ingressos para o dia 4, no Via Funchal. A " Farewell World Tour", turnê mundial de despedida do bluesman norte-americano, segue depois para Curitiba (dia 5, no Teatro Guaíra) e Rio de Janeiro (dia 7, no Vivo Rio).
Raros artistas do blues personalizaram com tanta fidelidade a trajetória desse gênero, espinha dorsal de toda a música negra norte-americana, como ele. Filho de plantadores de algodão, Riley B. King (o "B" foi invenção do pai) nasceu às margens do lago Blue, no delta do rio Mississippi.
Como outras crianças negras da região, Riley plantou algodão e milho, mas a paixão pela música o livrou da pobreza. Ao trabalhar como disc-jóquei, em uma rádio de Memphis, ganhou o apelido de "Blues Boy da rua Beale". Não demorou muito para que Blues Boy se tornasse o bluesman B.B. King.
O rádio contribuiu para sua carreira musical decolar. Mas qualquer um que tivesse ouvido suas primeiras gravações (pela Bullet Records, em 1949), já poderia sentir o enorme talento do jovem cantor e guitarrista, influenciado por figurões do blues, como T-Bone Walker e Blind Lemon Jefferson, jazzistas como Charlie Christian, ou ainda pelo gênio do rhythm'n'blues Ray Charles.

Aparência de astro
"Eu queria ser chique, mas ainda era o menino da roça que queria se livrar do cheiro de esterco. Não tinha aparência de astro. Na verdade, não tenho até hoje", disse, com a humildade de sempre, na autobiografia que fez com David Ritz ("B.B. King Corpo e Alma do Blues"), publicada aqui em 1998.
Essa simplicidade não o impediu de criar um estilo personalíssimo que influenciou não só outros músicos de blues do primeiro time, como Buddy Guy, mas também serviu de cartilha a inúmeros astros do rock, incluindo Jimi Hendrix, Eric Clapton e David Gilmour. "Meu estilo é simples. De uma forma ou de outra, estou sempre falando do cabo-de-guerra entre homem e mulher. Meu objetivo é expressar os desejos da alma e as alegrias do coração", diz no mesmo livro.
Quem já teve a sorte de ver o rei do blues em cena, sabe que suas apresentações são eletrizantes. B.B. King é daqueles artistas que suam a camisa, que se entregam totalmente no palco. Seu rosto vibra a cada nota da guitarra, como se a música o possuísse.
Avesso à repetição, só decide o que vai tocar pouco antes de entrar em cena. Assim garante a inspiração do momento, evitando que a música se torne mecanizada. Isso explica por que sucessos tocados por ele há décadas, como "Everyday I Have the Blues" ou " The Thrill Is Gone", mantêm um frescor original. O rei do blues jamais brincou em serviço.


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