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CRÍTICA JAZZ
Aos 80 anos, Ornette Coleman se mantém límpido e ligeiro
Sem sobressaltos, saxofonista americano, lenda do free jazz, subiu anteontem ao palco do Sesc Pinheiros
FABRICIO VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O andar vagaroso até o
centro do palco denota certa
fragilidade física. Afinal, são
80 anos de idade e mais de
cinco décadas assombrando
o mundo do jazz.
Tanto os músicos quanto o
público esperam respeitosamente que Ornette Coleman
se acomode, pegue o sax e sinalize estar pronto para fazer
um pouco mais de história.
Diferente dos ícones vivos
do rock e do pop que têm visitado o país, o saxofonista
não subiu ao palco do Sesc
Pinheiros, na noite de sábado, com a obrigação de desfiar seus maiores hits.
O que se espera de uma figura como Coleman é que demonstre sua arte como improvisador, que surpreenda
com o que pode fazer ali, ao
vivo, e não remoendo canções antigas para satisfazer
aos saudosistas.
É claro que houve espaço à
revisitação de temas criados
em diferentes períodos de
sua carreira, como a funkeada "Theme from a
Symphony" (de 1976), a vigorosa "Song X" (de 1985) e a
bluesy "Turnaround", de safra mais recente.
Mas isso não centraliza as
atenções e as expectativas:
se ele tocasse apenas material nunca antes executado, a
recepção entusiástica dos
ouvintes provavelmente seria exatamente a mesma.
COMPORTADO
Como Coleman jamais foi
um saxofonista vulcânico,
no sentido que o são Pharoah
Sanders e Peter Brötzmann,
sua pegada não ficou nem
um pouco comprometida
com o avançar da idade.
O saxofonista segue o mesmo, com seu sopro límpido e
ligeiro, movimentado por
frases breves e melodias simples e circulares.
Todavia, para um show de
free jazz, a apresentação de
anteontem até que soou comportada e organizada demais. Faltou um pouco de sobressalto, do risco característico do gênero, de improvisações coletivas que arrastem
os ouvintes a um campo desconhecido e assombroso.
Mas tudo bem. O público pareceu não se incomodar.
Mais concentrado no sax
alto, o músico praticamente
deixou de lado seus outros
instrumentos.
O trompete foi levado apenas ligeiramente aos lábios.
O violino ganhou maior atenção somente quando Coleman decidiu acompanhar o
baixista Tony Falanga em
sua intrigante releitura do
"Prelúdio da Suíte nº 1 para
Violoncelo", de J. S. Bach.
Para o bis, foi reservada a
delicada "Lonely Woman".
Com seu clima intimista, a
canção escrita há cinco décadas espraiou um sabor de
melancólica despedida, como se Coleman dissesse
"obrigado, quem sabe nos
vejamos de novo algum dia".
ORNETTE COLEMAN
AVALIAÇÃO bom
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