São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 2000

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Antunes evoca mãe natureza em sua "Medéia"

DA REPORTAGEM LOCAL

O cartão de boas-festas que ele enviou aos amigos reproduz o cartaz da montagem da mesma tragédia que a atriz francesa Sarah Bernhardt protagonizou em 1898 em seu país. Antunes Filho também está preparando sua "Medéia" para o próximo ano.
Ele quer estreá-la no primeiro semestre e longe do teatro Sesc Anchieta, palco tradicional dos espetáculos do Centro de Pesquisa Teatral (CPT), mantido pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) em São Paulo.
"Quero ir para a margem", afirma Antunes, 70. Sua intenção é encenar o clássico de Eurípedes em espaço não-convencional, possivelmente um galpão do Sesc Belenzinho, bairro da zona leste da cidade.
"Eu quero mudar um pouco, estou farto do palco tradicional. Acho que ele é cada vez mais para os globais, para shows musicais", afirma.
Depois dos conflitos étnicos e da violência contemporânea retratados em "Fragmentos Troianos" (99), adaptação de "As Troianas", de Eurípedes (495-407 a.C.), Antunes retoma o mesmo autor grego, desta vez por um viés ecológico.
"Na minha cabeça, faço uma relação entre a Medéia que mata seus filhos e a mãe natureza, que também está destruindo seus filhos de raiva", diz o diretor. Medéia age por instinto para se vingar da traição do marido, Jasão.
Antunes se esquiva de entrar em detalhes sobre a montagem. Os ensaios acontecem há meses, e a montagem ainda está em processo. Ele mesmo assina a adaptação. O elenco deve ser formado por 25 atores, entre os papéis protagonistas, coro e soldados. Gabriela Flores, que interpretou Hécuba em "Fragmentos Troianos", assume o papel-título da peça.
"Medéia" também trará a obsessão de Antunes pelo verbo, sobretudo sua emissão pelos intérpretes. "Tenho um fraco pelo texto, eu faço teatro de texto", diz.
"Sempre estive na palavra, só quebrei quando fiz os "fonemóis" da vida", diz. "Fonemol" é como ele batizou a linguagem inventada pela fala desconexa dos atores em "Nova Velha Estória" (92).
Enquanto isso, o CPT anuncia o "Prêt-à-Porter 4" para fevereiro, da série de textos criados pelos próprios atores. As três novas cenas são: "Eter.N@.Mente", "Os Esbugalhados Olhos de Deus" e "Ah, Com'é Bella!".
"Como dramaturgos, os atores estão melhorando cada vez mais, estão mais "cabeça", mais completos, mais profundos", diz Antunes Filho.
A série "Prêt-à-Porter" começou a ser apresentada ao público em abril de 98. Cada espetáculo, no qual os atores têm autonomia na criação (Antunes chegou a dizer que, neste projeto, troca a função de diretor por coordenador), é composto por três cenas "naturalistas". O projeto contempla as áreas de interpretação, dramaturgia e cenografia do CPT. (VS)


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