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TEATRO
Com espetáculo previsto para 2005, diretor aponta falhas em programa municipal e opina sobre novo secretário
Antunes questiona seleção do fomento
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia a seguir a continuação da
entrevista com o diretor Antunes
Filho dada à Folha.
Folha - Você sabe que uma comissão seleciona...
Antunes - ... O
critério é o do
compadrio.
Folha - As comissões se dizem norteadas pelo critério
do trabalho continuado, que está
previsto no fomento, daí a reincidência de grupos...
Antunes - [Risos]
Pára, eu não vou
continuar. Você
está me provocando. Não, não,
não... Estou falando para você de
avaliação. Quem
avaliou os que ficaram de fora? E
os que entraram?
Quem avalia esse
contexto? Quem?
Os partidários?
Ah, que engraçado [risos]. O compadre vai falar mal
de compadre? É
como o compadrio de alguns críticos que só falam
bem dos amigos.
Eu quero que você
publique isso. Está virando teatro
dos compadres.
Folha - Qual a expectativa quanto
a Emanuel Araújo, o secretário da
Cultura de Serra?
Antunes - Esse cara é ótimo. Só
quero saber o seguinte: peço pelo
amor de Deus para esse cara ver
quem é que está colocado do lado
dele para ver teatro. Pelo amor de
Deus, cuidado. Ele é um cara sério, honesto e interlocutor. Que
ele seja iluminado para colocar
uma pessoa de ética perfeita e de
conhecimento perfeito de teatro,
que não seja baboso, que não vá
na onda do folclore pelo folclore.
Tem um pessoal de teatro que
gosta de ficar chorando a vida inteira, de chapéu na mão. Eu não
acho isso uma atitude digna... Você vai dizer: "Ah, mas você trabalha no Sesc, tem tudo". Sim, mas
tenho que provar a cada espetáculo que eu posso continuar trabalhando para o Sesc. A cada espetáculo meu eu estou começando. A
gente se dá bem porque eu trabalho corretamente.
Folha - "Antígona" será a terceira
tragédia grega, depois de "Fragmentos Troianos" [1999] e das
duas versões de "Medéia" [2001 e
2002]. Qual o estágio?
Antunes - Não dá para você fazer
drama, tragédia ou comédia se
não tiver técnicas específicas. Fiquei quase oito anos empacado
nisso, mas agora acho que resolvi.
Vamos dar um passo adiante. Você sabe muito bem que eu era um
diretor-encenador [faz gesto ampliado dos braços
e emite som gutural], e aí comecei a
ser diretor-diretor, de querer ver
o ator. O espetáculo passa, o ator
fica. Pretendo um
equilíbrio perfeito
entre o ator e a encenação, com a
técnica extraordinária que os atores do CPT estão
tendo agora.
Folha - "Antígona" suscita várias
leituras: o embate
família-Estado, a
heroína versus o
vilão, o belicismo
masculino...
Antunes - ... A
gente vai ter oportunidade de falar
mais sobre isso na
estréia. Antígona
é tanta coisa,
Creonte é tanta
coisa, Ismene é
tanta coisa. As palavras que a gente
usa são ocas, neutras. Pensa-se
que elas aceitam tudo, que podem
corporificar os objetos, mas, por
mais que você fale, não se consegue corporificar e discernir um
objeto integralmente. A palavra é
sempre precária. Essa redução
maniqueísta é fruto da cultura comercial em que vivemos, da mentira, da moda, do vazio enciclopédico. "Antígona" é isso que você
imaginou e mais alguma coisa, ou
menos alguma coisa.
Folha - A concepção é de uma tragédia dupla, dá o mesmo peso a
Antígona e Creonte?
Antunes - Creonte e Antígona
são uma tragédia. A Ismene é o
elemento que coloca o fiel [da balança] entre um lado e outro. Sabe
o que é bonito na tragédia? É a
condição humana. Se eu disser
para você que Creonte é só isso,
estou matando a vastidão que temos dentro do coração, da alma.
Folha - Como criou o coro, uma
marca de seu teatro, mesmo quando não é tragédia?
Antunes - Há o coro dos anciões
e o coro das bacantes, que inclui.
Não se pode esquecer que Baco é
patrono do teatro e de Tebas.
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