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ANÁLISE
Myriam Muniz e o desconforto com a TV
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
No último dia 18 morreu
Myriam Muniz, grande figura dos palcos brasileiros. Ao contrário de muitos de seus companheiros do Teatro de Arena, a atriz e diretora fazia parte de um
grupo menos conhecido do grande público: o dos que não fizeram,
ou fizeram pouca TV.
A carreira de Muniz, atriz e diretora, faz parte da trajetória de profissionais atuantes na esquerda
cultural dos anos 60 que hesitaram diante da expansão dos
meios eletrônicos.
Quando o governo militar fechou o teatro, a Rede Globo investia na produção de teledramaturgia. Alguns dos jovens atores engajados migraram para a então
recém-inaugurada emissora carioca sem necessariamente abdicar de seus ideais.
No Arena, Muniz contracenou e
conviveu com atores como Antônio Fagundes, Juca de Oliveira,
Gianfrancesco Guarnieri, Paulo
José e Dina Sfat.
Outros -por convicção, porque foram para o exílio no exterior (caso do diretor Augusto
Boal), porque não se adaptavam à
rotina da indústria cultural, ou
por uma combinação desses fatores- permaneceram fiéis aos
palcos.
O papel mais popular de Muniz
foi D. Santa, a mãe de "Nino, o Italianinho" [com Juca de Oliveira],
novela que foi ao ar em 1969, na
ainda poderosa Tupi.
A popularidade constrangeu a
atriz pouco preparada para representar o papel de estrela. Na esteira do sucesso dessa performance,
ela interrompeu abruptamente
sua participação televisiva.
Suas interpretações em filmes
de Ana Carolina ajudaram a trazê-la de volta em papéis pequenos, porém fortes, nas minisséries
"Dona Flor e Seus Dois Maridos"
e "Os Maias". Em 2004 apareceu
na estranha "Metamorphoses"
(Record).
Muniz era uma atriz densa. Seu
jeito não combinava com o naturalismo que impregna a TV. Seu
desconforto na tela pequena era
visível. Pior para o público.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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