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A pensadora Susan Sontag morre aos 71
Norte-americana, autora de romances como "O Amante do Vulcão" e conhecida pelo engajamento político, sofria de leucemia
DA REDAÇÃO
Susan Sontag, escritora, ativista
e, como ela mesma dizia, "fanática pela seriedade", cuja mente voraz e prosa provocante a tornaram uma das mais importantes
intelectuais dos últimos 50 anos,
morreu ontem aos 71 anos.
Sontag morreu às 7h10, a porta-voz do Sloan-Kettering Cancer
Center, em Manhattan. O hospital
não especificou a causa de morte.
Sontag sofreu câncer de mama
nos anos 70 e vinha enfrentando
leucemia há alguns anos.
Sontag se definia como "esteta
afeiçoada" e "moralista obsessiva". Escreveu um romance de sucesso, "O Amante do Vulcão", e
em 2000 conquistou o National
Book Award com seu romance
histórico "Na América". Mas o
maior impacto literário da escritora foi como ensaísta.
"Notes on Camp", um texto de
1964 que a estabeleceu como importante pensadora, popularizou
a atitude "isso é tão ruim que parece até bom", a qual veio a ser
aplicada a uma enorme variedade
de coisas, de "Swan Lake" a estolas de plumas. Em "Contra a Interpretação", a mais analítica das
intelectuais dedicava sua análise à
preocupação com a possibilidade
de que o escrutínio crítico interferisse com o poder "mágico, encantatório", da arte.
Ela também escreveu obras influentes como "A Doença como
Metáfora", na qual examinava a
maneira pela qual a doença era
romantizada e demonizada, ciclicamente, e "On Photograhy", na
qual argumentava que as imagens
muitas vezes distanciam o observador do tema que retratam.
Ela lia escritores de todo o mundo, e a Sontag é atribuído o crédito por apresentar intelectuais europeus como Roland Barthes e
Elias Canetti aos leitores norte-americanos. "Não conheço outra
intelectual tão lúcida e com tamanha capacidade de ligar, conectar,
relacionar", disse certa vez o romancista mexicano Carlos Fuentes. "Ela é única."
Diferente de muitos escritores
norte-americanos, ela se envolveu
profundamente em questões políticas, mesmo depois dos anos 60.
Entre 1987 e 1989, Sontag presidiu
à divisão norte-americana do Pen
Club, uma aliança mundial de escritores. Quando o aiatolá Ruhollah Khomeini pediu a morte de
Salman Rushdie por suposta blasfêmia no romance "Os Versos Satânicos", ela ajudou a liderar os
protestos da comunidade literária. Há cerca de um ano e meio,
dias após a execução de três dissidentes cubanos, Sontag envolveu-se em uma polêmica com o escritor colombiano Gabriel García
Márquez, a quem acusou de ser
condescendente à repressão imposta pelo regime de Fidel Castro.
Sontag batalhava incessantemente pelos direitos humanos e,
ao longo dos anos 90, visitou muitas vezes a região da Iugoslávia,
pedindo ação internacional contra a guerra civil que se espalhava
pelos Bálcãs. Em 1993, visitou Sarajevo, onde montou uma produção de "Esperando Godot".
Filha de um negociante de peles,
ela nasceu como Susan Rosenblatt, em Nova York, em 1933, e
passou a infância no Arizona e em
Los Angeles.
A mãe era alcoólatra; o pai morreu quando ela tinha cinco anos.
Mais tarde, sua mãe se casou com
um oficial do exército, o capitão
Nathan Sontag. Susan Sontag
lembrava sua infância como
"uma grande sentença de prisão".
Ela completou sua educação básica com três anos de antecedência, formando-se no segundo
grau aos 15 anos; o diretor da escola disse que ela estava perdendo
tempo lá. Sua mãe, enquanto isso,
advertiu que, se não parasse de
ler, jamais se casaria.
Na Universidade de Chicago,
ela assistiu a uma palestra de Philip Rieff, psicólogo social e historiador. Casaram-se dez dias mais
tarde. Sontag tinha 17 anos, ele 28.
"Era um homem apaixonado erudito e puro", disse ela mais tarde
sobre o marido.
Na metade dos anos 60, o casal
se divorciara (tiveram um filho,
David, nascido em 1952), e Sontag
se tornou uma das luzes na cena
literária de Nova York. Ela era conhecida por seus ensaios, mas
também escrevia ficção, ainda
que inicialmente sem grande sucesso. "Death Kit" e "The Benefactor" eram, romances experimentais que pouca gente teve paciência de ler até o fim.
"Infelizmente, a inteligência de
Sontag continua a ser maior que o
seu talento", escreveu Gore Vidal
em 1967, ao resenhar "Death Kit".
"Mas assim que se livrar da literatura, ela terá o poder de realizá-la, e não há muitos escritores norte-americanos sobre quem se
possa dizer o mesmo".
A ficção de Sontag se tornou
mais acessível. Ela escreveu um
elogiado conto sobre a Aids, "The
Way We Live Now" (A maneira
pela qual vivemos agora), e um
romance de sucesso, "O Amante
do Vulcão", sobre o almirante
Nelson e Lady Hamilton, sua
amante.
Em 2000, seu romance "Na
América", sobre Helena Modjeska, uma atriz polonesa do século
19, foi um fracasso comercial, e recebeu críticas pelo uso não creditado de fontes, tanto de trabalhos
de ficção quanto trabalhos de
não-ficção. Ainda assim Sontag
conquistou com ele o National
Book Award.
Entre outras obras, Sontag também criou os filmes "Duet of Cannibals" e "Brother Carl", e escreveu uma peça, "Alice in Bed",
com base na vida de Alice James, a
adoentada irmã de Henry e William James. Sontag fez uma ponta, como ela mesma, em "Zelig", o
falso documentário dirigido por
Woody Allen.
Em 1999, escreveu um ensaio
para "Women", compilação de
retratos da fotógrafa Annie Leibovitz, sua companheira por muitos
anos. Sontag não era adepta da fala ponderada. Escrevendo sobre a
Guerra do Vietnã, ela afirmou que
"a raça branca é o câncer da história humana".
Poucos dias depois dos ataques
terroristas de 11 de Setembro, ela
criticou a política externa dos Estados Unidos e fez elogios aos terroristas.
"Onde está o reconhecimento
de que não se tratava de um ataque "covarde" à "civilização", "liberdade", "humanidade" ou ao "mundo livre", mas de um ataque à única superpotência mundial, empreendido como conseqüência de
alianças e ações específicas dos
Estados Unidos?", escreveu ela na
revista "New Yorker". "Quanto à
questão da coragem (uma virtude
moralmente neutra), diga-se o
que quiser sobre os perpetradores
do massacre de terça-feira, eles
não eram covardes."
Com agências internacionais
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