Personagem criado na era de ouro dos quadrinhos é modernizado em histórias agora lançadas no Brasil

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O que fazer para transformar um super-herói de histórias em quadrinhos com décadas de aventuras em um personagem moderno, respeitoso com sua história pregressa e, ainda por cima, interessante? O escritor britânico James Robinson encarou a missão: as nove primeiras histórias dessa saga estão reunidas em "Starman Volume 1", recém-publicado no Brasil.
A DC Comics lançou o primeiro "Starman" (o cientista Ted Knight) em 1939, na era de ouro dos quadrinhos norte-americanos, quando foram criados personagens como Batman e Superman. Com o passar das décadas, a editora experimentou outros Starman, mas sem ligação com o personagem original: o alienígena Mikaal Tomas, nos anos 70; Prince Gavyn, outro extraterrestre, nos anos 80; e Will Payton, em 1988. Nenhum deles teve uma vida muito longa.

Novo "Starman"
Quando Robinson começou a escrever seu "Starman", em 1994, ele partiu do zero, mostrando a transformação de um homem comum em super-herói, mas com a premissa de costurar, de alguma maneira, todos os Starman anteriores.
Assim, é mostrado que o primeiro Starman, aquele cientista criado nos anos 30, hoje é um homem idoso, pai de dois filhos: o certinho, heróico e bem-intencionado David e o rebelde, tatuado e às vezes insensível Jack. Como era de esperar, David segue o legado do pai: é o novo Starman.
Sua história, entretanto, é curta: dura poucos minutos, ou três páginas. Ele é assassinado em um plano orquestrado por um antigo e vingativo inimigo de seu pai. E agora cabe ao impetuoso Jack, aquele que não almejava ser um herói, a tarefa de proteger o pai e, quem sabe, vingar o irmão assassinado. Assim começa a saga "Os Pecados do Pai", que abriu o caminho das 81 edições que a revista "Starman" teve nos Estados Unidos.
Assim como Neil Gaiman fez com "Sandman", em que aproveitou os Sandman anteriores para aprofundar a história do personagem criado por ele, Robinson enriqueceu a sua série com participações dos Starman antecedentes.
A diferença é que Gaiman mudou o conceito em seu título: Sandman deixou de ser um super-herói, virando uma entidade mitológica, quase um deus. Robinson, por sua vez, manteve Starman um super-herói, mas mais humano, falho e nostálgico. E, talvez por isso mesmo, um personagem bem mais interessante do que seus antecessores.