São Paulo, terça-feira, 29 de dezembro de 2009

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Da lama ao caos

Em 2009, público de shows de São Paulo sofreu com espaços enlameados, de difícil acesso e acústica ruim

Caco Galhardo


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Estrutura precária, falta de estacionamento, acústica deficiente, lama até o meio das pernas. Esses foram alguns dos problemas encontrados pelo público em shows ocorridos em São Paulo em 2009.
Uma das mais aguardadas apresentações acontecidas no ano, a visita do grupo americano The Killers ao país, em novembro, levou 12 mil pessoas à Chácara do Jockey, na região oeste da capital paulista. Devido à chuva, os fãs reclamaram do gramado enlameado, além dos estacionamentos distantes.
Localizada em um terreno colado à av. Francisco Morato, a Chácara do Jockey pertence ao Jockey Club de São Paulo e é alugada para diversos tipos de eventos, como leilões e corridas de motocicleta. Desde 2005, com a realização do festival Claro Que É Rock, tornou-se popular como local para shows.
Segundo produtores de eventos ouvidos pela Folha, como Marcos Boffa (Planeta Terra, Eletronika), é um local bastante procurado porque consegue abrigar público que fique na faixa entre 10 mil e 30 mil pessoas. A infraestrutura dos eventos realizados ali é de responsabilidade dos produtores.
"A Chácara é espetacular, mas realmente há problemas de acesso e de estacionamento", afirma William Crunfli, da Mondo, que produziu no local o show do Killers e o festival About Us (que teve Sting como atração principal).
"O gramado não possui drenagem, então é um problema a mais quando chove. É preciso investir ali. Vamos adaptar a Chácara para um local de eventos? É preciso investir dinheiro. De todos os locais existentes em São Paulo, é o mais fácil para transformarmos num espaço ideal para shows."
A Chácara do Jockey é um grande terreno de 190 mil m 2 que não foi adaptado para shows. O mesmo acontece com o Espaço das Américas, um grande galpão localizado na Barra Funda e que serviu de palco para apresentação do franco-espanhol Manu Chao.
Com capacidade para receber até 8.000 pessoas, o Espaço das Américas possui diversas colunas que atrapalham a visão do público e sua acústica foi classificada como "horrorosa" pelo empresário Rodrigo Peixoto, 28, que assistiu ao show de Manu Chao, em fevereiro.
"Realmente há algumas colunas que atrapalham a visão do palco", diz o empresário Marco Tobal Júnior, sócio do Espaço. "No final de 2010, vamos fazer uma grande reforma. Colocaremos camarotes e um mezanino, e será reinaugurado no meio de 2011. Estamos adaptando para que fique perfeito para receber shows."
Marcos Boffa aponta uma dificuldade em encontrar casas de pequeno e médio porte em São Paulo. O Studio SP, por exemplo, que tem capacidade para 600 pessoas, foi criticado por ser "abafado" pelo vendedor Carlos Junqueira, 29, que viu ali o grupo Whitest Boy Alive, neste mês.
"É difícil termos um clube perfeito. O Studio optou por focar na qualidade do som. Houve uma evolução nesse aspecto. Mas temos defeitos e queremos melhorar", afirma Alexandre Youssef, sócio da casa.

Falta de opções
"Para o tamanho de São Paulo, é um absurdo a falta de opções [de espaços para shows]. Temos uma ou outra opção para shows de pequeno porte. E não há grandes arenas próprias para shows. A Arena Anhembi não foi pensada para eventos musicais. Não há estrutura para receber confortavelmente o público", aponta Boffa.
"A Arena é um local aberto que se adapta perfeitamente para shows", afirma Milton Longobardi, diretor da SPTuris (São Paulo Turismo), órgão da Prefeitura de São Paulo.
Sobre a falta de opções para espetáculos musicais na cidade, Longobardi diz que a Prefeitura de São Paulo já designou "uma área de 4 milhões m 2 (dez vezes maior do que o complexo do Anhembi), em Pirituba, que terá uma arena para shows e área de exposições". A previsão de inauguração desse espaço é após a Copa de 2014.
Já a secretaria municipal da Cultura, por meio de sua assessoria de imprensa, afirma que "está em vias de desapropriar o edifício onde hoje funciona o Cine Art Palácio [na av. São João, centro de São Paulo]. A intenção é reformá-lo e transformá-lo em uma grande sala de shows, como o Radio City Music Hall, em Nova York".


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