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BRASA ADORMECIDA
Nova critica "pobreza" do momento
DA REDAÇÃO
Berço do Camisa de Vênus e
amanhã palco da primeira reunião após sete anos de silêncio da
banda -que deve começar a se
reagrupar de forma esporádica-
Salvador não é exatamente fonte
de inspiração para Marcelo Nova,
do mesmo modo como tem servido para alguns de seus conterrâneos famosos.
"Eu tenho muito mais um laço
afetivo com algumas pessoas do
que propriamente um vínculo
cultural com Salvador. Sempre
quis ir embora porque nunca me
senti integrante do ufanismo baiano e dessa pretensa impressão digital em que tudo pode ser identificado e codificado sob a égide do
misticismo, do axé e da magia."
Para o cantor, os estereótipos
que cercam a Bahia acabam por
asfixiar o próprio desenvolvimento social da região: "Não se coloca
diante desta rotulação o desejo de
lutar por algo. Contanto que você
tenha a bunda de alguém mexendo ou esteja bêbado atrás de um
trio elétrico, está tudo bem. É um
conceito avalizado pela mídia, pelos homens de marketing. Tornou-se "big business'".
Os negócios, para Nova, também tomaram conta do atual cenário do mercado fonográfico de
maneira que não há segundas
chances e espaço para o desenvolvimento de carreiras musicais.
Algo bastante diferente do que
aconteceu com o Camisa de Vênus, que após a saída da Som Livre, não se abalou. O grupo manteve a postura e encontrou abrigo
no próprio mercado; ganhou dois
discos de ouro e um de platina.
"Se não acertar no primeiro disco, não tem segundo. E o pior é
que o acerto é visto pelo viés estritamente comercial", afirma.
A falta de brilho da atual geração
de bandas tampouco contribui
para o cenário musical atual, onde
Marcelo Nova identifica uma
grande pobreza lírica. "Falando de
uma forma geral falta sustança no
texto. Olho para um lado, olho pro
outro, e é uma falta de qualidade
nas letras. Surgiu uma geração
que não lê nada, que não adquiriu
o hábito da leitura", diz o músico.
E quem se salva na safra? Charlie
Brown Jr., cujo "Acústico" o cantor do Camisa de Vênus fez participação especial? "Descobri em
Chorão uma pessoal maravilhosa,
muito generosa, alguém que pensei que eu não encontraria no
mundo do rock", diz. Mas musicalmente? "Não sei se é bom ou
ruim, mas eles me parecem autênticos, no sentido de eles terem
criado sua própria sonoridade.
Tem dezenas de bandas copiando
o som deles". Depois, ele faz um
esforço para se lembrar de outros
nomes e cita os gaúchos do Walverdes como nome que lhe chamou a atenção.
Marcelo Nova diz não estar passando o bastão do confronto para
ninguém. Mas, ao mirar o impacto provocado por sua banda, faz a
convocação: "Depois de tudo que
o Camisa provocou em Salvador,
de polêmica, discussão, interrogações, contradições, respostas e às
vezes ausência de respostas, agora
é preciso que venha alguém".
(SHIN OLIVA SUZUKI)
FESTIVAL DE VERÃO SALVADOR 2004.
Onde: Parque de Exposições de Salvador
(av. Luiz Viana Filho, s/n, Itapuã,
Salvador, tel. 0/xx/11/241-0001).
Quando: até domingo. Quanto: de R$ 40
a R$ 80. Veja a programação completa do
evento no site www.globo.com/festivaldeverao.
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