São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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FILMES

TV PAGA

O cinema e a vida em "Bicho de Sete Cabeças"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"Bicho de Sete Cabeças", de Laís Bodanzky, é um dos filmes mais interessantes feitos no Brasil nos últimos anos, por motivos diversos.
O primeiro deles é o feliz investimento em marketing, algo de que o cinema nacional deveria perder o medo de uma vez por todas. Ao optar pela história de um jovem que, por um pequeno delito, acaba sendo vitimado por internação psiquiátrica, Bodanzky opta pelo olhar dos jovens em contraposição ao dos pais. Ganha o público adolescente e pós-adolescente. Foi o que aconteceu: garantiu-se assim, sem nada perder em dignidade, uma boa bilheteria.
O segundo aspecto vem da mise-en-scène, onde a diretora foi bastante feliz em dois aspectos: a direção de Rodrigo Santoro (que terminou por impô-lo como ator) e a ótima ambientação obtida nas cenas do asilo psiquiátrico.
Se nem tudo são as flores tão proclamadas no filme, isso se deve ao tratamento "à americana" da situação. Digo "à americana" entre aspas, porque não é norma do bom cinema americano criar a fórceps uma oposição entre mocinho e vilão.
No caso, o papel de vilão vai aos pais, ao pai (Othon Bastos) em particular, que compõe não uma figura comovente pela incapacidade de olhar o próprio filho e a real dimensão de seus problemas, e sim um idiota unidimensional, à beira do sadismo, que a rigor só pensa em fazer maldades ao filho.
Esse contraponto tão acentuado, que reduz o pai a mero vilão de opereta, termina por empobrecer brutalmente o olhar do filme, reduzindo uma questão social a um problema de roteiro.
Laís Bodanzky revela talento neste primeiro filme, o que é importante. Não se dobrar a quem acha que o importante é o cinema, e não a vida, é algo tão importante quanto -talvez mais, na verdade. O tempo dirá para que lado pendeu essa diretora.


BICHO DE SETE CABEÇAS. Quando: hoje, às 14h30, no Canal Brasil.

TV ABERTA

Fantasma de Velho Oeste ronda "Bronco Billy"

Super-Homem
SBT, 13h.

(Superman - The Movie). EUA, 1978, 142 min. Direção: Richard Donner. Com Christopher Reeve. Ao primeiro "Super-Homem" falta um tanto de leveza e de inventividade. Aqui está a origem do super-herói, despachado para a Terra a fim de escapar da destruição do planeta Krypton. Perto de boa parte dos "blockbusters" recentes, ganha fácil.

Zé do Periquito
Cultura, 16h30.

Brasil, 1960, 98 min. Direção: Ismar Porto/Amácio Mazzaropi. Com Mazzaropi. Jardineiro de colégio apaixona-se por aluna, daí derivando os problemas que encontrará e o humor que, eventualmente, o filme encontra. O mais interessante é a participação de Cely Campelo e Hebe Camargo e, sobretudo, a presença no elenco de Eugênio Kusnet.

A Balada do Pistoleiro
Bandeirantes, 20h30.

(Desperado).EUA, 1995, 104 min. Direção: Robert Rodriguez. Com Antonio Banderas. Banderas é o Mariachi empenhado num acerto de contas com o traficante que matou sua namorada. Rodriguez é um cineasta interessante, cujo trabalho transparece ora um talento, ora uma picaretagem extrema.

A Experiência
SBT, 22h30.
(Species). EUA, 1995, 111 min. Direção: Roger Donaldson. Com Ben Kingsley, Natasha Henstridge. Equipe de cientistas tenta localizar bela mulher, criada por experiência em que se misturaram DNA humano e partículas recolhidas no espaço. Após escapar do laboratório, a mulher mostra seu potencial destrutivo.

E Agora Brilha o Sol
Bandeirantes, 0h30.
(The Sun Also Rises). EUA, 1957, 129 min. Direção: Henry King. Com Tyrone Power. Baseado em romance de Hemingway, mostra um jornalista norte-americano em Paris que, interessado e entrando na ginga de excêntrica mulher, segue ela e amigos nas bagunças que promovem na Europa pós-Primeira Guerra Mundial.

Bronco Billy
SBT, 1h25.

EUA, 1980, 119 min. Direção: Clint Eastwood. Com Clint Eastwood. Bronco Billy é o caubói que dirige um circo do Velho Oeste, leva sua trupe de cidade em cidade e arruma confusões de vários tipos, inclusive quando conquista a bela Lily. No fundo, ele é o triste fantasma de um Oeste que já não existe. Filme notável.

A Execução do Soldado Slovik
Globo, 1h35.
(The Execution of Private Slovik). EUA, 1974, 122 min. Direção: Lamont Johnson. Com Martin Sheen. Discussão sobre o destino do soldado Slovik, o primeiro americano a ser executado por deserção em muitos e muitos anos. Isso se deu em 1945. Johnson discute uma guerra que era, no momento, mais atual, a do Vietnã. Mas o filme é sensível e inteligente. Continua valendo.

Sob o Domínio dos Aliens
SBT, 3h30.

  (The Puppet Masters). EUA, 1994, 109 min. Direção: Stuart Orme. Com Donald Sutherland. O serviço de inteligência terrestre descobre a chegada entre nós de aliens cujas características são grudar-se nas costas dos seres humanos e prender os tentáculos em nossos cérebros, absorvendo sua memória e inteligência. Só para São Paulo.

Quebrando os Dez Mandamentos
Globo, 3h45.

(Commandments). EUA, 1997, 88 min. Direção: Daniel Taplitz. Com Aidan Quinn, Shirl Bernheim, Courtney Fox. Homem com existência perfeitamente feliz começa a ver seu mundo desmoronar. Tudo se volta contra ele. Em vista disso, ele resolve acertar as contas com Deus e quebrar cada um dos Dez Mandamentos. É verdade que estes não andam com tanto prestígio assim. (INÁCIO ARAUJO E PAULO SANTOS LIMA)

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