São Paulo, segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

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SOY CUBA

ARTES PLÁSTICAS

Com abertura hoje, exposição percorre as manifestações nacionais da ilha; identidade é tema recorrente

Mostra reúne produção cubana do século 20

GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Num momento em que dois filmes sobre Cuba -"Soy Cuba - O Mamute Siberiano" e "Suíte Havana"- preenchem a programação das telas e que a música cubana firmou-se como sinônimo de excelência após o estouro do Buena Vista Social Club, a inauguração de uma exposição vem trazer à tona outro aspecto da produção cultural da ilha: as artes plásticas.
Com abertura hoje no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, a mostra "A Arte de Cuba" ocupa quatro andares do prédio com um panorama bem pinçado da arte do país ao longo século 20 -das vanguardas do modernismo à produção contemporânea.
O conjunto reúne 117 obras de 61 artistas, vindas principalmente do acervo do Museu Nacional de Bellas Artes de Cuba e de coleções particulares. A divisão destas pelas salas e andares do CCBB obedece a um padrão basicamente cronológico, fazendo da exposição um trajeto pelos movimentos que marcaram a história artística da ilha ao longo do período.
"Pensei em agrupar as obras usando outros critérios que não o cronológico, mas como sinto que as pessoas têm referências muito espaçadas sobre a arte cubana, acho que esse "didatismo" faz sentido. Então, quando o público vê as obras contemporâneas, fica sabendo que aquilo não surgiu do nada e de uma hora para outra, vê que têm antecedentes", explica a curadora cubana Ania Rodríguez.
Os chamados antecedentes referem-se, antes de mais nada, aos modernistas cubanos. Assim, as salas do terceiro andar contemplam a produção que parte da "Exposicíon de Arte Nuevo", ocorrida em Havana em 1927. Nomes como Victor Manuel e Eduardo Abela estão ali representados, e certas obras chamam a atenção pela similaridade -estética e temática- com o modernismo brasileiro. Assim, a vida dos camponeses e trabalhadores surge com força, por exemplo, nas telas de Marcelo Pogolotti ("Fuerza de Trabajo" e "Obreros y Campesinos").
A influência do surrealismo aparece com força na obra de Wilfedro Lam, artista cubano de maior reconhecimento internacional. Logo na entrada do segundo andar, uma sala dedicada exclusivamente ao pintor reflete o contato deste com André Breton e o movimento nos anos 40. Também no segundo piso, uma sala contempla a abstração que marcava a produção dos anos 50.

E veio a revolução
É impossível não ver espelhado na arte o acontecimento que marcou o país a partir de 1959. A sala dedicada aos anos 60 e 70 mostra a temática refletida com força em quadros de Antonia Eiriz ("Los Caídos", de 1965) e Raúl Martínez ("Martí e la Estrella", de 1966, é uma interessante leitura cubana para a pop art). "Diferentemente do que aconteceu, por exemplo, na União Soviética, a Revolução em Cuba trouxe uma diversificação de linguagem muito grande", diz a curadora.
Mas tão interessante quanto este período é, talvez, o conjunto reunido por Ania para representar a produção contemporânea.
Devidamente instaladas no subsolo, as obras feitas a partir dos anos 80 primam pelo resgate da iconografia da revolução, porém dessacralizada, transformada em memória.
Com bom humor, Douglas Pérez retrata um jogo de baseball entre Cuba e os EUA; Flavio Garcia transforma a foice e o martelo em personagens de fábula tropical e Fernando Rodríguez constrói um altar que mistura santos padroeiros de Cuba a comandantes revolucionários.
O saguão recebe uma granada de madeira assinada pelo grupo Los Carpinteros, dupla que vem encantando galeristas ao redor do mundo. "Cuba não tem um mercado interno de arte, mas a rota dos colecionadores e curadores está passando pela ilha, há um interesse crescente."
Além da exposição, shows de música cubana -basicamente jazz- acontecerão no CCBB nos dias 7, 14 e 21 de fevereiro.


Arte de Cuba
Quando: abertura hoje (para convidados); de ter. a dom., das 10h às 21h; até 23/4
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, centro, SP, tel. 0/xx/11/3113-3651)
Quanto: entrada franca



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