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Rubens Gerchman morre aos 66 em SP
Artista carioca teve momento de maior sucesso durante a década de 60, quando fez parte de exposições como "Opinião 66"
Uma de suas pinturas, "Lindonéia", inspirou Caetano e Gil na canção homônima; morte foi decorrência de câncer
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO
O artista plástico Rubens
Gerchman morreu às 4h de ontem, aos 66 anos, no hospital
Albert Einstein, em São Paulo.
Ele enfrentava há quatro anos
um câncer raro iniciado no pulmão e estava internado há duas
semanas. O velório ocorreu no
próprio hospital e o corpo foi
cremado às 17h no Horto da
Paz, em Itapecerica da Serra.
Uma das últimas realizações
de Gerchman foi o livro com
seu nome que integrou a coleção "Portfolio Brasil", lançado
em dezembro passado pela editora J. J. Carol. O livro reúne
fotos sobre as quais o artista fez
interferências.
Ele planejava expor os trabalhos em março, em São Paulo, e
em seguida no Rio. Seus filhos
pretendem manter a idéia.
Morando na capital paulista
há dois anos, Gerchman nasceu
no Rio, cidade-tema de parte
importante de sua obra. Seus
estudos foram no Liceu de Artes e Ofícios e na Escola Nacional de Belas Artes.
Sua fase mais significativa
ocorreu nos anos 60, quando
trabalhou com artistas como
Hélio Oiticica, Carlos Vergara e
Roberto Magalhães. Produziu
obras marcantes de crítica social, como "Caixas de Morar",
"Elevador Social" e "Ditadura
das Coisas".
"Lindonéia"
Realizou a primeira exposição em 1964 e participou da
histórica mostra "Opinião 66",
no Museu de Arte Moderna do
Rio. É autor da tela "Lindonéia", inspiradora da canção
homônima de Caetano Veloso e
Gilberto Gil -gravada por Nara
Leão no disco "Tropicália ou
Panis et Circensis"- e ícone do
tropicalismo.
Realizou experiências pop
recorrendo a personagens do
noticiário dos jornais e a outros
elementos da cultura de massa,
que passaram a integrar seu
trabalho. Flertou também com
outras artes, colaborando com
o cineasta Antonio Carlos da
Fontoura em "Ver e Ouvir"
(1967). Cinco anos depois, filmou "Triunfo Hermético".
Graças a um prêmio do Salão
Nacional de Arte Moderna,
mudou-se para Nova York em
1968, vivendo nos Estados Unidos até 1972. Quando voltou ao
Brasil, o artista intensificou a
criação de obras tridimensionais, obtendo grande sucesso
com seus objetos múltiplos.
Temas populares
A apropriação de temas como futebol, telenovelas, concursos de miss e histórias em
quadrinhos fez de Gerchman
um artista plástico popular,
mas muitas vezes relegado a segundo plano pela crítica.
Isto não o impediu de ganhar
bolsas de fundações importantes, como a norte-americana
Guggenheim, e viver em Berlim, na Alemanha, em 1982, como artista residente.
Antes, entre 1975 e 1979, fora
diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio,
afrouxando o academicismo da
instituição e criando as bases
para o surgimento de artistas
da geração 80.
Em 1981, a convite da arquiteta Lina Bo Bardi, que projetou o prédio do Masp, montou
o painel de azulejos do Sesc
Pompéia. Em São paulo, já havia trabalhado, nos anos 70,
com o artista Claudio Tozzi.
Nos anos 80, produziu séries
importantes como "Beijo" e
"Banco de Trás". A profusão de
cores e a leveza dos temas marcaram essa fase, mas a violência
urbana foi outro tema que explorou bastante. Na década seguinte, passou muitas das figuras marcantes de seus quadros
para esculturas e litografias.
Algumas de suas telas inspiraram o musical "No Verão de
1996", escrito e dirigido por
Aderbal Freire-Filho e encenado no teatro Carlos Gomes, no
Rio. Entre os livros que registram sua trajetória estão
"Gerchman" (1989), com textos
do crítico Wilson Coutinho, e
"Dupla Identidade" (1993), feito com o poeta Armando Freitas Filho. No último sábado, o
bloco Simpatia É Quase Amor
desfilou em Ipanema, no Rio,
usando camisas com a imagem
da obra "Beijo", de Gerchman.
O bloco voltará a sair no próximo domingo.
Gerchman teve quatro filhos
de dois casamentos, um deles
com a artista Anna Maria
Maiolino, hoje em São Paulo.
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