São Paulo, quinta, 30 de janeiro de 1997.

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Masp abre temporada 97 somando geometria à cor

Reprodução/ Folha Imagem
Detalhe de têmpera sobre tela de Volpi


PAULO VIEIRA
Editor-adjunto da Ilustrada

O Masp abre sua temporada de exposições de 97 homenageando uma das poucas unanimidades não-figurativas da pintura brasileira: Volpi. No ano em que o modernismo retrô de Portinari e Di Cavalcanti volta a se afirmar -empurrado pela mão visível dos leilões- o museu coloca em cena a ``geometria sensível'' do pintor nascido em Lucca (Itália).
Não se trata de uma retrospectiva. Além de obras dos anos 50, 60 e 70 de Volpi, outros três artistas geométricos e, mais do que isso, coloristas, estão presentes: Arcangelo Ianelli, Aldir Mendes de Souza e o escultor Franz Weissmann, que produziu uma série de peças que citam as formas ogivais -as bandeirinhas- de Volpi.
Há um traço de união na trajetória dos artistas -de resto, bastante comum aos abstratos brasileiros. Eles iniciaram suas carreiras reproduzindo paisagens. Tanto Ianelli como Volpi tinham por hábito levar seus equipamentos para os arrabaldes da cidade. Aos poucos, foram se servindo das paisagens como mero pretexto, desconstruindo a imagem para chegar a formas geométricas.
Ianelli, radical e paradoxalmente linear em sua caminhada, chegou à cor. Há pelo menos uma década se dedica a uma série que batizou de "Vibrações da Cor" -em imagens quase monocromáticas, já desprovidas da linha, faz pipocar uma imensa gama de matizes. Basta-lhe a cor para atingir objetivos dramáticos que, outro paradoxo, pode passar também como mero ornamento.
Aldir elegeu como sua musa o cafeeiro. Do indivíduo chegou ao coletivo, o cafezal. A perspectiva que adveio foi aérea, como se víssemos seu cafezal a milhares de pés de altura. Libertou-se de seu mote usando cores que não o terra e o verde, não reproduzíveis na natureza.
O austríaco Weissmann (chegou ao Brasil com 15 anos) apresenta questões parecidas com as de seus companheiros de exposição. Não lhe interessa reproduzir algo. Procura, com suas linhas e ângulos retos, desarticular as formas geométricas de que se serve como ponto de partida. Mas o objetivo não é estéril, como a só procurar as muitas permutações que as faces viradas de um cubo podem lhe oferecer.
Mesmo em Josef Albers, que passou a sua vida a pintar uma sobreposição de quadrados, há a "expressão de um mito que se forma na psiquê humana e, portanto, serve ao pensamento" -nas palavras do crítico Giulio Carlo Argan.
É possível que essas questões não passassem pela cabeça de Volpi, que -à maneira de Ianelli- partiu da paisagem para a contenção de sua pintura. Restaram inicialmente os mastros das festas de São João, as janelas e portas transformadas em retângulos sobre paredes quadradas. E as bandeirinhas, mero registro das festas religiosas do Cambuci ou forma que une a precisão do quadrado à precisão dos triângulos equiláteros? A questão, como a dar a dimensão verdadeira de um artista, ecoa muito além de sua existência.

Exposição: Poetas do Espaço e da Cor Onde: Masp (Av. Paulista, 1578, tel. 251-5644) Quando: de amanhã a 9 de março (ter a dom, 11h às 18h; qui, 11h às 20h) Quanto: R$ 6 (grátis às quintas)
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