São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2001

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CINEMA/ESTRÉIA

O amor no tempo da dúvida

"Amores Possíveis" faz crônica das possibilidades de um casal, depois de um encontro que não houve

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O segundo longa-metragem da cineasta Sandra Werneck, 49, que estréia hoje em 80 salas brasileiras, é um exercício em torno dos "Amores Possíveis" na vida de um homem (Murilo Benício) e de uma mulher (Carolina Ferraz).



Depois de um parêntese de 15 anos, aberto no dia em que ela (Júlia) deixou Carlos (ele) plantado na porta de um cinema, com um par de ingressos na mão, é apresentado um trio de hipóteses para o destino de cada um.
Desdobrar seus protagonistas em três -Carlos é um homem casado que se torna amante de Júlia. Um homem que a deixou para viver com outro homem. Um adolescente tardio que vive com a mãe. Júlia é uma historiadora da arte que estudou nos Estados Unidos. Uma mulher devastada pela opção do marido (por outro). Uma ex-modelo que coleciona aventuras internacionais- e intercalar as histórias sem conduzir o espectador a uma conclusão definitiva é o grande mérito do filme, na avaliação da diretora.
"Essa narrativa é ousada, corri riscos ao adotá-la, mas hoje sinto que tenho uma assinatura", diz Werneck, que havia realizado "O Pequeno Dicionário Amoroso" em 1997, com o qual registrou 400 mil espectadores no país.
Que enquadrem seu cinema na prateleira das comédias românticas é algo que incomoda a cineasta. "Estou discutindo questões sobre a vida das pessoas a partir do amor. Esse filme tem drama, tem humor e tem romance. Não é só uma comédia romântica", diz.
Outra "coragem" do filme é a representação de um quadrilátero familiar composto por dois homens, uma mulher e uma criança (o jovem ator Alberto Szafran). "Tratar o homossexualismo de forma caricata é o mais comum, fazer o cabeleireiro bicha é o jeito fácil, mas não se trata disso. Estamos abordando o desejo de forma séria", afirma Werneck.
A pertinência da discussão transformou o Carlos que se apaixona por Pedro (Emílio de Mello) no personagem favorito do ator Murilo Benício. "Lendo o roteiro, vi que, como espectador, essa era a história que eu mais queria ver", afirma ele.
"Amores Possíveis" recebeu o aval do Festival de Sundance, em que foi premiado, em janeiro, como melhor filme latino-americano da competição. O aumento da visibilidade de seu trabalho é um fator com que Sandra Werneck -que também é produtora da fita- conta para facilitar a captação de recursos e encurtar o tempo de produção de seus próximos projetos.
Concluída com R$ 2 milhões, a realização de "Amores Possíveis" consumiu três anos e dois meses entre a finalização do roteiro (de Paulo Halm) e a estréia hoje, nos cinemas.
Paralelamente à carreira nas salas do país (a expectativa da cineasta é atingir 600 mil espectadores), o filme deve participar "de uns 50 festivais internacionais".
Sandra não irá acompanhá-los, porque quer engatar logo a produção de seu novo longa.


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