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ANÁLISE
"BBB5" é novela sem autor individual
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Mais um "Big Brother Brasil" acaba em alta. Os novos
recordes de audiência -em escala nacional e mundial- reanimam a especulação sobre as razões do sucesso do "reality show".
Fala-se nas artimanhas dos personagens de cada edição. Observa-se a tendência "Cinderela" do
público em premiar fracos e oprimidos. Mas pouco se atenta à forma do programa propriamente
dita.
O "Big Brother" faz sucesso por
aqui sem escatologia, violência,
sexo explícito ou voyeurismo. O
que não quer dizer que o programa prime pelo estímulo à inteligência. O "BBB" simplesmente
propõe um jogo em rede.
Há cerca de cinco anos, ações
extremadas como uma transa ao
vivo ou uma tentativa de assassinato, em Portugal, no Reino Unido e na Holanda, horrorizaram o
planeta, prenunciando um milênio de péssimo gosto.
Já no país da novela, onde obtém seus melhores índices, o
"BBB" ganhou versão que evita
apelações. Os dramas são mornos, não passam de entediantes
futricas, tratadas principalmente
na chave verbal.
O "BBB" é como uma novela
sem autor individual. O roteiro é
feito ao longo do caminho, com a
ajuda de todos, inclusive diretores
e editores.
O tom é familiar. Pais orgulhosos comparecem para apoiar a
opção dos filhos. Bial, solidário, se
aventura pela psicologia eletrônica de improviso. O mestre observa compenetrado a evolução de
seus tutelados.
O "BBB" tem um pouco do jogo
de RPG. Para o público, a emoção
está na sensação de participar,
mesmo que de longe, das decisões
que regem o desenrolar da trama.
Há aquele gostinho perverso de se
sentir um pouco responsável pela
manipulação das cordas que definem os movimentos dos participantes-personagens.
Mas se o "BBB" tem algo de formato do futuro, está mais do que
na hora de inventar assuntos mais
interessantes.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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