São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2007

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THIAGO NEY

"Fast-music"

Em vez de fechar contrato para fazer um álbum inteiro, gravadora assina com banda para apenas duas canções

É MAIS fácil alguém desvendar o que acontece em "Lost" ou a próxima escalação do Corinthians do que acertar quando acontecerá a "morte do CD". Estamos no meio da bagunça, e a real é que ninguém sabe ainda como e quando isso vai terminar. Mas algumas mudanças estão pipocando, ajudando a dar pistas sobre o que nos espera.
Por exemplo: em mais uma tentativa de garantir seu latifúndio nessa reforma agrária da música, as grandes gravadoras estão mudando radicalmente os contratos feitos com seus artistas. O primeiro grande movimento nesse sentido veio da Universal. A filial americana da empresa assinou recentemente com um trio feminino de r&b e rap, o Candy Hill.
Mas, em vez de receber adiantamento vultoso para gravar um álbum num estúdio de porte, verba de marketing etc., o grupo ganhou uma quantia muito menor, o suficiente para fazer apenas duas canções.
A tática é a seguinte: a gravadora faz um vídeo, lança as canções como singles nas rádios, iTunes e outros serviços, e vê se a banda "pega". Se pegar, aí o trio ganha grana para produzir um álbum inteiro. Se não pegar, um abraço. Mais: tem banda que assina apenas para fazer ringtones...

 

A história saiu no caderno de economia do "New York Times" nesta semana. Alguns números motivam essa estratégia: neste ano, a venda de discos caiu 16%, enquanto a venda de download de canções subiu 54% nos Estados Unidos, em comparação com o mesmo período de 2006, segundo a Nielsen SoundScan.
A justificativa? Aquela que a gente já conhece: ninguém quer torrar dinheiro num álbum apenas "mais ou menos"; as pessoas preferem comprar apenas as músicas que gostam.
 

A estratégia da Universal com o Candy Hill é novidade nos EUA, mas no Pará isso é feito há algum tempo. É como funciona o tecnobrega. Cantores, produtores e bandas gravam quatro músicas. As músicas são tocadas nas aparelhagens e nas rádios. As de maior sucesso são compiladas em CDs piratas e vendidas por camelôs. E os artistas ganham dinheiro tocando em festas e shows.
 

Você lê a história do Candy Hill e pensa que o CD já era, que nunca mais ninguém vai fazer álbum, que vamos voltar à era do compacto, como nos anos 50, e tal. E, aí, na semana passada, uma banda indie como o Modest Mouse (tudo bem, eles são da SonyBMG, mas indies de espírito...) vende 130 mil cópias de seu último disco e chega ao primeiro lugar da parada americana, na frente de cantores do "American Idol"...
 

Já que os discos estão definhando, vá atrás desses dois antes que eles empacotem: "Ed Rec. Vol. 2", compilação do selo francês Ed Banger com faixas de Justice, SebastiAn, Uffie; e "Sound of Silver", do LCD Soundsystem (já falei desse?).

thiago@folhasp.com.br

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