São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

É Tudo Verdade chega a Heliópolis

Centro comunitário do bairro da periferia de SP assistiu à estréia de "Handerson e as Horas", novo documentário de Kiko Goifman

Filme, que passa hoje no Cinesesc, exibe a rotina de morador de Heliópolis para chegar ao trabalho no transporte coletivo de SP


DA REPORTAGEM LOCAL

Um telão suspenso na marca do gol, na tarde da última terça, era o mais visível sinal da transformação em "sala" de cinema do que é a quadra poliesportiva do Unas -área de lazer e Ponto de Cultura de Heliópolis, zona sul de São Paulo. "Está torta [a imagem]", denunciou um espectador, acomodado numa das cadeiras de plástico dispostas em fila, logo que a primeira cena surgiu na tela. Estava mesmo, pendida para a direita.
Àquela altura, era melhor deixar as coisas como estavam, já que o projetor do filme encontrava-se pendurado no ar, sobre uma tábua, por sua vez presa a um sistema de roldanas que a erguia do solo.
A engenhoca estava sendo usada pela primeira vez. Era também a primeira vez que o documentário "Handerson e as Horas" -na programação de hoje do festival É Tudo Verdade- seria exibido em público.
E estréias têm muito de imprevisto, como bem sabe o autor do filme, o cineasta Kiko Goifman ("33", "Morte Densa"). No caminho até Heliópolis, Goifman ensaiava um modo de apresentar o filme aos seus primeiros espectadores.
O diretor cogitou dizer que "Handerson e as Horas" é "uma visão da tragédia brasileira, que obriga trabalhadores a ficar horas confinados em ônibus, no caminho até o batente".
Mas o filme é também exemplo de soluções individuais que pessoas como Handerson e seus amigos inventam para salvar o tempo forçosamente "perdido", fazendo, por exemplo, uma festa de aniversário durante o trajeto de duas horas e meia do coletivo, com bolo, salgadinhos, cerveja e bexigas -tudo registrado no filme.
O diretor pensou ainda em citar as razões porque, em sua forma, "Handerson e as Horas" é uma subversão ao padrão televisivo de produção de imagens, embora seja ele mesmo um programa de TV, produzido com apoio da iniciativa DocTV, do Ministério da Cultura.
Mas Goifman preferiu falar menos. Diante de uma platéia de jovens e crianças, temeu o pior -a incomunicabilidade de seu filme- e fez, ao lado do "protagonista" Handerson, uma breve introdução à sessão.
Ao fim do filme, Francisco Cesar Filho, cineasta e programador do festival É Tudo Verdade, ofereceu o microfone a quem tivesse "dúvidas, comentários, críticas". Silêncio. Goifman e Handerson preparavam-se para ir embora, quando veio a primeira pergunta, depois outra e outra e outra.
O público de Heliópolis quis saber se as imagens eram espontâneas (sim, eram) ou encenadas; se nenhum passageiro do ônibus reclama da farra (às vezes) e, "já que o filme aponta o problema, qual é a solução?".
Nessa questão, Handerson e o público não chegaram a acordo. Ele elogiou "os corredores de ônibus como fizeram aqui no Sacomã". A platéia fez sinal de negativo. "Para chegar até o novo terminal, demora mais", explicou a estudante Nínive Loriane à Folha. Já "Handerson e as Horas" precisou só de seus 52 minutos para ganhar Loriane: "Gostei muito".
(SILVANA ARANTES)

HANDERSON E AS HORAS
Quando:
hoje, às 23h
Onde: Cinesesc (r. Augusta, 2.075, SP, tel. 0/xx/11/3082-0213)
Quanto: entrada franca


Texto Anterior: Comunidade no Orkut tem 12 mil membros
Próximo Texto: Diretor faz "coleção" de fobias na rede
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.