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É Tudo Verdade chega a Heliópolis
Centro comunitário do bairro da periferia de SP assistiu à estréia de "Handerson e as Horas", novo documentário de Kiko Goifman
Filme, que passa hoje no Cinesesc, exibe a rotina de morador de Heliópolis para
chegar ao trabalho no transporte coletivo de SP
DA REPORTAGEM LOCAL
Um telão suspenso na marca
do gol, na tarde da última terça,
era o mais visível sinal da transformação em "sala" de cinema
do que é a quadra poliesportiva
do Unas -área de lazer e Ponto
de Cultura de Heliópolis, zona
sul de São Paulo. "Está torta [a
imagem]", denunciou um espectador, acomodado numa
das cadeiras de plástico dispostas em fila, logo que a primeira
cena surgiu na tela. Estava
mesmo, pendida para a direita.
Àquela altura, era melhor
deixar as coisas como estavam,
já que o projetor do filme encontrava-se pendurado no ar,
sobre uma tábua, por sua vez
presa a um sistema de roldanas
que a erguia do solo.
A engenhoca estava sendo
usada pela primeira vez. Era
também a primeira vez que o
documentário "Handerson e as
Horas" -na programação de
hoje do festival É Tudo Verdade- seria exibido em público.
E estréias têm muito de imprevisto, como bem sabe o autor do filme, o cineasta Kiko
Goifman ("33", "Morte Densa"). No caminho até Heliópolis, Goifman ensaiava um modo
de apresentar o filme aos seus
primeiros espectadores.
O diretor cogitou dizer que
"Handerson e as Horas" é "uma
visão da tragédia brasileira, que
obriga trabalhadores a ficar horas confinados em ônibus, no
caminho até o batente".
Mas o filme é também exemplo de soluções individuais que
pessoas como Handerson e
seus amigos inventam para salvar o tempo forçosamente
"perdido", fazendo, por exemplo, uma festa de aniversário
durante o trajeto de duas horas
e meia do coletivo, com bolo,
salgadinhos, cerveja e bexigas
-tudo registrado no filme.
O diretor pensou ainda em
citar as razões porque, em sua
forma, "Handerson e as Horas"
é uma subversão ao padrão televisivo de produção de imagens, embora seja ele mesmo
um programa de TV, produzido
com apoio da iniciativa DocTV,
do Ministério da Cultura.
Mas Goifman preferiu falar
menos. Diante de uma platéia
de jovens e crianças, temeu o
pior -a incomunicabilidade de
seu filme- e fez, ao lado do
"protagonista" Handerson,
uma breve introdução à sessão.
Ao fim do filme, Francisco
Cesar Filho, cineasta e programador do festival É Tudo Verdade, ofereceu o microfone a
quem tivesse "dúvidas, comentários, críticas". Silêncio.
Goifman e Handerson preparavam-se para ir embora, quando veio a primeira pergunta,
depois outra e outra e outra.
O público de Heliópolis quis
saber se as imagens eram espontâneas (sim, eram) ou encenadas; se nenhum passageiro
do ônibus reclama da farra (às
vezes) e, "já que o filme aponta
o problema, qual é a solução?".
Nessa questão, Handerson e
o público não chegaram a acordo. Ele elogiou "os corredores
de ônibus como fizeram aqui
no Sacomã". A platéia fez sinal
de negativo. "Para chegar até o
novo terminal, demora mais",
explicou a estudante Nínive
Loriane à Folha. Já "Handerson e as Horas" precisou só de
seus 52 minutos para ganhar
Loriane: "Gostei muito".
(SILVANA ARANTES)
HANDERSON E AS HORAS
Quando: hoje, às 23h
Onde: Cinesesc (r. Augusta, 2.075, SP, tel. 0/xx/11/3082-0213)
Quanto: entrada franca
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