São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2007

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Crítica/filme

Longa acerta na música e se equivoca na dramaturgia

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Parcela de "Ó Paí, Ó" -que, em "baianês", é contração de "olhe para isso, olhe"- se volta para o que celebra a Bahia como cartão-postal de um certo Brasil: sensualidade, musicalidade e cordialidade, em paisagem exuberante e sob a égide supostamente igualitária (já comprou seu abadá?) do Carnaval.
A recorrência dessa imagem nos meios de comunicação torna difícil separar o que é autêntico do que virou estereótipo.
Parece razoável, no mínimo, supor que a Bahia da maioria dos soteropolitanos talvez não seja a Bahia da indústria turística e do imaginário afro-brasileiro sorridente.
Esse contraste ocupa outra parcela do filme extraído pela soteropolitana Monique Gardenberg ("Jenipapo", "Benjamin") da peça de Marcio Meirelles. Seu cenário, o Pelourinho, empresta elementos culturais e socioeconômicos para dramas cotidianos em torno dos inquilinos de um cortiço.
A responsável pelo casarão (Luciana Souza), caracterizada como fanática religiosa e ironicamente vilanizada o tempo todo, é figura central para a estratégia, ao simbolizar um obscurantismo de dupla face, tanto no aspecto comportamental quanto no político.
É peso demais sobre as costas de figura construída com tintas esquemáticas. Ao descarregar sobre ela o fardo de transmitir suas preocupações sociais, "Ó Paí, Ó" apenas ressalta, no final, a fragilidade de sua dramaturgia: personagens são abandonados pelo caminho em nome de um mosaico cuja força exigiria composição mais sólida desses mesmos personagens.
Outros atores se encarregam, no entanto, de reforçar o aspecto lúdico. Lázaro Ramos, como um pintor que arrasta a asa para Emanuelle Araújo, e Wagner Moura, como um extravagante contraventor, são os ímãs dessa comédia musical que, pela ênfase nas canções e no gingado, bem poderia ser traduzida como "ouça isso, ouça".


Ó PAÍ, Ó
Produção:
Brasil, 2007
Direção: Monique Gardenberg
Com: Lázaro Ramos, Dira Paes e Wagner Moura
Quando: A partir de hoje nos cines Morumbi, Frei Caneca Unibanco Arteplex, HSBC Belas Artes e circuito
Avaliação: regular


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