São Paulo, domingo, 30 de março de 2008

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Livro de Lima Barreto é o próximo da "Coleção"

"Triste Fim..." estará à venda nas bancas no dia 6/4

DA REPORTAGEM LOCAL

Um major, subsecretário do Arsenal de Guerra, patriota exaltado que insiste para que o tupi-guarani seja decretado "língua oficial e nacional do povo brasileiro", é o protagonista de "Triste Fim de Policarpo Quaresma", o oitavo volume da série "Coleção Folha Grandes Escritores Brasileiros".
Trata-se do principal romance de Lima Barreto (1881 -1922), escritor que nasceu pobre, viveu como pequeno funcionário e publicou artigos e romance em jornais, inclusive "Triste Fim..." (lançado em folhetins, no "Jornal do Comércio", em 1911).
Nem o autor obteve sucesso, nem sua voz teve o crédito merecido na conservadora sociedade do início do século 20.
Dado a crises de depressão, alcoólatra, Barreto internou-se duas vezes no Hospício Nacional. Morreu de colapso cardíaco, com apenas 41 anos.
Durante algum tempo a crítica se pautou em localizar indícios autobiográficos em sua ficção, que também era acusada de não exibir bastante sofisticação artística. Mas a verdade é que, como um todo, sua obra transcende essa conjuntura redutora.
Policarpo é mais do que Barreto. O personagem representa o nacionalista íntegro e ingênuo, que não compreende as engrenagens que movem os interesses políticos e acabam por esmagá-lo.
Nesse sentido, Policarpo não deixa de ser um sonhador nos moldes de Dom Quixote.
Como observou o crítico Oliveira Sobrinho: "Ambos são otimistas incuráveis, porque acreditam que os males sociais e sofrimentos humanos podem ser curados pela mais simples e ao mesmo tempo mais difícil das terapêuticas, que é a aplicação da justiça da qual um e outro se arvoraram paladinos".
Se há muito de sátira nos traços e no comportamento de Quaresma, e esta convida ao riso, trata-se de um riso amargo, pois esbarra no estado melancólico que envolve o personagem, cujo destino parece ser o de todos os que crêem em um ideal caduco ou impossível.
Ao sair do hospício, Quaresma se envolve na Revolta da Armada (1893) na condição de defensor do presidente Floriano Peixoto, que chega a lhe dizer: "Você, Quaresma, é um visionário...".
Mas o presidente se revela um ditador, e seu admirador, sem que este último saiba bem por quê, acaba preso e condenado como traidor.
As palavras com que, em carta à irmã, ele exprime seu desalento são de um patetismo poucas vezes alcançado na ficção brasileira. Lembram o monólogo final de Macbeth, antes da queda de seu reino: "Esta vida é absurda e ilógica [...] Ninguém compreende o que quero, ninguém deseja penetrar e sentir; passo por doido, tolo, maníaco e a vida se vai fazendo inexoravelmente com a sua brutalidade e fealdade."
O livro "Triste Fim de Policarpo Quaresma" estará à venda nas bancas no próximo domingo.


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