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Instituto Moreira Salles lança revista de ensaios
Destaque da 1ª "Serrote" são os desenhos inéditos de Saul Steinberg, ilustrador da "New Yorker'
Quadrimestral, publicação estreia com ensaio de Carlo Ginzburg, fotos de Gautherot e carta inédita de Mário de Andrade a Otto Lara Resende
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
O Instituto Moreira Salles
chega à maioridade buscando
mais visibilidade para o acervo
acumulado em 18 anos e maior
aproximação com o público.
Uma das primeiras empreitadas é o lançamento da "Serrote" (R$ 29,90; 224 págs.), revista quadrimestral de ensaios,
em formato de livro, e desde
anteontem nas livrarias.
"É um modo de o instituto
contribuir com a circulação de
ideias, numa revista de ensaios
de figurino anglo-saxão, comprometida com a clareza, sem
os ritos acadêmicos", diz Flávio
Pinheiro, que está na comissão
editorial ao lado de Matinas Suzuki Jr., Rodrigo Lacerda, Samuel Titan Jr. e Daniel Trench,
autor do projeto gráfico.
Ainda segundo Pinheiro, a
"Serrote" privilegia não só o
texto, mas também as imagens,
com edições bem ilustradas, diferente de publicações tradicionais brasileiras como a extinta "Argumento" ou a revista
do Cebrap. O primeiro número,
por exemplo, traz desenhos de
Saul Steinberg (1914-1999), célebre cartunista e ilustrador da
"New Yorker", acompanhados
de análise de Rodrigo Naves.
"É o carro alegórico do primeiro número. Um conjunto
formidável de 20 desenhos inéditos, de um caderno feito em
1954", diz Pinheiro.
Batismo
Em busca de um nome para a
revista, Pinheiro conta, bem-humorado, que palavras ligadas
a ensaio soavam pernósticas ou
sérias demais. "Pensamos em
usar simplesmente "Ensaio",
mas a palavra no Brasil tem a
conotação teatral ou ligada a
escolas de samba", diz.
O batismo acabou sendo feito
por Matinas, levemente inspirado em poema do livro "Poliedro", de Murilo Mendes (1901-1975), que diz: "Tremo quando
examino o serrote". "Lembra a
tradição de revistas literárias
com nomes mais humorísticos,
como "O Malho'", diz Matinas.
O acervo do instituto aparece
na revista em dois achados: fotos que o francês Marcel Gautherot (1910-1996) tirou de
Pancetti (1902-1958) fazendo
pinturas em vidro. E uma carta
inédita, de 1944, de Mário de
Andrade para Otto Lara Resende. "Foi feita depois de uma visita de Mário a Belo Horizonte
e traz comentários dele sobre a
então jovem turma de escritores mineiros", conta Rodrigo
Lacerda, que encontrou a carta.
Outro texto inédito é "David,
Marat", ensaio do historiador
italiano Carlo Ginzburg, fruto
de palestra que ele deu em Bolonha, Paris e em Passo Fundo,
e que será publicado na Itália
em 2010. "Ele usa um quadro
para falar das relações entre
política e religião, algo que poderia parecer puramente acadêmico. É um jeito de pensar o
presente e que aparece aqui ricamente ilustrado", diz Titan.
A única seção fixa será o "alfabeto serrote", em que um
convidado explica um verbete.
Na estreia, Chico Alvim fala de
"serrote", Antonio Cicero, de
"verso" , e Tostão, chamado para definir "drible", acabou com
"passe". "É mais importante",
disse o ex-jogador a Matinas.
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