São Paulo, segunda-feira, 30 de março de 2009

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Instituto Moreira Salles lança revista de ensaios

Destaque da 1ª "Serrote" são os desenhos inéditos de Saul Steinberg, ilustrador da "New Yorker'

Quadrimestral, publicação estreia com ensaio de Carlo Ginzburg, fotos de Gautherot e carta inédita de Mário de Andrade a Otto Lara Resende

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Instituto Moreira Salles chega à maioridade buscando mais visibilidade para o acervo acumulado em 18 anos e maior aproximação com o público. Uma das primeiras empreitadas é o lançamento da "Serrote" (R$ 29,90; 224 págs.), revista quadrimestral de ensaios, em formato de livro, e desde anteontem nas livrarias.
"É um modo de o instituto contribuir com a circulação de ideias, numa revista de ensaios de figurino anglo-saxão, comprometida com a clareza, sem os ritos acadêmicos", diz Flávio Pinheiro, que está na comissão editorial ao lado de Matinas Suzuki Jr., Rodrigo Lacerda, Samuel Titan Jr. e Daniel Trench, autor do projeto gráfico.
Ainda segundo Pinheiro, a "Serrote" privilegia não só o texto, mas também as imagens, com edições bem ilustradas, diferente de publicações tradicionais brasileiras como a extinta "Argumento" ou a revista do Cebrap. O primeiro número, por exemplo, traz desenhos de Saul Steinberg (1914-1999), célebre cartunista e ilustrador da "New Yorker", acompanhados de análise de Rodrigo Naves.
"É o carro alegórico do primeiro número. Um conjunto formidável de 20 desenhos inéditos, de um caderno feito em 1954", diz Pinheiro.

Batismo
Em busca de um nome para a revista, Pinheiro conta, bem-humorado, que palavras ligadas a ensaio soavam pernósticas ou sérias demais. "Pensamos em usar simplesmente "Ensaio", mas a palavra no Brasil tem a conotação teatral ou ligada a escolas de samba", diz.
O batismo acabou sendo feito por Matinas, levemente inspirado em poema do livro "Poliedro", de Murilo Mendes (1901-1975), que diz: "Tremo quando examino o serrote". "Lembra a tradição de revistas literárias com nomes mais humorísticos, como "O Malho'", diz Matinas.
O acervo do instituto aparece na revista em dois achados: fotos que o francês Marcel Gautherot (1910-1996) tirou de Pancetti (1902-1958) fazendo pinturas em vidro. E uma carta inédita, de 1944, de Mário de Andrade para Otto Lara Resende. "Foi feita depois de uma visita de Mário a Belo Horizonte e traz comentários dele sobre a então jovem turma de escritores mineiros", conta Rodrigo Lacerda, que encontrou a carta.
Outro texto inédito é "David, Marat", ensaio do historiador italiano Carlo Ginzburg, fruto de palestra que ele deu em Bolonha, Paris e em Passo Fundo, e que será publicado na Itália em 2010. "Ele usa um quadro para falar das relações entre política e religião, algo que poderia parecer puramente acadêmico. É um jeito de pensar o presente e que aparece aqui ricamente ilustrado", diz Titan.
A única seção fixa será o "alfabeto serrote", em que um convidado explica um verbete. Na estreia, Chico Alvim fala de "serrote", Antonio Cicero, de "verso" , e Tostão, chamado para definir "drible", acabou com "passe". "É mais importante", disse o ex-jogador a Matinas.


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