São Paulo, terça-feira, 30 de março de 2010

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Morre o jornalista Armando Nogueira, 83

Criador do "Jornal Nacional" e renomado cronista esportivo, comentarista sofria de câncer no cérebro havia três anos

Nogueira testemunhou e relatou ataque a Lacerda e foi responsável final por coberturas criticadas do telejornal da Rede Globo


DA SUCURSAL DO RIO

Criador do "Jornal Nacional", testemunha em 1954 do atentado ao político Carlos Lacerda (1914-1977), jornalista esportivo, escritor, cronista e piloto de ultraleve, Armando Nogueira, 83, morreu ontem ao amanhecer em seu apartamento na zona sul carioca. Sofria de câncer cerebral havia três anos.
"Armando foi um companheiro maravilhoso, cativante e adorável. Ele mudou a linguagem do telejornalismo brasileiro com rigor fantástico na precisão da informação e na qualidade do texto. Ele nos deixa inspiração para o futuro", declarou o vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho.
Companheiro de Nogueira na emissora, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, definiu-o como "polivalente". "O jornalismo moderno de televisão foi implantado com um trabalho de luta do Armando Nogueira, uma preocupação constante com o texto jornalístico.
É a pessoa mais importante para o jornalismo na televisão", disse Boni. Acreano de Xapuri (a 200 km da capital Rio Branco), nasceu em 14 de janeiro de 1927. Foi para o Rio 17 anos depois. Formou-se em direito, mas preferiu trabalhar como jornalista.
Armando Nogueira trabalhou na Rede Globo entre 1966 e 1990, onde dirigiu a Central Globo de Jornalismo, sendo responsável final por coberturas criticadas como o chamado "escândalo da Proconsult" em 1982 (fraude na contagem de votos da eleição para o governo do Estado do Rio, com suposto acobertamento da emissora) e a cobertura restrita da campanha das Diretas em 84 (quando suas equipes foram orientadas a não veicular imagens abertas dos comícios para não dar dimensão da adesão popular ao movimento).
Embora tenha trabalhado em variadas áreas do jornalismo, Nogueira se notabilizou na cobertura esportiva. Cobriu 13 Copas do Mundo -a primeira, em 1954- e seis Olimpíadas, a última em 2004.
Em 1954, dois episódios distintos marcaram o jovem jornalista. Na Copa, relatou e fotografou a histórica briga entre a delegação brasileira, recém-derrotada pela Hungria por 4 a 2, com suíços e húngaros. A confusão entrou para a história do futebol brasileiro com o título de "A Batalha de Berna". No mesmo ano, publicou em primeira pessoa relato do atentado que, na véspera, 5 de agosto, presenciara contra o jornalista e deputado Carlos Lacerda na rua Tonelero (Copacabana).
Ele voltava para casa quando, por acaso, testemunhou o ataque a Lacerda, baleado no pé. O atentado acirrou mais ainda a crise política da época, que culminou em 24 daquele mês com o suicídio do então presidente Getúlio Vargas, contra quem Lacerda se opunha.
Seu estilo de texto, no jornal e na televisão, buscava aproximação com a crônica e a poesia. Nogueira escreveu dez livros, a maioria sobre esportes, entre eles, "O Homem e a Bola".
O velório ocorreu no estádio do Maracanã. O enterro será às 12h de hoje no cemitério São João Batista, em Botafogo. O jornalista deixa um filho, Armando Augusto Nogueira. Prefeitura e Estado do Rio, assim como a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), decretaram luto de três dias.

Leia entrevista inédita com Armando Nogueira, em que fala de jornalismo e futebol

www.folha.com.br/100883



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