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Morre o jornalista Armando Nogueira, 83
Criador do "Jornal Nacional" e renomado cronista esportivo, comentarista sofria de câncer no cérebro havia três anos
Nogueira testemunhou e relatou ataque a Lacerda e foi responsável final por coberturas criticadas do telejornal da Rede Globo
DA SUCURSAL DO RIO
Criador do "Jornal Nacional", testemunha em 1954 do
atentado ao político Carlos Lacerda (1914-1977), jornalista
esportivo, escritor, cronista e
piloto de ultraleve, Armando
Nogueira, 83, morreu ontem ao
amanhecer em seu apartamento na zona sul carioca. Sofria de
câncer cerebral havia três anos.
"Armando foi um companheiro maravilhoso, cativante e
adorável. Ele mudou a linguagem do telejornalismo brasileiro com rigor fantástico na precisão da informação e na qualidade do texto. Ele nos deixa
inspiração para o futuro", declarou o vice-presidente das
Organizações Globo, João Roberto Marinho.
Companheiro de Nogueira
na emissora, José Bonifácio de
Oliveira Sobrinho, o Boni, definiu-o como "polivalente". "O
jornalismo moderno de televisão foi implantado com um trabalho de luta do Armando Nogueira, uma preocupação constante com o texto jornalístico.
É a pessoa mais importante para o jornalismo na televisão",
disse Boni.
Acreano de Xapuri (a 200 km
da capital Rio Branco), nasceu
em 14 de janeiro de 1927. Foi
para o Rio 17 anos depois. Formou-se em direito, mas preferiu trabalhar como jornalista.
Armando Nogueira trabalhou na Rede Globo entre 1966
e 1990, onde dirigiu a Central
Globo de Jornalismo, sendo
responsável final por coberturas criticadas como o chamado
"escândalo da Proconsult" em
1982 (fraude na contagem de
votos da eleição para o governo
do Estado do Rio, com suposto
acobertamento da emissora) e
a cobertura restrita da campanha das Diretas em 84 (quando
suas equipes foram orientadas
a não veicular imagens abertas
dos comícios para não dar dimensão da adesão popular ao
movimento).
Embora tenha trabalhado
em variadas áreas do jornalismo, Nogueira se notabilizou na
cobertura esportiva. Cobriu 13
Copas do Mundo -a primeira,
em 1954- e seis Olimpíadas, a
última em 2004.
Em 1954, dois episódios distintos marcaram o jovem jornalista. Na Copa, relatou e fotografou a histórica briga entre a
delegação brasileira, recém-derrotada pela Hungria por 4 a
2, com suíços e húngaros. A
confusão entrou para a história
do futebol brasileiro com o título de "A Batalha de Berna".
No mesmo ano, publicou em
primeira pessoa relato do atentado que, na véspera, 5 de agosto, presenciara contra o jornalista e deputado Carlos Lacerda
na rua Tonelero (Copacabana).
Ele voltava para casa quando,
por acaso, testemunhou o ataque a Lacerda, baleado no pé.
O atentado acirrou mais ainda a crise política da época, que
culminou em 24 daquele mês
com o suicídio do então presidente Getúlio Vargas, contra
quem Lacerda se opunha.
Seu estilo de texto, no jornal
e na televisão, buscava aproximação com a crônica e a poesia.
Nogueira escreveu dez livros, a
maioria sobre esportes, entre
eles, "O Homem e a Bola".
O velório ocorreu no estádio
do Maracanã. O enterro será às
12h de hoje no cemitério São
João Batista, em Botafogo. O
jornalista deixa um filho, Armando Augusto Nogueira.
Prefeitura e Estado do Rio,
assim como a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), decretaram luto de três dias.
Leia entrevista inédita
com Armando Nogueira,
em que fala de jornalismo
e futebol
www.folha.com.br/100883
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