São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 2011

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Luc Ferry diagnostica revolução na vida privada

Filósofo francês virá a evento em SP em setembro

LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Um dos conferencistas do "Fronteiras do Pensamento" neste ano, o filósofo francês Luc Ferry, prepara-se para falar no evento em 28 de setembro em São Paulo.
Em seu último livro, "La Révolution de L'Amour -Pour une Spiritualité Laïque" (a revolução do amor - por uma espiritualidade laica), ele defende que vivemos no Ocidente "uma revolução na vida privada com consequências metafísicas e políticas quase infinitas".
À Folha ele analisa essa constatação e comenta a catástrofe nuclear no Japão.

 


Folha - O sr. prega uma revolução do amor em seu último livro. Pode resumi-la? Luc Ferry - Não a prego, constato-a. Passamos, no Ocidente, do casamento arranjado por famílias ao casamento de amor. Há uma revolução na vida privada com consequências metafísicas e políticas quase infinitas.
Sob o efeito da história da família moderna, fundada na invenção do casamento por amor na Europa, assistimos ao surgimento de uma nova figura do sagrado, encarnado na humanidade, com todos os mal-entendidos, mas também todas as esperanças.
Os motivos tradicionais do sacrifício coletivo desapareceram. Quem quer hoje no Ocidente morrer por Deus, pela pátria, pela revolução? Quase ninguém e acho que é a melhor notícia do milênio!
O que move a política hoje é que mundo deixar para nossos filhos quanto à dívida, à proteção social ou ao ambiente.

O sr. publicou "A Nova Ordem Ecológica". Como analisa a catástrofe nuclear no Japão?
Os especialistas diziam que tudo era controlado. Os fatos os desmentiram. Que lições tirar? Primeiro, que o verdadeiro racionalismo não consiste em acumular certezas, mas em desconfiar.
Depois, que os ecologistas perderam, como sempre, o sangue frio e se deixaram guiar pelo medo. A conclusão não é que devemos voltar ao tempo das cavernas, mas que é preciso construir diques mais elevados e reatores mais bem protegidos.
Vamos ter que gastar mais e parar de construir centrais nucleares em lugares onde há falhas sísmicas.

De qual filósofo o senhor se sente mais próximo, de Sartre ou de Camus? Por quê?
Não gosto de Sartre como personagem, de seus engajamentos políticos stalinistas, mas ele é genial. "O Ser e o Nada" é um grande livro.
Camus é infinitamente mais simpático. "O Primeiro Homem", que conta sua infância na Argélia, e a maneira como esse filho de faxineira se tornou Prêmio Nobel, é formidável. Gosto mais de Camus, mas, filosoficamente, Sartre é muito superior.

A França está declinando como dizem os pessimistas?
Toda a Europa está declinando no plano social e econômico por razões evidentes: a globalização, isto é a entrada da Índia, da China e do Brasil no jogo da concorrência econômica nos coloca um problema de "dumping social" gigantesco.
Vamos viver o declínio econômico da Europa e, ao mesmo tempo, uma vitória de seus valores morais e políticos. Que paradoxo!


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